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MINHA HISTÓRIA ABELARDO ACCETTA, 86
Seguidor do REI
Faltavam 10 minutos para o fim da Copa de 1970 quando me aproximei do campo No fim do jogo, entrei, queria extravasar minha alegria Ergui o Pelé e corri; em meio àquela felicidade, era como uma pluma
FÁBIO GRELLET
DO RIO
Faltavam dez minutos para o fim da decisão da Copa
de 1970 quando resolvi sair
da arquibancada do estádio
Azteca, na Cidade do México,
e me aproximar do campo. O
Brasil já ganhava da Itália
por 3 a 1 e eu queria comemorar, ficar perto dos jogadores
que seriam tricampeões.
Deixei a minha mulher e o
grupo de aproximadamente
20 amigos com quem havia
viajado para o México -entre
eles o árbitro Armando Marques- e escalei o alambrado,
passei pelo fosso e cheguei à
margem do gramado.
Estava tão extasiado, tão
envolvido com o jogo, que
nem me passou pela cabeça
ser barrado por algum policial. Tinha vários, armados
com cassetetes, mas ninguém tentou me impedir.
Já estava na beira do campo quando, aos 41min, Carlos Alberto recebeu de Pelé e
marcou o último gol da Copa.
Logo depois ouvi o juiz apitar, achei que o jogo havia
acabado e entrei no campo.
Alarme falso: percebi que era
só uma falta e saí rapidinho.
Quando o jogo realmente
terminou, entrei em campo
de novo. Só queria extravasar a alegria. Não planejei
sair atrás de nenhum jogador, mas o primeiro que passou por mim foi Pelé.
Eu era muito forte, fazia
halterofilismo, então ergui o
Pelé. Em meio àquela felicidade, era como uma pluma.
Coloquei-o no ombro e saí
correndo pelo campo. Depois
de uns 50 metros me faltou
fôlego, devido à altitude, e eu
caí, mas outros jogadores já
haviam se juntado a nós, como o Rivellino e o Tostão.
Anos depois, conheci o
Rei. Ele se lembrou do episódio e me deu autógrafo.
Na edição da Folha de 2 de
maio, foi publicada uma foto
em que apareço carregando
Pelé. Lá estava eu vestido
com a camisa amarela que
usei em todos os jogos da Copa, sem lavar, porque eu era
muito supersticioso.
O Mundial de 1970 foi o terceiro que acompanhei ao vivo. Quatro anos antes, tinha
ido à Inglaterra, mas não tive
sorte: o Brasil foi eliminado
logo na primeira fase.
Em 1950, testemunhei de
minha cadeira cativa no Maracanã a maior tragédia do
nosso futebol: a derrota do
Brasil para o Uruguai e a perda daquele que seria nosso
primeiro título mundial. Que
raiva senti do Ghiggia .
Mas, 20 anos depois, a
festa no México compensou
todo o sofrimento anterior.
Eu tinha 46 anos, era empresário e, com um grupo de
amigos, decidi ver mais uma
Copa do Mundo ao vivo. Ficamos hospedados no melhor hotel da Cidade do México e fretávamos um DC-3
para ir a Guadalajara nos
dias em que o Brasil jogava.
Foi nessa cidade, que a
seleção fez as suas primeiras
cinco partidas, no Jalisco .
Depois da semifinal, contra
o Uruguai, voltamos ao aeroporto e não encontramos
mais nosso avião.
Não tivemos dúvida: invadimos outro, um avião comercial que também decolaria rumo à capital mexicana.
Protesto daqui, discussão
dali, nós acabamos conseguindo uma carona. E nem
me lembro mais de qual foi a
causa do sumiço do DC-3.
Depois daquela Copa, eu
não fui a mais nenhuma.
Por aqui, porém, continuei acompanhando de perto meu Fluminense de tantas glórias. Sou sócio do clube desde 1933 e cheguei a
nadar com João Havelange,
em categorias diferentes.
Ele representou o Brasil na
natação na Olimpíada de
1936. Anos depois, tornou-
-se presidente da Fifa.
Eu fui como espectador à
Olimpíada de Roma, em
1960, e tinha um camarote
no Maracanã. Já faz mais de
20 anos que não vou ao estádio. Não tem onde estacionar agora -naquele tempo,
a gente podia deixar o carro
dentro do estádio.
Aos 86 anos, ainda acompanho pela TV todos os esportes. Na NBA , torço para o
San Antonio Spurs.
Vou ver a Copa torcendo
pelo Brasil, claro, mas, se
fosse o Dunga, teria chamado o Neymar e o Ganso.
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