São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

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MINHA HISTÓRIA ABELARDO ACCETTA, 86

Seguidor do REI

Faltavam 10 minutos para o fim da Copa de 1970 quando me aproximei do campo No fim do jogo, entrei, queria extravasar minha alegria Ergui o Pelé e corri; em meio àquela felicidade, era como uma pluma

FÁBIO GRELLET
DO RIO

Faltavam dez minutos para o fim da decisão da Copa de 1970 quando resolvi sair da arquibancada do estádio Azteca, na Cidade do México, e me aproximar do campo. O Brasil já ganhava da Itália por 3 a 1 e eu queria comemorar, ficar perto dos jogadores que seriam tricampeões.
Deixei a minha mulher e o grupo de aproximadamente 20 amigos com quem havia viajado para o México -entre eles o árbitro Armando Marques- e escalei o alambrado, passei pelo fosso e cheguei à margem do gramado.
Estava tão extasiado, tão envolvido com o jogo, que nem me passou pela cabeça ser barrado por algum policial. Tinha vários, armados com cassetetes, mas ninguém tentou me impedir.
Já estava na beira do campo quando, aos 41min, Carlos Alberto recebeu de Pelé e marcou o último gol da Copa. Logo depois ouvi o juiz apitar, achei que o jogo havia acabado e entrei no campo. Alarme falso: percebi que era só uma falta e saí rapidinho.
Quando o jogo realmente terminou, entrei em campo de novo. Só queria extravasar a alegria. Não planejei sair atrás de nenhum jogador, mas o primeiro que passou por mim foi Pelé.
Eu era muito forte, fazia halterofilismo, então ergui o Pelé. Em meio àquela felicidade, era como uma pluma. Coloquei-o no ombro e saí correndo pelo campo. Depois de uns 50 metros me faltou fôlego, devido à altitude, e eu caí, mas outros jogadores já haviam se juntado a nós, como o Rivellino e o Tostão.
Anos depois, conheci o Rei. Ele se lembrou do episódio e me deu autógrafo.
Na edição da Folha de 2 de maio, foi publicada uma foto em que apareço carregando Pelé. Lá estava eu vestido com a camisa amarela que usei em todos os jogos da Copa, sem lavar, porque eu era muito supersticioso. O Mundial de 1970 foi o terceiro que acompanhei ao vivo. Quatro anos antes, tinha ido à Inglaterra, mas não tive sorte: o Brasil foi eliminado logo na primeira fase. Em 1950, testemunhei de minha cadeira cativa no Maracanã a maior tragédia do nosso futebol: a derrota do Brasil para o Uruguai e a perda daquele que seria nosso primeiro título mundial. Que raiva senti do Ghiggia . Mas, 20 anos depois, a festa no México compensou todo o sofrimento anterior. Eu tinha 46 anos, era empresário e, com um grupo de amigos, decidi ver mais uma Copa do Mundo ao vivo. Ficamos hospedados no melhor hotel da Cidade do México e fretávamos um DC-3 para ir a Guadalajara nos dias em que o Brasil jogava. Foi nessa cidade, que a seleção fez as suas primeiras cinco partidas, no Jalisco . Depois da semifinal, contra o Uruguai, voltamos ao aeroporto e não encontramos mais nosso avião. Não tivemos dúvida: invadimos outro, um avião comercial que também decolaria rumo à capital mexicana. Protesto daqui, discussão dali, nós acabamos conseguindo uma carona. E nem me lembro mais de qual foi a causa do sumiço do DC-3. Depois daquela Copa, eu não fui a mais nenhuma. Por aqui, porém, continuei acompanhando de perto meu Fluminense de tantas glórias. Sou sócio do clube desde 1933 e cheguei a nadar com João Havelange, em categorias diferentes. Ele representou o Brasil na natação na Olimpíada de 1936. Anos depois, tornou- -se presidente da Fifa. Eu fui como espectador à Olimpíada de Roma, em 1960, e tinha um camarote no Maracanã. Já faz mais de 20 anos que não vou ao estádio. Não tem onde estacionar agora -naquele tempo, a gente podia deixar o carro dentro do estádio. Aos 86 anos, ainda acompanho pela TV todos os esportes. Na NBA , torço para o San Antonio Spurs.
Vou ver a Copa torcendo pelo Brasil, claro, mas, se fosse o Dunga, teria chamado o Neymar e o Ganso.


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