São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

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ENTREVISTA NAWAL EL MOUTAWAKEL

Fiquem atentos à Olimpíada do Rio: o tempo anda rápido

RESPONSÁVEL DO COI PARA OS JOGOS-2016 COBRA AGILIDADE PARA QUE AS OBRAS SAIAM DO PAPEL E VÊ DESAFIOS EM INFRAESTRUTURA E SEGURANÇA

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A vida de Nawal El Moutawakel, 48, é uma frequente superação de obstáculos, literalmente. Foi na prova dos 400 m com barreiras, nos Jogos de Los Angeles-1984, que tornou-se a primeira muçulmana campeã olímpica.
Aposentada, ganhou destaque no masculino mundo político do COI (Comitê Olímpico Internacional) e agora é chefe da comissão para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
É nessa posição que cobrou, em entrevista à Folha na semana passada, que o governo brasileiro, que já atrasou medidas, acelere o processo para o evento.
Ela vê grandes desafios e cita até a segurança, pouco falada pelo COI até hoje.

 

Folha - Como a senhora compara o desafio de ser chefe da comissão para o Rio-2016 com a sua carreira de atleta?
Nawal El Moutawakel -
Para mim, ter sido atleta foi a escola da vida. O esporte lhe dá força, determinação, resistência. Algumas vezes traz dificuldades porque você tem que superar cada barreira que você não necessariamente vai superar, pode cair. Você aprende a levantar.

O COI tenta aumentar a participação de mulheres como dirigentes e nos Jogos. A senhora acha que elas já têm o espaço que deveriam ter?
Há espaço para aumentar. Se for comparado o último século e hoje, há um grande avanço de mulheres em nosso movimento. Hoje as mulheres estão representadas em quase todos os esportes e significam mais de 40% dos competidores na Olimpíada. Mas ainda há sub-representação na face administrativa. Você não vê muitas mulheres presidentes de federações internacionais nem de clubes.

Como a senhora compara os desafios enfrentados por Londres-2012 e pelo Rio-2016?
Os desafios não são similares. O Rio tem desafios relacionados à acomodação, talvez com segurança, com infraestrutura e as questões de construções que têm que ficar prontas. Tantas coisas que você não pode comparar com Londres, com Atenas, com Pequim. Então, fiquem atentos aos Jogos do Rio: o tempo está andando rápido. Todo dia conta, todo minuto e toda hora. E temos que começar a trabalhar, muito rápido e de forma veloz. E também para garantir à opinião olímpica internacional que o Rio é capaz de organizar Jogos fantásticos e seguros.

A senhora acha que, pelo Brasil ser um país que nunca recebeu a Olimpíada, o Rio é mais cobrado do que cidades como Londres?
O Rio organizou um Pan bem-sucedido. Nos perguntávamos se o Rio poderia sediar aqueles Jogos. Os estádios estavam prontos. Creio que não podemos dizer que o Rio não organizou eventos.

O governo federal atrasou a criação da APO (Autoridade Pública Olímpica), responsável pelas obras. É a principal preocupação?
Não esqueça que o Rio ganhou a Olimpíada no dia 2 outubro e que três semanas depois houve um seminário de orientação. Em 2010, fui nomeada e vim com Gilbert Felli [diretor do COI].
Não acredito que houve um tempo perdido. Mas gostaria de enfatizar todo o tempo que passou, e nós precisamos ter essa APO porque, quando vim em janeiro, falamos longamente e profundamente em botar para funcionar essa organização. Antes da semana passada, nos foi garantido que essa organização estava quase pronta. E, nos próximos dias, esperamos que a velocidade seja ainda maior para começar a concretizar isso. Até o momento, uma apresentação foi feita em um nível alto de profissionalismo, mas nós precisamos acelerar o processo.

O senhores já têm a confirmação se o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., será o responsável pela APO?
No momento, o ministro Silva Jr. é o responsável por essa APO. Não sei o que vai acontecer depois. Não sei quem será. Mas estaremos felizes de continuar a trabalhar com quem quer que seja.

A senhora teme que as eleições atrapalhem?
As garantias foram dadas, e os técnicos estão aí para garantir que o trabalho continue. A cada dois anos haverá eleição. Houve eleições no Reino Unido. Em toda Olimpíada enfrentamos eleições.

Os Jogos vão mudar a cara do Rio para o mundo e para os cidadãos? Como?
Definitivamente. Quando você vê os Jogos em Barcelona, Pequim, Atenas, Vancouver e quase todas as cidades, não é a mesma cidade antes e depois. Há, definitivamente, um forte legado após os Jogos. O Rio de Janeiro terá um grande legado relativo à infraestrutura e a quase tudo.

O quão importante é para os Jogos que o Brasil tenha um bom desempenho esportivo?
O Brasil é conhecido pelo futebol. E, no futuro, o Rio será conhecido por outros esportes. Na apresentação, vi: o Brasil teve três medalhas de ouro [na última Olimpíada]? [Teve três de ouro e ficou em 23º lugar no quadro de medalhas]. O objetivo é ficar entre os dez [plano do governo federal]. Para ficar entre os dez, tem que trabalhar no nível mais baixo, escolas, processo de educação para falar dos ideais olímpicos. O Rio está tentando focar em homens e mulheres para 2016.

Por ter pouca cultura de esportes fora do futebol, o Rio enfrenta desafio similar ao da senhora na carreira por crescer em ambiente difícil?
O Rio não tem só futebol, mas é conhecido pela paixão nesse esporte. Com essa fronteira aberta, pode se organizar como quiser. Meu exemplo é o mais puro e honesto. No meu país, ninguém ouvia falar de atletismo antes de que eu competisse. Não sabiam que uma mulher podia correr. O Rio pode surpreender o mundo até 2016.


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