São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 2000


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FUTEBOL
Derrota do Brasil em julho de 1950 para o Uruguai ainda causa polêmica
Após 50 anos, fantasmas do Maracanazo se mantêm

DO ENVIADO AO RIO

E DA SUCURSAL DO RIO

Quase 50 anos depois, os fantasmas da derrota brasileira para o Uruguai, em 16 de julho de 1950, na final da Copa do Mundo daquele ano, ainda conseguem despertar atenções e causar polêmica às vésperas de um jogo entre as duas seleções.
Naquele dia, um gol do ponteiro-direito uruguaio Gigghia calou os mais de 200 mil torcedores que estavam no Maracanã, no que se transformaria na maior tragédia do futebol brasileiro e um dos maiores dramas coletivos da história do país.
Desta vez, abrindo a "guerra fria" que sempre antecedeu os confrontos com o Brasil, os uruguaios trouxeram como reforço na delegação quatro dos campeões mundiais de 1950: Gigghia, maior carrasco brasileiro naquele 16 de julho, o goleiro Maspoli e os zagueiros González e Tejera.
O jogador tido como principal responsável pela vitória uruguaia em 1950, o capitão Obdulio Varela, já está morto.
Do lado brasileiro, ao contrário, ninguém parece querer muito contato com os "sobreviventes" da tragédia de 50, até hoje associados a mau agouro.
Em 1993, os jogadores da seleção evitaram encontrar com o ex-goleiro Barbosa, morto este ano, que visitava a concentração.
Ainda assim, os vice-campeões mundiais de 1950 sempre aparecem. Mas, calejados, eles próprios evitam o contato.
Ontem à tarde, no Maracanã, enquanto a seleção brasileira se preparava para fazer o reconhecimento do gramado do Maracanã, dois ex-jogadores do time nacional deixavam o estádio.
Quem mais chamava a atenção era o ex-zagueiro Bigode, apontado, junto com o goleiro Barbosa e com Juvenal, como responsável pelo desastre de 1950.
Bigode não conseguiu acompanhar Gigghia durante sua corrida em direção à meta brasileira, que culminaria com o chute que decretou o placar de 2 a 1 em favor dos uruguaios.
Ainda foi acusado de covarde, por ter levado um tapa de Varela e não ter revidado -o que sempre negou.
"Estava há três anos sem vir aqui e um admirador meu apareceu em casa me convidando para vir ver o jogo", explicou Bigode, hoje com 78 anos e morando na casa de um amigo em São Mateus (ES).
"Não tenho mágoa do que aconteceu, mas fui massacrado", disse o ex-jogador, que imaginava que a partida seria ontem.
O ex-meia Zizinho, por sua vez, queixou-se de só ser lembrado perto de alguma efeméride relativa ao "Maracanazo", nome pelo qual ficou conhecida a derrota.
Ele ainda se mostrou irritado com o assédio da imprensa. ""Todo ano é a mesma coisa. Quando chega perto de julho, o telefone lá em casa não pára de tocar." Zizinho acabou repetindo uma frase celebrizada pelo ex-presidente João Figueiredo, ao deixar o governo. ""Eu quero que vocês (jornalistas) me esqueçam."
Na equipe brasileira, o comportamento em relação aos fantasmas de 1950 varia entre a solidariedade, traduzida num desejo de vingança, e a revolta ante a insistência em "mastigar", ainda hoje, as reminiscências.
O meia-atacante Rivaldo, que fará hoje o seu primeiro jogo com a camisa da seleção no Maracanã, chegou a prometer uma boa atuação como uma forma de vingar a derrota de 1950. "Como está perto dos 50 anos, seria bom, já que aquilo ainda hoje está engasgado em muita gente."
O técnico Wanderley Luxemburgo e o consultor Candinho não têm o mesmo desprendimento. O segundo chegou a classificar o debate de "saudosismo idiota". Já o treinador disse que aquele jogo é apenas história.
Do time titular que entrará em campo hoje, apenas Cafu, Antônio Carlos, Aldair e Roberto Carlos já defenderam a seleção no mais famoso estádio brasileiro.
O próprio Luxemburgo, no comando da seleção desde 1998, debutará pelo Brasil no Maracanã, e admite que a situação tem lhe causado grande expectativa. "Estou com um friozinho na barriga", disse ontem. (FÁBIO VICTOR E SÉRGIO RANGEL)

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