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FUTEBOL
Derrota do Brasil em julho de 1950 para o Uruguai ainda causa polêmica
Após 50 anos, fantasmas do Maracanazo se mantêm
DO ENVIADO AO RIO
E DA SUCURSAL DO RIO
Quase 50 anos depois, os fantasmas da derrota brasileira para o
Uruguai, em 16 de julho de 1950,
na final da Copa do Mundo daquele ano, ainda conseguem despertar atenções e causar polêmica
às vésperas de um jogo entre as
duas seleções.
Naquele dia, um gol do ponteiro-direito uruguaio Gigghia calou
os mais de 200 mil torcedores que
estavam no Maracanã, no que se
transformaria na maior tragédia
do futebol brasileiro e um dos
maiores dramas coletivos da história do país.
Desta vez, abrindo a "guerra
fria" que sempre antecedeu os
confrontos com o Brasil, os uruguaios trouxeram como reforço
na delegação quatro dos campeões mundiais de 1950: Gigghia,
maior carrasco brasileiro naquele
16 de julho, o goleiro Maspoli e os
zagueiros González e Tejera.
O jogador tido como principal
responsável pela vitória uruguaia
em 1950, o capitão Obdulio Varela, já está morto.
Do lado brasileiro, ao contrário,
ninguém parece querer muito
contato com os "sobreviventes"
da tragédia de 50, até hoje associados a mau agouro.
Em 1993, os jogadores da seleção evitaram encontrar com o ex-goleiro Barbosa, morto este ano,
que visitava a concentração.
Ainda assim, os vice-campeões
mundiais de 1950 sempre aparecem. Mas, calejados, eles próprios
evitam o contato.
Ontem à tarde, no Maracanã,
enquanto a seleção brasileira se
preparava para fazer o reconhecimento do gramado do Maracanã,
dois ex-jogadores do time nacional deixavam o estádio.
Quem mais chamava a atenção
era o ex-zagueiro Bigode, apontado, junto com o goleiro Barbosa e
com Juvenal, como responsável
pelo desastre de 1950.
Bigode não conseguiu acompanhar Gigghia durante sua corrida
em direção à meta brasileira, que
culminaria com o chute que decretou o placar de 2 a 1 em favor
dos uruguaios.
Ainda foi acusado de covarde,
por ter levado um tapa de Varela e
não ter revidado -o que sempre
negou.
"Estava há três anos sem vir
aqui e um admirador meu apareceu em casa me convidando para
vir ver o jogo", explicou Bigode,
hoje com 78 anos e morando na
casa de um amigo em São Mateus
(ES).
"Não tenho mágoa do que
aconteceu, mas fui massacrado",
disse o ex-jogador, que imaginava
que a partida seria ontem.
O ex-meia Zizinho, por sua vez,
queixou-se de só ser lembrado
perto de alguma efeméride relativa ao "Maracanazo", nome pelo
qual ficou conhecida a derrota.
Ele ainda se mostrou irritado
com o assédio da imprensa. ""Todo ano é a mesma coisa. Quando
chega perto de julho, o telefone lá
em casa não pára de tocar." Zizinho acabou repetindo uma frase
celebrizada pelo ex-presidente
João Figueiredo, ao deixar o governo. ""Eu quero que vocês (jornalistas) me esqueçam."
Na equipe brasileira, o comportamento em relação aos fantasmas de 1950 varia entre a solidariedade, traduzida num desejo de
vingança, e a revolta ante a insistência em "mastigar", ainda hoje,
as reminiscências.
O meia-atacante Rivaldo, que
fará hoje o seu primeiro jogo com
a camisa da seleção no Maracanã,
chegou a prometer uma boa atuação como uma forma de vingar a
derrota de 1950. "Como está perto dos 50 anos, seria bom, já que
aquilo ainda hoje está engasgado
em muita gente."
O técnico Wanderley Luxemburgo e o consultor Candinho
não têm o mesmo desprendimento. O segundo chegou a classificar o debate de "saudosismo
idiota". Já o treinador disse que
aquele jogo é apenas história.
Do time titular que entrará em
campo hoje, apenas Cafu, Antônio Carlos, Aldair e Roberto Carlos já defenderam a seleção no
mais famoso estádio brasileiro.
O próprio Luxemburgo, no comando da seleção desde 1998, debutará pelo Brasil no Maracanã, e
admite que a situação tem lhe
causado grande expectativa. "Estou com um friozinho na barriga", disse ontem.
(FÁBIO VICTOR E SÉRGIO RANGEL)
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