São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 2002

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O melhor jogador da Copa?

Associated Press
Oliver Kahn, goleiro da Alemanha, que levou apenas um gol neste mundial


O duelo entre 44 pés atrás de uma bola pode eleger, na Ásia, como seu melhor jogador, alguém que usa as mãos. Oliver Kahn, 33, da Alemanha, se transformou na figura mais decisiva das campanhas dos finalistas do Mundial. Ele tomou só um gol na Copa e tornou-se o único goleiro a ser indicado para o prêmio. Kahn tem explicação para isso: "Hoje, o jogo é corrido. Então, fica difícil para os atletas de linha aparecerem. Não há tempo para dominar a bola, pois já vêm dois ou três em cima."

DO ENVIADO A SEUL

Em fevereiro deste ano, num jogo do Alemão, o Bayern de Munique, que vencia por 6 a 0, teve um pênalti a seu favor no último minuto. Oliver Kahn foi cobrar. Queria marcar um gol por seu seu clube. Foi até a área adversária e bateu. A bola explodiu na trave.
Sua fama, porém, continuou a crescer, o que marca sua distância em relação aos goleiros que ficaram famosos nas últimas Copas não exatamente por suas defesas. Kahn é diferente de Goycoechea, o pegador de pênaltis, e de Chilavert, o exímio cobrador de faltas.
"Fazer um gol de pênalti seria algo extraordinário. Mas não é minha missão", afirma o alemão.
Se é assim, parece que as coisas têm dado certo para ele.
"O que Kahn defendeu nesta Copa, eu nunca tinha visto antes", disse Franz Beckenbauer. "Não há dúvida de que ele é o melhor goleiro do mundo há três anos", afirmou Sepp Maier, um dos melhores goleiros da história, que hoje é técnico de Kahn no Bayern de Munique e na seleção.
A relação de Maier com Kahn começou quando o último tinha sete anos e lhe deram um jogo de camisa do então ídolo nacional.
O goleiro começou a apostar em sua carreira sob as traves, num clube de sua cidade, o Karlsruher. Em 1994, foi para o Bayern e passou a trabalhar com Maier, que disse poder lhe ensinar a fazer muitas coisas, menos uma: sorrir.
Kahn demorou um pouco para se livrar do apelido de "Gorila" e ganhar a alcunha de "Mr. Confiável" e a braçadeira de capitão alemão. Trocou seu lado irritadiço pelos livros de psicologia. Aproveitou um período de contusão para fazer um curso de economia por correspondência. Hoje, diverte-se surfando na internet e aplicando no mercado financeiro seu salário, o maior do futebol alemão (cerca de US$ 5 milhões anuais).
No domingo, leva a campo sua autoconfiança. "Tenho respeito por Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, que são fantásticos, mas eles ainda têm que me vencer", diz.
Nesta Copa, só o irlandês Robbie Keane o superou, na segunda rodada. Depois disso, Kahn parou tudo que apareceu, incluindo um bombardeio pesado do americano Donovan nas quartas-de-final.
Diz que fica "orgulhoso" com os elogios, mas recusa o papel de responsável único por levar o time à final. "A defesa e o ataque trabalharam muito", conta o goleiro.
Reserva nas duas últimas Copas, ele tem, aos 33 anos, o que pode muito bem ser sua última chance. Na primeira fase, quando a Alemanha estava no Japão, chegou a dizer que não via diferença entre o Mundial e as competições com o Bayern. Já mudou de idéia.
"Revi minha posição. É extraordinário. Quando você repara nos milhões de pessoas que vêem isso, se dá conta do que faz aqui."
Com a campanha neste Mundial, os elogios à seleção foram aparecendo. "O que me motiva é mostrar que nossos críticos estavam errados", afirma Kahn.
A torcida também mudou. Antes, ele era vaiado. Até uma bola de golfe na cabeça lhe atiraram, o que o deixou ensanguentado e furioso. Um episódio que o ajudou a domar sua rebeldia e a virar símbolo de estabilidade para os companheiros. Kahn partiu então para a fama, consagrada nesta Copa. Como o mundo agora sabe, ele adora jogar golfe. (ROBERTO DIAS)



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