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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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MOTOR

Todinho

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Jean Todt completa dez anos de Ferrari na terça-feira, dia 1º de julho. É tido como o grande regente da escuderia italiana, que hoje em nada lembra o time em frangalhos que recebeu na metade de 1993. É um exagero. Os méritos cabem ao solista, o alemão. Mas o francês merece seu salário: foi quem contratou Schumacher.
Os números comprovam a inflexão provocada pela presença do piloto. No primeiro ano, Todt não viu o time vencer. No seguinte, tentou a primeira estrutura profissional na confusão de Maranello, mas tendo como expoente o projetista John Barnard. Venceu só uma, com Berger, na Alemanha, encerrando longo jejum.
Em 1995, mais uma, no Canadá. Nas últimas voltas, Alesi molhou a viseira com as próprias lágrimas por força das freadas -nessa corrida, também aos prantos, Barrichello subiu ao pódio pela primeira vez. Foi uma espécie de último capítulo da emoção que pautou a Ferrari por tantas temporadas. A grande cartada de Todt estava pronta. Viria a público semanas mais tarde. Um acordo maluco entre Shell, Philip Morris e Ferrari para pagar o que nunca se pagou para um piloto, mais de US$ 30 milhões entre salários e contratos de patrocínio.
Três vitórias em 1996, cinco em 1997, seis em 1998, seis em 1999, dez em 2000, nove em 2001, 15 em 2002, quatro neste ano; 60 em uma década, 58 pós-Schumacher. Ou 1.260 pontos, 172 antes do alemão. Ou quatro títulos de construtores, três de pilotos, todos para um, para ele, o pentacampeão.
Todt pode até não ter sido o grande responsável, mas foi sob sua administração que a Ferrari encontrou seu melhor funcionário. E haja confete. Em Nurburgring, o piloto derramou-se, creditando o sucesso não a aclamada era Schumacher, mas a profissional era Todt. Em artigo, na Itália, Luca Montezemolo preferiu revelar que o francês cometeu um único erro em todos esses anos: no dia em que foi contratado, chegou a Maranello dirigindo um modelo da Mercedes, pecado capital.
Pilotar não é mesmo seu forte. Todt era navegador (fez dupla com Owe Anderson, hoje chefão da Toyota), o que bate com seu perfil calmo e organizado. No rali, aliás, ganhou fama como dirigente e extensa folha corrida.
No começo dos anos 80, foi o responsável pela montagem do time Peugeot-Talbot, conquistando o bicampeonato de pilotos e de construtores em 1985/86. Deixou o Mundial ao lado da fábrica para disputar o Paris-Dacar, onde ganhou quatro edições, ajudando a popularizar o evento.
Em 1992, um ano antes de assumir a Ferrari, ganhou as 24 Horas de Le Mans e o Mundial de Protótipos para fechar uma década histórica para a fábrica francesa.
Na seguinte, que finda na próxima terça, escreveu outra história, desta vez para a Ferrari, com a competência de praxe, mas também com arrogância, mau humor e frieza além do razoável.
Todt foi o homem que decidiu um Dacar na base da moedinha. Foi também quem mandou Barrichello abrir para Schumacher na Áustria, a grande marmelada.
É difícil fazer história. Mas difícil mesmo é sair dela limpo.

BMW x Williams
O final feliz revelado ontem na Alemanha põe fim a uma novela de capítulos tensos. No começo da temporada, o clima entre as partes ficou tão ruim que engenheiros da BMW penduraram a figura de uma tartaruga dentro de um dos caminhões, em alusão ao pífio desempenho do novo carro. Terminou com a saída de Berger, que defendia um time próprio para Munique, e Patrick Head permitindo forte intervenção da montadora em seu departamento de projetos. Agora vai? Parece que já foi. O carro começou a andar em Mônaco, lembra?

Língua solta
Irvine só parou de correr. Em coluna no "The Sun", chamou Ralf de "chicken" por sua, com perdão do trocadilho, "postura" no Canadá e disse que não é a primeira vez que o caçula não dá combate ao irmão.


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