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MOTOR
Todinho
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Jean Todt completa dez anos
de Ferrari na terça-feira, dia 1º
de julho. É tido como o grande regente da escuderia italiana, que
hoje em nada lembra o time em
frangalhos que recebeu na metade de 1993. É um exagero. Os méritos cabem ao solista, o alemão.
Mas o francês merece seu salário:
foi quem contratou Schumacher.
Os números comprovam a inflexão provocada pela presença do
piloto. No primeiro ano, Todt não
viu o time vencer. No seguinte,
tentou a primeira estrutura profissional na confusão de Maranello, mas tendo como expoente o
projetista John Barnard. Venceu
só uma, com Berger, na Alemanha, encerrando longo jejum.
Em 1995, mais uma, no Canadá. Nas últimas voltas, Alesi molhou a viseira com as próprias lágrimas por força das freadas
-nessa corrida, também aos
prantos, Barrichello subiu ao pódio pela primeira vez. Foi uma espécie de último capítulo da emoção que pautou a Ferrari por tantas temporadas. A grande cartada de Todt estava pronta. Viria a
público semanas mais tarde. Um
acordo maluco entre Shell, Philip
Morris e Ferrari para pagar o que
nunca se pagou para um piloto,
mais de US$ 30 milhões entre salários e contratos de patrocínio.
Três vitórias em 1996, cinco em
1997, seis em 1998, seis em 1999,
dez em 2000, nove em 2001, 15 em
2002, quatro neste ano; 60 em
uma década, 58 pós-Schumacher.
Ou 1.260 pontos, 172 antes do alemão. Ou quatro títulos de construtores, três de pilotos, todos para um, para ele, o pentacampeão.
Todt pode até não ter sido o
grande responsável, mas foi sob
sua administração que a Ferrari
encontrou seu melhor funcionário. E haja confete. Em Nurburgring, o piloto derramou-se, creditando o sucesso não a aclamada era Schumacher, mas a profissional era Todt. Em artigo, na Itália, Luca Montezemolo preferiu
revelar que o francês cometeu um
único erro em todos esses anos: no
dia em que foi contratado, chegou
a Maranello dirigindo um modelo da Mercedes, pecado capital.
Pilotar não é mesmo seu forte.
Todt era navegador (fez dupla
com Owe Anderson, hoje chefão
da Toyota), o que bate com seu
perfil calmo e organizado. No rali, aliás, ganhou fama como dirigente e extensa folha corrida.
No começo dos anos 80, foi o
responsável pela montagem do time Peugeot-Talbot, conquistando o bicampeonato de pilotos e de
construtores em 1985/86. Deixou
o Mundial ao lado da fábrica para disputar o Paris-Dacar, onde
ganhou quatro edições, ajudando
a popularizar o evento.
Em 1992, um ano antes de assumir a Ferrari, ganhou as 24 Horas
de Le Mans e o Mundial de Protótipos para fechar uma década histórica para a fábrica francesa.
Na seguinte, que finda na próxima terça, escreveu outra história, desta vez para a Ferrari, com
a competência de praxe, mas
também com arrogância, mau
humor e frieza além do razoável.
Todt foi o homem que decidiu
um Dacar na base da moedinha.
Foi também quem mandou Barrichello abrir para Schumacher
na Áustria, a grande marmelada.
É difícil fazer história. Mas difícil mesmo é sair dela limpo.
BMW x Williams
O final feliz revelado ontem na Alemanha põe fim a uma novela de
capítulos tensos. No começo da temporada, o clima entre as partes ficou tão ruim que engenheiros da BMW penduraram a figura de uma
tartaruga dentro de um dos caminhões, em alusão ao pífio desempenho do novo carro. Terminou com a saída de Berger, que defendia
um time próprio para Munique, e Patrick Head permitindo forte intervenção da montadora em seu departamento de projetos. Agora
vai? Parece que já foi. O carro começou a andar em Mônaco, lembra?
Língua solta
Irvine só parou de correr. Em coluna no "The Sun", chamou Ralf de
"chicken" por sua, com perdão do trocadilho, "postura" no Canadá e
disse que não é a primeira vez que o caçula não dá combate ao irmão.
E-mail mariante@uol.com.br
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