São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010

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JUCA KFOURI

No túnel do tempo


Impressionante e de arrepiar: 44 anos depois, Lampard repete Hurst, com o sinal trocado

O JOGO, em homenagem ao futebol, deveria ter sido encerrado pelo árbitro uruguaio no 25º minuto do segundo tempo, quando a Alemanha fez 4 a 1.
O jogo mais esperado das oitavas de final começou fácil para os alemães, que, com meia hora, já venciam por 2 a 0 e poderiam até estar com três gols de vantagem. A defesa inglesa mais parecia um queijo suíço, e estava até chato, porque não era aquilo que se esperava de tamanho embate.
Eis que uma bola vadia, alçada na área germânica, foi alcançada pelo zagueiro inglês que tinha falhado no primeiro gol alemão, nascido de um lançamento do goleiro, que falhou no gol britânico. O acaso devolvia a esperança de que houvesse disputa. Só que o que se viu daí em diante, e a partir do minuto seguinte, foi dessas coisas que só o futebol proporciona e de deixar incrédulos aqueles que viram a decisão da Copa de 1966, na Inglaterra.
Porque Lampard enfiou por cobertura uma bola que foi ao travessão e caiu meio metro dentro do gol. Mas a arbitragem uruguaia fez o contrário do que o bandeirinha azerbaijano decidiu 44 anos atrás, quando o inglês Hurst, na prorrogação do jogo que estava 2 a 2, teve validado o gol decisivo cuja bola jamais se soube, ou se saberá, se entrou mesmo no gol alemão, embora pareça não ter entrado.
Era como entrar numa máquina do tempo. Em vez do italiano Fabio Capello ou do inglês Alf Ramsey, os técnicos de hoje e de então do time inglês, foi o escritor francês Julio Verne quem veio à lembrança.
Como pode acontecer de novo algo tão parecido? Como se repete a história mesmo? É, veio à cabeça, ainda, o alemão Karl Marx. Tragédia e farsa ou farsa e tragédia?
E a Inglaterra voltou com tudo no segundo tempo, com nova bola no travessão do mesmo Lampard e tanta pressão que parecia estar perto de fazer justiça, empatar em 2 a 2 e levar o jogo, que já superava as expectativas, também para uma sensacional prorrogação.
Mas a Alemanha, em dois contra-ataques fulminantes, liquidou com o jogo de maneira tão cirúrgica que, se fosse possível, o árbitro deveria ter pedido a bola, pedido desculpas aos ingleses e apitado o fim do jogo. Em homenagem à liturgia do próprio jogo, que já tinha ido além do que dele se poderia exigir. O jogo da Copa.

blogdojuca@uol.com.br


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