São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Após seleção derrotar a Argentina, técnico diz que sempre esteve certo
Redenção mantém intacta soberba de Luxemburgo

DA REPORTAGEM LOCAL

A vitória por 3 a 1 sobre a Argentina, na primeira apresentação convincente da seleção brasileira nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, anteontem à noite, no estádio do Morumbi, foi desprezada por quem, teoricamente, deveria ser o mais aliviado com o resultado.
Após a partida, o técnico Wanderley Luxemburgo, alegando estar com "pés no chão", encarou a vitória sobre o mais tradicional rival brasileiro como um resultado comum e, em meio a euforia dos seus jogadores, fazia força para se mostrar impassível.
"A comissão técnica já estava tranquila. Não ficamos nem mais nem menos tranquilos (com a vitória). Estamos sossegados", afirmou o treinador.
Questionado se considerava estar "no passo certo", Luxemburgo continuou na linha da soberba: "Sempre estive. A derrota faz parte da competição e eu nunca me apavorei com ela".
E prosseguiu, ao ser indagado sobre que aprendizados a vitória, num momento delicado como o que a seleção vivia, poderia ter trazido: "Não tive aprendizado. É uma coisa que acontece na vida de um profissional. Já tive outros momentos tão difíceis quanto esse. Não aprendi nada. Só vou amadurecendo a cada dia que vai passando e calejando um pouquinho mais. Eu sempre digo que sou que nem vara de marmelo: envergo mas não quebro".
Na verdade, o desdém de Luxemburgo não passa de "estilo", já que a vitória sobre a Argentina foi redentora para o Brasil.
A seleção vinha de uma derrota para o Paraguai -a segunda do time nacional na história das eliminatórias-, estava em quinto lugar (fora, portanto, da zona de classificação para a Copa-2002) e era alvo de críticas unânimes da torcida e da mídia.
Havia, inclusive, especulações de que uma derrota anteontem para a Argentina, dependendo do placar e das circunstâncias, poderia ser a gota d'água para a demissão de Luxemburgo.
Com o resultado do Morumbi, a seleção pulou para o segundo lugar -situação que, em contraste com o comportamento de Luxemburgo, deixou otimistas os jogadores do Brasil.
"A vitória não deixa a gente com o pé na Copa, mas com certeza a motivação volta. O torcedor brasileiro começa a confiar de novo na seleção, porque a Argentina era a favorita, com 100% de aproveitamento, e vencemos", declarou o volante Vampeta, autor de dois gols e destaque da vitória. O meia Alex marcou o outro gol da seleção.
"A gente estava precisando de uma vitória como essa. Foi muito importante para dar mais confiança ao grupo", completou o meia-atacante Rivaldo.
Para justificar sua cautela, o técnico fez uma análise cultural do comportamento do torcedor.
"No Brasil é assim. Você trabalha 90 minutos e sai do céu ao inferno com muita rapidez. Em 90 minutos esquecem um trabalho de dois anos. No Brasil é dessa forma."
Repetindo o que dissera antes do jogo, ele afirmou estar esperando outros resultados negativos da seleção.
Pelos cálculos da comissão técnica da seleção, o Brasil precisa de 35 pontos para garantir uma vaga na Copa-2002. Por isso, Luxemburgo e o consultor técnico Candinho vêm afirmando, desde o início das eliminatórias, que cerca de três derrotas estão "dentro do planejamento" da seleção.
"Falo com toda a clareza da experiência que nós temos. O Brasil pode voltar a perder e empatar nas eliminatórias e nós vamos sofrer sempre um pouco. Não vai ser agora, porque ganhamos da Argentina, que ficou tudo maravilhoso, que vamos ficar invicto até o final do torneio."
Outro reflexo da pequena reviravolta motivada pela vitória sobre a Argentina pôde ser vista nas arquibancadas do Morumbi.
A torcida paulistana, tradicionalmente hostil com a seleção (nos dois últimos jogos, o Brasil, apesar de vencer, foi vaiado), apoiou a equipe durante toda a partida. A única exceção, em um momento específico do jogo, foi o próprio Luxemburgo.
Ao trocar, aos 30min do segundo tempo, o meia Alex, até ali um dos destaques do jogo, pelo volante César Sampaio, o técnico foi chamado de "burro" pela torcida.
Questionado se a manifestação seria fruto da cultura "insaciável" do torcedor brasileiro ou de implicância com o técnico, Luxemburgo respondeu: "Implicância comigo? Acho normal o que aconteceu. Não mexeu com minha cabeça. O torcedor é dessa forma. Achei que a atitude do torcedor durante 90 minutos foi muito mais importante de que na hora que eu fiz a substituição e me chamaram de burro. O torcedor tem que ser elogiada por aquilo que ele fez durante o jogo todo e não só por aquilo que ele fez comigo". (FÁBIO VICTOR)


Texto Anterior: Real Madrid confirma venda de Redondo
Próximo Texto: Data de partida contra o Chile está indefinida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.