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FUTEBOL
Após seleção derrotar a Argentina, técnico diz que sempre esteve certo
Redenção mantém intacta
soberba de Luxemburgo
DA REPORTAGEM LOCAL
A vitória por 3 a 1 sobre a Argentina, na primeira apresentação convincente da seleção brasileira nas eliminatórias da Copa do
Mundo de 2002, anteontem à noite, no estádio do Morumbi, foi
desprezada por quem, teoricamente, deveria ser o mais aliviado
com o resultado.
Após a partida, o técnico Wanderley Luxemburgo, alegando estar com "pés no chão", encarou a
vitória sobre o mais tradicional rival brasileiro como um resultado
comum e, em meio a euforia dos
seus jogadores, fazia força para se
mostrar impassível.
"A comissão técnica já estava
tranquila. Não ficamos nem mais
nem menos tranquilos (com a vitória). Estamos sossegados", afirmou o treinador.
Questionado se considerava estar "no passo certo", Luxemburgo continuou na linha da soberba: "Sempre estive. A derrota faz
parte da competição e eu nunca
me apavorei com ela".
E prosseguiu, ao ser indagado
sobre que aprendizados a vitória,
num momento delicado como o
que a seleção vivia, poderia ter
trazido: "Não tive aprendizado. É
uma coisa que acontece na vida
de um profissional. Já tive outros
momentos tão difíceis quanto esse. Não aprendi nada. Só vou
amadurecendo a cada dia que vai
passando e calejando um pouquinho mais. Eu sempre digo que
sou que nem vara de marmelo:
envergo mas não quebro".
Na verdade, o desdém de Luxemburgo não passa de "estilo",
já que a vitória sobre a Argentina
foi redentora para o Brasil.
A seleção vinha de uma derrota
para o Paraguai -a segunda do
time nacional na história das eliminatórias-, estava em quinto
lugar (fora, portanto, da zona de
classificação para a Copa-2002) e
era alvo de críticas unânimes da
torcida e da mídia.
Havia, inclusive, especulações
de que uma derrota anteontem
para a Argentina, dependendo do
placar e das circunstâncias, poderia ser a gota d'água para a demissão de Luxemburgo.
Com o resultado do Morumbi,
a seleção pulou para o segundo
lugar -situação que, em contraste com o comportamento de Luxemburgo, deixou otimistas os
jogadores do Brasil.
"A vitória não deixa a gente
com o pé na Copa, mas com certeza a motivação volta. O torcedor brasileiro começa a confiar de
novo na seleção, porque a Argentina era a favorita, com 100% de
aproveitamento, e vencemos",
declarou o volante Vampeta, autor de dois gols e destaque da vitória. O meia Alex marcou o outro gol da seleção.
"A gente estava precisando de
uma vitória como essa. Foi muito
importante para dar mais confiança ao grupo", completou o
meia-atacante Rivaldo.
Para justificar sua cautela, o técnico fez uma análise cultural do
comportamento do torcedor.
"No Brasil é assim. Você trabalha 90 minutos e sai do céu ao inferno com muita rapidez. Em 90
minutos esquecem um trabalho
de dois anos. No Brasil é dessa
forma."
Repetindo o que dissera antes
do jogo, ele afirmou estar esperando outros resultados negativos da seleção.
Pelos cálculos da comissão técnica da seleção, o Brasil precisa de
35 pontos para garantir uma vaga
na Copa-2002. Por isso, Luxemburgo e o consultor técnico Candinho vêm afirmando, desde o
início das eliminatórias, que cerca
de três derrotas estão "dentro do
planejamento" da seleção.
"Falo com toda a clareza da experiência que nós temos. O Brasil
pode voltar a perder e empatar
nas eliminatórias e nós vamos sofrer sempre um pouco. Não vai
ser agora, porque ganhamos da
Argentina, que ficou tudo maravilhoso, que vamos ficar invicto
até o final do torneio."
Outro reflexo da pequena reviravolta motivada pela vitória sobre a Argentina pôde ser vista nas
arquibancadas do Morumbi.
A torcida paulistana, tradicionalmente hostil com a seleção
(nos dois últimos jogos, o Brasil,
apesar de vencer, foi vaiado),
apoiou a equipe durante toda a
partida. A única exceção, em um
momento específico do jogo, foi o
próprio Luxemburgo.
Ao trocar, aos 30min do segundo tempo, o meia Alex, até ali um
dos destaques do jogo, pelo volante César Sampaio, o técnico foi
chamado de "burro" pela torcida.
Questionado se a manifestação
seria fruto da cultura "insaciável"
do torcedor brasileiro ou de implicância com o técnico, Luxemburgo respondeu: "Implicância
comigo? Acho normal o que
aconteceu. Não mexeu com minha cabeça. O torcedor é dessa
forma. Achei que a atitude do torcedor durante 90 minutos foi
muito mais importante de que na
hora que eu fiz a substituição e
me chamaram de burro. O torcedor tem que ser elogiada por
aquilo que ele fez durante o jogo
todo e não só por aquilo que ele
fez comigo".
(FÁBIO VICTOR)
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