São Paulo, Quarta-feira, 28 de Julho de 1999
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Retrocesso

Luxemburgo, surpreendentemente, colocou a equipe brasileira, no primeiro tempo, contra a Alemanha (o que deve repetir hoje), jogando no mesmo esquema tático da seleção de 94. Ele armou o time com dois volantes (Emerson e Flávio Conceição), um armador de cada lado (Vampeta e Zé Roberto), com funções mais defensivas do que ofensivas.
Nesse esquema, a defesa fica melhor protegida pelos quatro armadores.
A deficiência principal, evidenciada no primeiro tempo contra a Alemanha, é o isolamento dos atacantes, já que não existe um jogador de ligação entre o meio-campo e o ataque.
Após o título da Copa-94 todos os times brasileiros passaram a jogar dessa maneira. Com o tempo, para corrigir essa deficiência, os técnicos deslocaram o armador do lado direito para jogar livre, próximo aos atacantes. Foi o que aconteceu na Copa América e no segundo tempo contra a Alemanha, após a entrada do Alex.
Atuando assim as equipes ficam mais ofensivas, mas também tortas. Essa é uma das causas de não se ter bons laterais-direitos, já que não existe uma dupla deste lado, como acontece no lado esquerdo.
Uma das alternativas para resolver os problemas dos dois esquemas anteriores, é o de escalar somente um volante e um armador de cada lado, formando um triângulo ou um losango, com o jogador de ligação com os atacantes ocupando a outra ponta.
O time fica mais bem dividido na defesa e no ataque, desde que os armadores defendam e ataquem com a mesma eficiência.
Como se vê, não existe um esquema tático ideal. Todas as opções têm qualidades e defeitos. Se o time repetir hoje, contra os EUA, o mesmo esquema do primeiro tempo contra a Alemanha e jogar bem, corre-se o risco desta formação se tornar uma regra e não uma opção.
Seria um retrocesso que não combina bem com a história e discurso moderno do técnico Luxemburgo.

O futuro chegou

Os últimos trinta minutos da seleção brasileira contra a Alemanha, após a formação da dupla Alex e Ronaldinho e a entrada do Warley no lugar do Christian, foram excepcionais.
Foi o confronto entre o futuro -que já é presente- desses jovens jogadores e o ocaso e o fim da atual seleção alemã, personificado na lendária e decadente presença do Matthäus em campo.
Alex é um jogador de poucas, mas de decisivas jogadas. Ele passa e finaliza bem nos momentos certos. Esta qualidade é que define um ótimo jogador dessa posição e não os dribles repetitivos e ineficientes de muitos pseudo-craques. Falta-lhe maior velocidade em curtos e médios espaços.
Quando a bola chega ao Ronaldinho tudo se ilumina. O que é difícil, complexo, escuro e nebuloso, se torna transparente, brilhante, fácil e simples. O seu olhar em campo é mais profundo e extenso que o dos outros. Ele consegue enxergar o óbvio. No entanto, falta ao jogador maior rapidez na seqüência do drible com a finalização.
Nada muda se esses garotos entrarem e não jogarem bem hoje contra os EUA. A carreira inicial de todos os jovens é marcada pela irregularidade.
O futuro já chegou. A seleção brasileira, com a associação da inteligência, da visão e antevisão do jogo, do passe rápido e correto na hora certa desses garotos, com a habilidade, velocidade, experiência e força física da dupla Rivaldo e Ronaldo, vai brilhar intensamente nos próximos anos e na Copa-2002.
O time ainda tem a opção de dois excepcionais jogadores (Amoroso e Élber). Basta acertar o sistema defensivo. Estou vendo o título mundial na minha frente.

O Grêmio colocou uma faixa no seu estádio, em português e em inglês, dizendo que o Ronaldinho não está à venda. O clube sabe que o jogador pode ser o condutor na formação de um grande time. No entanto, um grande jogador, para mostrar todo o seu talento, precisa ter ao seu lado outros excepcionais atletas.

Quem não assistiu à partida São Paulo 5x1 Atlético-MG pensa que o time paulista fez uma excepcional partida. Pelo contrário, jogou mal. Com este mesmo futebol, não tem chances de ganhar o título brasileiro. O Galo foi um desastre, principalmente na defesa.

Cruzeiro e Botafogo começam hoje o sonho de vencer o Brasileiro. O time mineiro nunca ganhou esse título e será mais difícil sem a presença do Dida e do João Carlos. O clubecarioca tem tradição, mas não tem qualidade individual.

Ronaldo é acusado de ser cliente de uma agência de prostituição na Itália. Qual é o pecado e o crime para um jovem rico e famoso, de 23 anos? Woody Allen, no seu filme "Descontruindo Harry", mostra uma cena em que seu amigo pergunta por que ele contrata prostitutas para ir ao seu apartamento. Ele responde: "Porque não preciso falar de Proust nem de cinema". Ronaldo também não quer falar de futebol nem de outras coisas.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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