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ATLETISMO
Ouro dos 400 m testou para um esteróide em 1999 e não foi punido
Mundial de Paris premia doping que EUA ocultaram
ADALBERTO LEISTER FILHO
MARCELO SAKATE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após ganhar a medalha
de ouro nos 400 m do Mundial de
Paris, o norte-americano Jerome
Young, 27, foi desmascarado.
Embora tenha testado positivo
para um esteróide anabólico em
1999, não recebeu punição e foi
campeão do revezamento 4 x 400
m na Olimpíada de Sydney-2000.
A revelação foi feita pelo "Los
Angeles Times" na edição de ontem, com base em depoimentos
de funcionários da federação
americana da modalidade
(USATF, na sigla em inglês) e documentos obtidos pelo jornal. E
repercutiu entre os principais dirigentes do esporte, que trataram
o caso como fato consumado.
"Havia suspeitas sobre todos os
atletas americanos [do revezamento]. Sabíamos com certeza
que havia um caso positivo entre
eles", disse o presidente do COI
(Comitê Olímpico Internacional),
o belga Jacques Rogge.
A Agência Mundial Antidoping
(Wada) anunciou que irá pedir
ao COI uma "investigação completa" sobre o caso e a cassação da
medalha. "A legitimidade da vitória dos EUA em Sydney foi destruída. Para mim, a USATF deliberadamente ignorou as regras",
afirmou o presidente da entidade,
o canadense Richard Pound.
Segundo os documentos,
Young se submeteu a exames que
deram negativo em 12 de junho e
2 de julho de 1999. Porém, no dia
26 de junho, o resultado apontou
a presença de norandrosterona, a
metabolização no organismo da
nandrolona, substância proibida
pelo COI e que aumenta a força e
a potência musculares.
Após a confirmação do positivo, uma comissão foi convocada
para tratar do caso, em março de
2000. Em abril, a USATF teria
suspendido um atleta, cujo nome
não foi revelado. Depois de ouvir
Young, a entidade teria decidido
relegar o caso, em 10 de julho.
Seis dias mais tarde, Young participou das seletivas americanas
para Sydney e ficou em quarto
nos 400 m. Embora não tenha obtido vaga individual, conseguiu se
garantir no revezamento.
Young, que ganhara anteontem
pela primeira vez um ouro mundial em prova individual, não se
pronunciou. Ele está inscrito para
o 4 x 400 m no sábado -já foi
campeão mundial em 1997 e 2001.
A comissão técnica dos EUA disse que desconhecia o fato.
A USATF afirmou que não se
pronuncia sobre "casos arquivados". "Esse episódio foi um dos
ocorridos entre 1996 e 2000", disse em Paris o porta-voz da entidade, Jill Geer. Ele fez referência aos
13 atletas que não passaram no
antidoping nesse período e cujos
nomes foram mantidos em segredo porque foram absolvidos.
Esse episódio veio à tona em
2001. Apesar da requisição da Iaaf
para que os nomes fossem revelados, a USATF se recusou e levou o
caso para a Corte de Arbitragem
do Esporte, órgão que é a última
instância para julgamentos. Este
julgou a favor dos americanos.
Órgão máximo do atletismo, a
Iaaf anunciou ontem considerar
o caso encerrado. "Nós concordamos na época que a decisão da
Corte seria a última", disse o porta-voz da entidade, Nick Davies.
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