São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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Tatá, 7, segue os passos de Robinho atrás do avô Pelé

Neto desprezado joga futsal no Santos com o sonho de vestir a 10 da seleção e conhecer o Rei

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelé nunca o encontrou. Robinho não sabe de sua existência. Octávio Felinto Neto, 7, não liga. Só pensa em jogar futebol. No Santos que consagrou seus ídolos.
Não liga, também, porque já se conformou, porque percebeu que dificilmente cruzará um dos dois.
Robinho, viu pela TV na quarta à noite, despediu-se do seu time, da sua cidade. Pelé, cujas jogadas vê e revê no DVD, alimenta poucas esperanças de encontrar. Apesar de o ex-jogador ser um dos donos da escolinha em que treina. Apesar de o astro ir sempre à Vila Belmiro, onde joga futsal. Apesar de o atleta do século ser seu avô.
Octávio é primogênito de Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto, 41, que há 14 anos conseguiu provar na Justiça que é filha de Pelé. E, apesar de conviver, admirar e esbarrar o tempo todo com alusões ao avô, nunca o encarou frente a frente.
Talvez, por isso, chame-o só pelo apelido que o planeta todo usa.
"Tenho vontade de conhecer o Pelé. Eu vejo sempre o DVD dele e tento imitar as jogadas que ele fazia", diz Octávio, ou Tatá, no campo da Escola de Futebol Pelé, em Santos, onde, três vezes por semana, corre para aprender o esporte.
"Quando crescer, quero ser jogador de futebol. E, se o Pelé vier aqui um dia, quero bater uma bola com ele. Mas acho que ele não vai querer. Ele já está meio velho."
Seus pais, Sandra e Ozéas, não pagam a mensalidade de R$ 60 cobrada de outros meninos que freqüentam o campinho. Octávio e o irmão, Gabriel, 5, ganharam uma "bolsa" da escolinha. Porque são netos de quem são, mas não exatamente porque o avô pediu.
"É uma situação delicada. Eu não ia ser louco de cobrar deles. O Pelé nem sabe que eles jogam aqui. Mas o que eu ia fazer? Cobrar dos netos do homem não dá, né?", explica Manuel Maria, 57, ex-ponta direita do Santos e do Cosmos, diretor da escolinha e um dos responsáveis por revelar, anos atrás, Robinho para a categoria infantil do clube do litoral.

Fórmula consagrada
Octávio tem um sonho em comum com gerações de meninos depois do que seu avô fez no futebol. "Quero ser o camisa 10 da seleção", conta o garoto.
Sonho que, na mesma Santos que ainda sente o vácuo da saída de Robinho, ele tenta realizar. Seguindo os passos dos dois.
Falante, elétrico, sete anos completados há exatas duas semanas, Octávio mescla futsal com futebol de campo, fórmula bebida na infância por Pelé e pelo novo galáctico, e vem colhendo resultados.
"Ele tem qualidades, é esperto. Pode ser cedo para falar alguma coisa, mas, na idade dele, é um bom jogador", afirma Fabrício Pereira Monte, técnico de futsal das categorias de base do Santos.
Octávio foi aprovado nos treinos que realizou com outros meninos da categoria mamadeira -nascidos em 1998- no ginásio Athié Jorge Coury, na Vila Belmiro. Segundo o treinador, ele só não disputa o Campeonato Paulista porque o prazo para inscrições já havia expirado.
"Mas estamos contando com ele para o ano que vem. Ele tem disposição, um chute forte e é bastante técnico. Devo escalá-lo como pivô", completou, referindo-se à posição de atacante no futsal.
O neto de Pelé também deixou boa impressão em Manuel Maria. O ponta do Santos nos anos 60 participou da peneira que, em 1996, colocou Robinho no infantil do time e hoje dirige o Litoral Esporte Clube, que tem Pelé como um dos sócios. "Ele pega bem na bola, chuta direitinho. É complicado falar de criança, mas parece que leva jeito de boleiro."
Unidas ao parentesco famoso, essas qualidades, conta o pai, já chamaram a atenção de empresários. O corretor de seguros e pastor evangélico Ozéas Felinto, 38, diz já ter sido procurado por um grupo de São Paulo que queria assinar contrato com o garoto. "Seria precoce, ele é só uma criança."
Felinto e a mulher, a ex-vendedora Sandra Regina, nunca ocultaram dos filhos o avô famoso.
Não adiantaria, contam. Até porque o parentesco foi usado como alavanca da carreira de Sandra na política. Ex-PDT, hoje sem partido, ela cumpre o segundo mandato de vereadora em Santos.
"Se fôssemos esconder, descobririam logo. Na escola, na rua, no futebol, os amiguinhos sabem quem é o avô deles", diz Sandra.
Ela lamenta não ter contato nenhum com o pai, mas acredita que a situação pode mudar com o tempo. Evangélica como Assíria, a atual "madrasta", enviou um CD de músicas gospel para o escritório do pai assim que soube da prisão de Edinho -seu irmão acusado de envolvimento com tráfico de drogas.
Em entrevista recente à Folha, Pelé, 64, argumentou que Sandra "é casada, tem a vida dela construída" para justificar as dificuldades em estabelecer um relacionamento com a filha.
Depois de Edinho, Octávio é o mais promissor representante da linha de sucessão ao trono do futebol. Além do ex-goleiro, o único filho homem de Pelé é Joshua, 8, que joga numa escolinha, mas nunca flertou com um clube.
São oito os netos do Rei, quatro meninos. O outro filho de Sandra, Gabriel, dois anos mais novo que Octávio, também treina na escola de futebol do avô, mas seu futebol provoca menos suspiros.
Há ainda Rubi, 4, e Malcolm, de 3 meses, que moram nos EUA com a mãe, Kelly Christina.


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