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Tatá, 7, segue os passos de Robinho atrás do avô Pelé
Neto desprezado
joga futsal no
Santos com o
sonho de vestir a
10 da seleção e
conhecer o Rei
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelé nunca o encontrou. Robinho não sabe de sua existência.
Octávio Felinto Neto, 7, não liga.
Só pensa em jogar futebol. No
Santos que consagrou seus ídolos.
Não liga, também, porque já se
conformou, porque percebeu que
dificilmente cruzará um dos dois.
Robinho, viu pela TV na quarta
à noite, despediu-se do seu time,
da sua cidade. Pelé, cujas jogadas
vê e revê no DVD, alimenta poucas esperanças de encontrar. Apesar de o ex-jogador ser um dos
donos da escolinha em que treina.
Apesar de o astro ir sempre à Vila
Belmiro, onde joga futsal. Apesar
de o atleta do século ser seu avô.
Octávio é primogênito de Sandra Regina Machado Arantes do
Nascimento Felinto, 41, que há 14
anos conseguiu provar na Justiça
que é filha de Pelé. E, apesar de
conviver, admirar e esbarrar o
tempo todo com alusões ao avô,
nunca o encarou frente a frente.
Talvez, por isso, chame-o só pelo apelido que o planeta todo usa.
"Tenho vontade de conhecer o
Pelé. Eu vejo sempre o DVD dele e
tento imitar as jogadas que ele fazia", diz Octávio, ou Tatá, no campo da Escola de Futebol Pelé, em
Santos, onde, três vezes por semana, corre para aprender o esporte.
"Quando crescer, quero ser jogador de futebol. E, se o Pelé vier
aqui um dia, quero bater uma bola com ele. Mas acho que ele não
vai querer. Ele já está meio velho."
Seus pais, Sandra e Ozéas, não
pagam a mensalidade de R$ 60
cobrada de outros meninos que
freqüentam o campinho. Octávio
e o irmão, Gabriel, 5, ganharam
uma "bolsa" da escolinha. Porque
são netos de quem são, mas não
exatamente porque o avô pediu.
"É uma situação delicada. Eu
não ia ser louco de cobrar deles. O
Pelé nem sabe que eles jogam
aqui. Mas o que eu ia fazer? Cobrar dos netos do homem não dá,
né?", explica Manuel Maria, 57,
ex-ponta direita do Santos e do
Cosmos, diretor da escolinha e
um dos responsáveis por revelar,
anos atrás, Robinho para a categoria infantil do clube do litoral.
Fórmula consagrada
Octávio tem um sonho em comum com gerações de meninos
depois do que seu avô fez no futebol. "Quero ser o camisa 10 da seleção", conta o garoto.
Sonho que, na mesma Santos
que ainda sente o vácuo da saída
de Robinho, ele tenta realizar. Seguindo os passos dos dois.
Falante, elétrico, sete anos completados há exatas duas semanas,
Octávio mescla futsal com futebol
de campo, fórmula bebida na infância por Pelé e pelo novo galáctico, e vem colhendo resultados.
"Ele tem qualidades, é esperto.
Pode ser cedo para falar alguma
coisa, mas, na idade dele, é um
bom jogador", afirma Fabrício
Pereira Monte, técnico de futsal
das categorias de base do Santos.
Octávio foi aprovado nos treinos que realizou com outros meninos da categoria mamadeira
-nascidos em 1998- no ginásio
Athié Jorge Coury, na Vila Belmiro. Segundo o treinador, ele só
não disputa o Campeonato Paulista porque o prazo para inscrições já havia expirado.
"Mas estamos contando com
ele para o ano que vem. Ele tem
disposição, um chute forte e é bastante técnico. Devo escalá-lo como pivô", completou, referindo-se à posição de atacante no futsal.
O neto de Pelé também deixou
boa impressão em Manuel Maria.
O ponta do Santos nos anos 60
participou da peneira que, em
1996, colocou Robinho no infantil
do time e hoje dirige o Litoral Esporte Clube, que tem Pelé como
um dos sócios. "Ele pega bem na
bola, chuta direitinho. É complicado falar de criança, mas parece
que leva jeito de boleiro."
Unidas ao parentesco famoso,
essas qualidades, conta o pai, já
chamaram a atenção de empresários. O corretor de seguros e pastor evangélico Ozéas Felinto, 38,
diz já ter sido procurado por um
grupo de São Paulo que queria assinar contrato com o garoto. "Seria precoce, ele é só uma criança."
Felinto e a mulher, a ex-vendedora Sandra Regina, nunca ocultaram dos filhos o avô famoso.
Não adiantaria, contam. Até
porque o parentesco foi usado como alavanca da carreira de Sandra na política. Ex-PDT, hoje sem
partido, ela cumpre o segundo
mandato de vereadora em Santos.
"Se fôssemos esconder, descobririam logo. Na escola, na rua, no
futebol, os amiguinhos sabem
quem é o avô deles", diz Sandra.
Ela lamenta não ter contato nenhum com o pai, mas acredita
que a situação pode mudar com o
tempo. Evangélica como Assíria,
a atual "madrasta", enviou um
CD de músicas gospel para o escritório do pai assim que soube da
prisão de Edinho -seu irmão
acusado de envolvimento com
tráfico de drogas.
Em entrevista recente à Folha,
Pelé, 64, argumentou que Sandra
"é casada, tem a vida dela construída" para justificar as dificuldades em estabelecer um relacionamento com a filha.
Depois de Edinho, Octávio é o
mais promissor representante da
linha de sucessão ao trono do futebol. Além do ex-goleiro, o único
filho homem de Pelé é Joshua, 8,
que joga numa escolinha, mas
nunca flertou com um clube.
São oito os netos do Rei, quatro
meninos. O outro filho de Sandra,
Gabriel, dois anos mais novo que
Octávio, também treina na escola
de futebol do avô, mas seu futebol
provoca menos suspiros.
Há ainda Rubi, 4, e Malcolm, de
3 meses, que moram nos EUA
com a mãe, Kelly Christina.
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