São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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Competição, que teve realização ameaçada, começa hoje em meio a sucesso de atletas do país

Mundial testa redenção argentina em ano de crise

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que conheceu uma das piores crises de sua história, a Argentina busca a partir de hoje coroar a redenção de sua imagem pelo esporte com a organização do Mundial masculino de vôlei.
As cenas de saques e protestos no fim de 2001, que provocaram a queda do presidente Fernando de la Rúa e deixaram saldo de 30 mortos, somadas à grave crise financeira do país transformaram a realização do Mundial na Argentina em uma incógnita.
No último ano, os argentinos estiveram diversas vezes na iminência de perder o torneio, cujo slogan é "Levantemos Argentina", em declarada alusão à crise política e econômica do país.
No mesmo período, no entanto, na contramão da seleção de futebol que teve atuação pífia na Copa do Mundo, os atletas argentinos voltaram a quebrar tabus nos chamados esportes amadores.
O maior feito foi obtido em Indianápolis pela equipe masculina de basquete, no início deste mês.
Os argentinos não só acabaram com a invencibilidade do "Dream Team" norte-americano como chegaram à uma inédita decisão de Mundial -perderam o título para a equipe da Iugoslávia.
Na natação, Jose Meolans conquistou o ouro nos 50 m livre e a prata nos 100 m livre no Mundial de Moscou, em abril. A última grande conquista argentina havia sido obtida por Luis Alberto Nicolao, que estabeleceu, no Rio, em 1962, o único recorde mundial do país -57s nos 100 m borboleta.
Os tenistas argentinos também quebraram tabus neste ano. David Nalbandian, em junho, tornou-se o primeiro finalista latino-americano de Wimbledon na chamada era aberta (desde 1968).
Na Copa Davis, a equipe do país voltou a jogar uma semifinal, o que não ocorria desde 1990.
Em 2002, os argentinos conquistaram sete títulos da ATP -Guillermo Cañas (Chennai e Toronto), Nalbandian (Estoril), Gaston Gaudio (Barcelona e Mallorca), Jose Acasuso (Sopot) e Juan Ignacio Chela (Amersfoot).
No boxe, Pablo Chacón e Omar Narvaez sagraram-se campeões.
Enquanto os atletas argentinos obtinham bons resultados, a organização do Mundial enfrentava dificuldades econômicas e a desconfiança da FIVB (Federação Internacional de Vôlei). Em março, o presidente da entidade, Rubén Acosta, ameaçou mudar a sede do torneio por causa do atraso nas obras do ginásio de Córdoba, único construído para a competição e sede das partidas do Brasil.
No mesmo mês, os organizadores precisaram arrumar novas sedes para dois grupos, após a desistência de Catamarca e Rosario.
O Comvol (Comitê Organizador do Mundial) contou com ajuda de US$ 472 mil do governo. Também é do poder público o plano de segurança do torneio.
Há cinco dias do início do Mundial, os presidentes do Comvol e da FIVB se desentenderam. O comitê reclamou ter recebido só US$ 560 mil do US$ 1,15 milhão prometido pela entidade que dirige o vôlei. Segundo a FIVB, a dívida argentina relativa à Liga deste ano foi descontada da verba.
Para os organizadores, ainda é cedo para prever se haverá sucesso de público. Os ingressos para o jogo entre Argentina e Austrália, hoje, em Buenos Aires, no entanto, estão praticamente esgotados.


Com agências internacionais


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