São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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PARAOLIMPÍADA

Nadador brasileiro deixa Atenas com seis ouros e ajuda Brasil a realizar sua melhor campanha nos Jogos

Missão cumprida, diz recordista Clodoaldo

Gaspar Nóbrega/CPB
Clodoaldo festeja a vitória nos 50 m livre, quando bateu o recorde e obteve o 5º de seus 6 ouros


FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O nadador Clodoaldo Silva chorou ontem pela primeira vez em Atenas depois de se consolidar como o maior atleta paraolímpico brasileiro da história.
No dia do encerramento das provas de natação na Paraolimpíada de Atenas, Clodoaldo conquistou duas medalhas de ouro.
Ele soma agora seis ouros. Luiz Cláudio Pereira, do atletismo, tem o mesmo número de ouros, mas perde nas pratas: 3 a 4.
"Missão cumprida", disse, chorando, após fechar o revezamento 4 x 50 m medley. "A emoção é pelo grupo. Eles batalharam muito."
"O grupo é sensacional e essa é a recompensa", afirmou o nadador, que teve paralisia cerebral durante o parto, o que afetou o movimento de suas pernas.
Nenhum dos outros atletas que integraram a equipe (Francisco Avelino, Adriano Lima e Luis Silva) havia ganho uma medalha de ouro na Paraolimpíada. "Não caiu a ficha ainda", afirmou Luis Silva. "Foi um presente. O Clodoaldo é o atleta mais profissional do Brasil. Ele incentiva muito a gente e é bastante humilde."
Antes do revezamento, vencera os 50 m livre, prova na qual já tinha o recorde mundial (36s24), melhorando seu tempo (35s41).
"Eu sou o Clodoaldo Silva", afirmou ele, ao ser questionado sobre a comparação com o também nadador norte-americano Michael Phelps, que conquistou seis ouros e dois bronzes na Olimpíada.
Clodoaldo ainda tem tempo para aumentar sua coleção de medalhas. Tem 25 anos e a vida competitiva de um atleta paraolímpico é muito maior do que de um olímpico. "Em Paraolimpíada, é comum você ver um atleta com 40 anos ainda em um alto nível."
A atleta mais premiada da história dos Jogos, a nadadora americana Trischa Zorn, dona de 55 medalhas, está fazendo em Atenas, onde conquistou o bronze nos 100 m costas, sua despedida das piscinas, aos 40 anos.
Com isso, Clodoaldo tem todas as condições para se tornar também o brasileiro que mais subiu ao pódio -o posto está ocupado pela corredora cega Adria Santos, que ontem foi prata nos 400 m.
Adria é mais velha (tem 30 anos) e disputa três provas em cada edição da Paraolimpíada.
Em Pequim, Clodoaldo pode nadar nove provas -em Sydney, só não ganhou medalha nos 50 m costas (foi quarto). Ele não disputou os 50 m peito em Atenas, pois não há registro de sua participação internacional. "Preciso continuar ralando. Chegar ao topo é fácil, o difícil é se manter."
Além do feito de Clodoaldo, o Brasil celebra a melhor campanha de sua história paraolímpica: com 32 medalhas, bateu a campanha de Stoke Mandeville e Nova York, em 1984, quando ganhou 28.
Fora as medalhas do nadador e de Adria, foram mais seis pódios ontem. No atletismo, André Garcia foi prata nos 100 m, Teresinha Guilhermino foi bronze nos 400 m, Gilson dos Anjos foi prata nos 800 m. Na mesma prova, mas em classe diferente, Odair Santos ficou com o bronze. Ozivan dos Santos Bonfim ficou em terceiro nos 5.000 m. Com exceção de Bonfim, amputado, os outros atletas têm deficiência visual.
Outra medalha veio no futebol de 7 (para paralisados cerebrais). O Brasil foi derrotado pela Ucrânia por 4 a 1 na decisão.
Hoje será a final do futebol de 5 (para cegos), contra a Argentina.

O jornalista Fernando Itokazu viaja a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro

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