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BASQUETE
Porcelana chinesa
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Em 27 de novembro de 1939,
exatamente um dia antes de
morrer, James Naismith recebeu
uma carta enviada de Pequim.
Nela, um norte-americano chamado M.V. Ambros sugeria ao inventor do basquete uma viagem à
China. "O senhor se encantaria se
visse como seu esporte fala ao coração do povo chinês."
Em 11 de junho de 1997, em meio
à final entre Utah e Chicago, na
cidade de Salt Lake City, o jornalista chinês Xu Jicheng encontrou-se com David Stern. "Meu
país podia ser seu segundo mercado", sugeriu, empolgado, o visitante. "Pois já devia ser o primeiro", respondeu, na pinta, o todo-poderoso cartola da NBA.
Em 14 de setembro de 2004, duas
semanas atrás, 400 norte-americanos se candidataram a um emprego na CBA, a liga nacional
chinesa. A importação de bons jogadores -e, com isso, a organização de um torneio do mais alto
nível- é considerada pelos asiáticos essencial no projeto de pódio
na Olimpíada de Pequim-08.
Realizadas no interior do Estado do Oregon, na Costa Oeste dos
EUA, as "peneiras" são chanceladas pelo técnico Bob Hill, ex-San
Antonio. Vale lembrar que foi sob
o comando de outro ex-treinador
da NBA (Del Harris) que, em Atenas, a China obteve sua melhor
colocação olímpica (8ª) -com
direito à eliminação dos atuais
campeões mundiais (Sérvia).
Embora a temporada dure seis
meses, os 14 times chineses remuneram os atletas pelo ano inteiro
-"para estabelecer uma relação
sincera e completa". Os salários
são similares aos dos clubes europeu e, relata o "New York Times",
batem em US$ 30 mil mensais.
Entre os candidatos a uma das
28 vagas, nomes conhecidos dos
NBAmaníacos, como Scott Burrell (campeão pelo Chicago em
1998), Ed O'Bannon (ex-New Jersey) e Drew Barry (ex-Atlanta).
A revolução do basquete chinês
foi detonada em 1997, quando, na
esteira da abertura econômica
promovida pelo líder Deng Xiaoping, o governo outorgou a cada
esporte a autonomia administrativa e financeira -o que abriu
novos horizontes à infra-estrutura polinizada por décadas de planificação estatal/militar/comunitária. Já naquele ano, a agência
de marketing IMG, baseada em
Cleveland, assinou contrato para
tocar a liga nacional, e, em Pequim, a ex-jogadora Song Xiaobo, bronze em Los Angeles-84,
abriu a primeira escolinha particular de basquete do país.
Nem os olhos puxados nem os
2,26 m. "O que me distingue na
NBA é que eu namoro a mesma
menina há sete anos", brinca o pivô Yao Ming, 24, primeiro ídolo
chinês da liga norte-americana,
na recém-lançada biografia
"Uma vida em dois mundos".
Caco 1
O repórter Alexander Wolff tenta explicar por que a China ainda venera Qiao Dan. Em mandarim, lembra, "qiao" significa engenhoso. E
"dan" tem três acepções: cura, superação e vermelho (cor associada à
ação e à autoridade). Toda vez que fala o nome de Qiao Dan, ou Jordan, o chinês cita sem querer os atributos do legendário ex-craque.
Caco 2
Olheiro da Nike ficou cinco anos na China até descobrir Yao Ming.
Caco 3
Quer conhecer os chineses da NBA? Para alegria do basqueteiro, e
desespero de seus familiares, a DirecTV voltará a oferecer neste ano
um pacote pay-per-view da liga. O preço ainda não foi definido.
E-mail melk@uol.com.br
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