São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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BASQUETE

Porcelana chinesa

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Em 27 de novembro de 1939, exatamente um dia antes de morrer, James Naismith recebeu uma carta enviada de Pequim. Nela, um norte-americano chamado M.V. Ambros sugeria ao inventor do basquete uma viagem à China. "O senhor se encantaria se visse como seu esporte fala ao coração do povo chinês."
 
Em 11 de junho de 1997, em meio à final entre Utah e Chicago, na cidade de Salt Lake City, o jornalista chinês Xu Jicheng encontrou-se com David Stern. "Meu país podia ser seu segundo mercado", sugeriu, empolgado, o visitante. "Pois já devia ser o primeiro", respondeu, na pinta, o todo-poderoso cartola da NBA.
 
Em 14 de setembro de 2004, duas semanas atrás, 400 norte-americanos se candidataram a um emprego na CBA, a liga nacional chinesa. A importação de bons jogadores -e, com isso, a organização de um torneio do mais alto nível- é considerada pelos asiáticos essencial no projeto de pódio na Olimpíada de Pequim-08.
 
Realizadas no interior do Estado do Oregon, na Costa Oeste dos EUA, as "peneiras" são chanceladas pelo técnico Bob Hill, ex-San Antonio. Vale lembrar que foi sob o comando de outro ex-treinador da NBA (Del Harris) que, em Atenas, a China obteve sua melhor colocação olímpica (8ª) -com direito à eliminação dos atuais campeões mundiais (Sérvia).
 
Embora a temporada dure seis meses, os 14 times chineses remuneram os atletas pelo ano inteiro -"para estabelecer uma relação sincera e completa". Os salários são similares aos dos clubes europeu e, relata o "New York Times", batem em US$ 30 mil mensais.
 
Entre os candidatos a uma das 28 vagas, nomes conhecidos dos NBAmaníacos, como Scott Burrell (campeão pelo Chicago em 1998), Ed O'Bannon (ex-New Jersey) e Drew Barry (ex-Atlanta).
 
A revolução do basquete chinês foi detonada em 1997, quando, na esteira da abertura econômica promovida pelo líder Deng Xiaoping, o governo outorgou a cada esporte a autonomia administrativa e financeira -o que abriu novos horizontes à infra-estrutura polinizada por décadas de planificação estatal/militar/comunitária. Já naquele ano, a agência de marketing IMG, baseada em Cleveland, assinou contrato para tocar a liga nacional, e, em Pequim, a ex-jogadora Song Xiaobo, bronze em Los Angeles-84, abriu a primeira escolinha particular de basquete do país.
 
Nem os olhos puxados nem os 2,26 m. "O que me distingue na NBA é que eu namoro a mesma menina há sete anos", brinca o pivô Yao Ming, 24, primeiro ídolo chinês da liga norte-americana, na recém-lançada biografia "Uma vida em dois mundos".

Caco 1
O repórter Alexander Wolff tenta explicar por que a China ainda venera Qiao Dan. Em mandarim, lembra, "qiao" significa engenhoso. E "dan" tem três acepções: cura, superação e vermelho (cor associada à ação e à autoridade). Toda vez que fala o nome de Qiao Dan, ou Jordan, o chinês cita sem querer os atributos do legendário ex-craque.

Caco 2
Olheiro da Nike ficou cinco anos na China até descobrir Yao Ming.

Caco 3
Quer conhecer os chineses da NBA? Para alegria do basqueteiro, e desespero de seus familiares, a DirecTV voltará a oferecer neste ano um pacote pay-per-view da liga. O preço ainda não foi definido.

E-mail melk@uol.com.br


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