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FUTEBOL
Mercadores de ilusões
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Se macumba valesse, campeonato baiano terminava
empatado." Lembrei desse sábio
dito popular ao ler a não menos
sábia declaração de Dodô, sobre
as rezas e "despachos" que os palmeirenses estão fazendo para o time não ser rebaixado.
"Temos é que trabalhar, treinar. Tem filho de Deus nos outros
times também", disse o atacante.
Claro que muitos torcedores poderão responder que o próprio
Dodô não trabalha e não treina o
quanto devia, mas essa é outra
história.
O fato é que o futebol, por excelência um terreno de sonhos, esperanças e desesperos, é um campo fértil para os aproveitadores,
sejam eles pais-de-santo, gurus de
auto-ajuda ou pastores neo-evangélicos.
Nada contra a fé, os sinais-da-cruz, os amuletos, entrar com o pé
direito, beijar a medalhinha etc.
Sempre defendi o aspecto ritualístico do jogo e creio que cada indivíduo tem o direito de buscar sua
via pessoal de contato com o sagrado, seja ela qual for.
O problema é que muita gente
tira proveito disso, vendendo
uma espiritualidade "fast food"
ou fórmulas de sucesso a preços
módicos. Contra essas múltiplas
formas de picaretagem, toda
atenção é pouca.
O curioso é que, em momentos
de desespero -como o que o Palmeiras atravessa-, a busca religiosa frequentemente convive
com seu oposto, ou seja, a perspectiva bem pragmática e materialista de uma mudança nas regras. Uma via amoral (para não
dizer imoral) de salvação.
A diretoria do Palmeiras assegura que o clube acatará um
eventual rebaixamento. A torcida
também, até porque a humilhação de protagonizar uma "virada
de mesa" é quase tão grande
quanto a de cair para a Série B.
Mas, pelo que tenho visto, há
muitos torcedores palmeirenses
torcendo para que um grande
clube carioca (Vasco ou Flamengo, de preferência) fique também
entre os quatro rebaixáveis -situação em que, segundo acreditam, a lambança seria inevitável.
Nesse caso, o Palmeiras poderia
se beneficiar da marmelada de
modo, digamos, "passivo", sem
ter de assumir o ônus da responsabilidade.
Claro que os palmeirenses mais
sérios rejeitam essa alternativa,
pois percebem que ela seria uma
peneira incapaz de tapar o sol.
Resta-lhes, portanto, o caminho
mais difícil e exigente: a esperança numa conjunção improvável
de resultados -sem a muleta da
religião, ou os golpes dos cartolas.
E a esperança -no futebol, assim como na política ou na vida
amorosa- não é um sentimento
fácil de carregar.
"Peso mais pesado/ não existe
não" (Manuel Bandeira).
Em situação oposta à do Palmeiras estão seus grandes rivais,
São Paulo, Santos e Corinthians.
Com mais base na intuição e no
bom senso do que na fria lei das
probabilidades, penso que os três
terão lugar na próxima fase, ao
lado de Juventude e São Caetano.
Claro que pode haver surpresas.
Matematicamente, nem o líder
São Paulo está garantido.
Mas, ao que tudo indica, a briga
de foice mesmo será para definir
os três outros classificados.
Pelo menos 12 clubes têm chances reais de lutar por uma dessas
vagas: Atlético-MG, Grêmio, Vitória, Guarani, Fluminense, Ponte Preta, Coritiba, Figueirense,
Atlético-PR, Goiás, Lusa e Internacional.
Vitórias dos líderes
Na rodada de anteontem, o
São Paulo confirmou sua boa
fase atropelando a Lusa sem
dó, e o Santos espantou a
ameaça de crise despachando
o Fla para as redondezas da
zona de rebaixamento. Mas a
vitória mais espetacular foi a
do Juventude, que virou o jogo depois de estar perdendo
em casa por 2 a 0 para o valente Figueirense. Uma virada assim dá moral ao time
para brigar pela liderança.
Kluivert tricolor
Luís Fabiano era dúvida para
São Paulo x Lusa. Acabou fazendo dois gols e perdendo
outros tantos. Às vezes fica
ofuscado pelas estrelas do time, mas é um excelente atacante, que lembra um pouco,
pelo porte e pelo estilo, o holandês Kluivert. Ambos têm
domínio de bola e visão de
gol, atuando tanto de pivôs
como de finalizadores. A diferença é de nível. Kluivert está uma ou duas escalas acima.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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