São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2001

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FUTEBOL

Hora de rever conceitos

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Assim como acontece com os treinadores e com qualquer profissional, os comentaristas precisam rever seus conceitos quando perceberem que deram opiniões equivocadas ou quando os fatos mudarem.
Há tempos, elogiei e citei o Marinho, do Grêmio, entre os 22 jogadores de minha preferência para a seleção. Assisti a algumas partidas do zagueiro e fiquei impressionado. Com o tempo, percebi o engano. Um leitor, torcedor do Grêmio, já tinha me alertado.
Com suas chuteiras brancas -virou moda-, Marinho tem físico de grandes zagueiros. É alto, forte e veloz. Tem lampejos de craque. Porém é muito confuso. Posiciona-se mal. Faz jogadas de efeito na hora errada. Ele me lembra o Júnior Baiano. Os dois parecem craques, mas não são. São, no máximo, bons jogadores. Talvez Marinho precise ser mais bem orientado. Júnior Baiano é um caso perdido.
Marinho deveria olhar para o lado, ou assistir aos teipes do companheiro Mauro Galvão, que está contundido. Ao contrário do Marinho, Galvão, com seus 39 anos, dá um show de técnica e posicionamento. Simplifica. Joga com a cabeça em pé. Antevê a jogada e antecipa-se ao atacante. Raramente erra um passe. Um craque! Pena que sua brilhante carreira se aproxima do final.
O grande erro do Zagallo na Copa de 98 foi deixar Mauro Galvão, em grande forma, para levar o "maluco" Júnior Baiano.
Também mudei minha opinião sobre Fernando Diniz, armador do Fluminense. Nesse caso é diferente. Não estava errado. Ele foi quem mudou. Mais de uma vez, escrevi que o Fernando Diniz ciscava, ciscava e nada acontecia. Era verdade. No Fluminense, sob a orientação do Oswaldo de Oliveira, descobriu sua posição e função em campo. Marca e toca a bola com mais rapidez. De vez em quando, tem uma recaída. É ainda um jogador comum, mas muito melhor do que era.
Na partida de sábado, contra o Santos, Robert organizava as jogadas pela esquerda. No segundo tempo, Oswaldo de Oliveira passou Fernando Diniz para a direita. Ele anulou Robert, armou o time e ainda apareceu na frente.
O melhor momento de se corrigir os erros e de se aprimorar as virtudes é nas categorias de base. Os clubes deveriam melhorar a qualidade desses treinadores. Os meninos treinam muito e aprendem pouco. É preciso ensinar. Só ensina quem sabe.

Substituição do Rogério
De vez em quando, um time joga com dez e surpreende o rival. Como regra, acontece o contrário. É a principal causa de goleadas entre times do mesmo nível técnico. A equipe com dez, inferiorizada no placar, tem de atacar, e a defesa fica muito desprotegida. Ainda mais contra o Romário.
Quando Rogério Ceni foi expulso contra o Vasco o jogo estava 0 a 0. O técnico Nelsinho retirou o armador Adriano para colocar um goleiro. Foi o mais correto?
O São Paulo joga com três armadores e três na frente. Kaká e França recuam para receber a bola, mas não são jogadores de meio-campo. Se um time só tem três armadores, o técnico não pode tirar um deles. Além de ficar somente com dois na marcação, o São Paulo perdeu o único armador habilidoso. O time enfraqueceu muito a marcação, a armação e o ataque, que ficou sem o apoio do meio-campo. Se saísse um dos atacantes, somente o ataque ficaria enfraquecido.
No Programa "Supertécnico", da TV Bandeirantes, Alberto Helena Jr. questionou os treinadores sobre isso. Sempre com a excessiva preocupação de não criticar o companheiro -falsa ética-, os técnicos elogiaram a substituição.
Os treinadores argumentaram que Kaká e França têm características de armadores e substituíram o Adriano. Confundem jogadores de meio-campo, que às vezes avançam, com meias ofensivos, que recuam para receber a bola. São funções bem diferentes.
Há pouco tempo, a maior parte dos técnicos brasileiros dividiu o meio-campo entre armadores defensivos, que marcam (volantes), e ofensivos, que atacam (meia-atacantes). Acabaram com os organizadores de jogo.
Uma das qualidades do São Caetano e do Atlético-MG é terem típicos armadores, como Esquerdinha e Valdo. Um com 32 e o outro com 37 anos. São de outra geração. Do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça.
Os jovens atletas de meio-campo, das categorias de base e das equipes principais, não sabem o que é um típico armador. Essa é uma das causas da queda de qualidade do futebol brasileiro.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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