|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Hora de rever conceitos
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Assim como acontece com os
treinadores e com qualquer
profissional, os comentaristas
precisam rever seus conceitos
quando perceberem que deram
opiniões equivocadas ou quando
os fatos mudarem.
Há tempos, elogiei e citei o Marinho, do Grêmio, entre os 22 jogadores de minha preferência para a seleção. Assisti a algumas
partidas do zagueiro e fiquei impressionado. Com o tempo, percebi o engano. Um leitor, torcedor
do Grêmio, já tinha me alertado.
Com suas chuteiras brancas
-virou moda-, Marinho tem
físico de grandes zagueiros. É alto,
forte e veloz. Tem lampejos de
craque. Porém é muito confuso.
Posiciona-se mal. Faz jogadas de
efeito na hora errada. Ele me lembra o Júnior Baiano. Os dois parecem craques, mas não são. São,
no máximo, bons jogadores. Talvez Marinho precise ser mais bem
orientado. Júnior Baiano é um
caso perdido.
Marinho deveria olhar para o
lado, ou assistir aos teipes do
companheiro Mauro Galvão, que
está contundido. Ao contrário do
Marinho, Galvão, com seus 39
anos, dá um show de técnica e posicionamento. Simplifica. Joga
com a cabeça em pé. Antevê a jogada e antecipa-se ao atacante.
Raramente erra um passe. Um
craque! Pena que sua brilhante
carreira se aproxima do final.
O grande erro do Zagallo na
Copa de 98 foi deixar Mauro Galvão, em grande forma, para levar
o "maluco" Júnior Baiano.
Também mudei minha opinião
sobre Fernando Diniz, armador
do Fluminense. Nesse caso é diferente. Não estava errado. Ele foi
quem mudou. Mais de uma vez,
escrevi que o Fernando Diniz ciscava, ciscava e nada acontecia.
Era verdade. No Fluminense, sob
a orientação do Oswaldo de Oliveira, descobriu sua posição e
função em campo. Marca e toca a
bola com mais rapidez. De vez em
quando, tem uma recaída. É ainda um jogador comum, mas muito melhor do que era.
Na partida de sábado, contra o
Santos, Robert organizava as jogadas pela esquerda. No segundo
tempo, Oswaldo de Oliveira passou Fernando Diniz para a direita. Ele anulou Robert, armou o time e ainda apareceu na frente.
O melhor momento de se corrigir os erros e de se aprimorar as
virtudes é nas categorias de base.
Os clubes deveriam melhorar a
qualidade desses treinadores. Os
meninos treinam muito e aprendem pouco. É preciso ensinar. Só
ensina quem sabe.
Substituição do Rogério
De vez em quando, um time joga com dez e surpreende o rival.
Como regra, acontece o contrário.
É a principal causa de goleadas
entre times do mesmo nível técnico. A equipe com dez, inferiorizada no placar, tem de atacar, e a
defesa fica muito desprotegida.
Ainda mais contra o Romário.
Quando Rogério Ceni foi expulso contra o Vasco o jogo estava 0 a
0. O técnico Nelsinho retirou o armador Adriano para colocar um
goleiro. Foi o mais correto?
O São Paulo joga com três armadores e três na frente. Kaká e
França recuam para receber a bola, mas não são jogadores de
meio-campo. Se um time só tem
três armadores, o técnico não pode tirar um deles. Além de ficar
somente com dois na marcação, o
São Paulo perdeu o único armador habilidoso. O time enfraqueceu muito a marcação, a armação e o ataque, que ficou sem o
apoio do meio-campo. Se saísse
um dos atacantes, somente o ataque ficaria enfraquecido.
No Programa "Supertécnico",
da TV Bandeirantes, Alberto Helena Jr. questionou os treinadores
sobre isso. Sempre com a excessiva preocupação de não criticar o
companheiro -falsa ética-, os
técnicos elogiaram a substituição.
Os treinadores argumentaram
que Kaká e França têm características de armadores e substituíram o Adriano. Confundem jogadores de meio-campo, que às vezes avançam, com meias ofensivos, que recuam para receber a
bola. São funções bem diferentes.
Há pouco tempo, a maior parte
dos técnicos brasileiros dividiu o
meio-campo entre armadores defensivos, que marcam (volantes),
e ofensivos, que atacam (meia-atacantes). Acabaram com os organizadores de jogo.
Uma das qualidades do São
Caetano e do Atlético-MG é terem
típicos armadores, como Esquerdinha e Valdo. Um com 32 e o outro com 37 anos. São de outra geração. Do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça.
Os jovens atletas de meio-campo, das categorias de base e das
equipes principais, não sabem o
que é um típico armador. Essa é
uma das causas da queda de qualidade do futebol brasileiro.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: F-1: SP não fará todas as obras em Interlagos Próximo Texto: Panorâmica - Basquete: Em casa, Flamengo pega Campos por semifinal do Estadual masculino do RJ Índice
|