São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997.



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SÃO SILVESTRE
Correr em declives pode causar microlesões em músculo da perna
Pesquisa diz que descida é 'perigo' maior que subida

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
da Reportagem Local

Um pesquisador australiano po de ter uma chave para desmascarar uma das mais famosas "supersti ções" de Ano Novo do Brasil: a que defende que é o desgaste da subida que decide a São Silvestre.
David Morgan, da Universidade de Monash (Austrália), concluiu que correr em descidas causa mi crolesões em até 30% das células que compõem o músculo da parte da frente da perna, o quadríceps.
Assim, o atleta chega à parte final da prova do dia 31, a subida da Bri gadeiro, com o músculo dolorido ou enfraquecido pelo esforço feito na descida da Consolação.
"Em pessoas que praticam es portes sem regularidade, a dor só vai aparecer um ou dois dias de pois de feito o esforço. Mas, numa competição, se você descer e subir logo depois, haverá um 'apressa mento' no processo de dano nas células", disse ele à Folha.
A teoria do australiano é baseada no exercício "excêntrico", o reali zado pelo músculo quadríceps quando uma pessoa desce uma es cada. Em outras palavras, em vez de iniciar uma ação, ele funciona como freio (veja quadro).
Nesse caso, o músculo, tensiona do, "estica" -numa subida tam bém ocorre a tensão, mas o qua dríceps "encurta".
Como, em geral, os músculos não são exigidos para longos pe ríodos de exercícios excêntricos, costumam ocorrer as lesões.
Para Morgan, porém, o músculo é "adaptável". "Ele é dinâmico, muda rápido. Há cientistas que di zem que após oito horas, os mús culos da batata da perna se adap tam ao salto alto. Alguma mulhe res sentem dor depois de trocar o salto alto por um baixo."
Ele afirma que é necessário pelo menos uma semana de treinamen to de corrida em descidas para que os riscos sejam minimizados.
"Mas isso também pode ser dito ao contrário. Se não houver treina mento após uma semana, a condi ção do músculo regride." E, se a pessoa parar de treinar descida e só treinar subida, a reversão é ainda mais rápida, afirma Morgan.
Mesmo desconhecendo o estudo do australiano, correr em descidas faz parte da rotina de treinos dos principais competidores brasilei ros que estarão na São Silvestre.
Segundo Ricardo D'Angelo, téc nico do terceiro colocado em 1996, Vanderlei Cordeiro de Lima, a pre paração dos atletas de elite sempre acaba incluindo a corrida em tre chos inclinados.
Os corredores que em geral se destacam na São Silvestre são ma ratonistas, e os treinos para esse ti po de prova levam em conta as condições em que ela é disputada -no caso, na rua.



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