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SÃO SILVESTRE
Correr em declives pode causar microlesões em músculo da perna
Pesquisa diz que descida
é 'perigo' maior que subida
SÉRGIO TEIXEIRA JR.
da Reportagem Local
Um pesquisador australiano po
de ter uma chave para desmascarar
uma das mais famosas "supersti
ções" de Ano Novo do Brasil: a que
defende que é o desgaste da subida
que decide a São Silvestre.
David Morgan, da Universidade
de Monash (Austrália), concluiu
que correr em descidas causa mi
crolesões em até 30% das células
que compõem o músculo da parte
da frente da perna, o quadríceps.
Assim, o atleta chega à parte final
da prova do dia 31, a subida da Bri
gadeiro, com o músculo dolorido
ou enfraquecido pelo esforço feito
na descida da Consolação.
"Em pessoas que praticam es
portes sem regularidade, a dor só
vai aparecer um ou dois dias de
pois de feito o esforço. Mas, numa
competição, se você descer e subir
logo depois, haverá um 'apressa
mento' no processo de dano nas
células", disse ele à Folha.
A teoria do australiano é baseada
no exercício "excêntrico", o reali
zado pelo músculo quadríceps
quando uma pessoa desce uma es
cada. Em outras palavras, em vez
de iniciar uma ação, ele funciona
como freio (veja quadro).
Nesse caso, o músculo, tensiona
do, "estica" -numa subida tam
bém ocorre a tensão, mas o qua
dríceps "encurta".
Como, em geral, os músculos
não são exigidos para longos pe
ríodos de exercícios excêntricos,
costumam ocorrer as lesões.
Para Morgan, porém, o músculo
é "adaptável". "Ele é dinâmico,
muda rápido. Há cientistas que di
zem que após oito horas, os mús
culos da batata da perna se adap
tam ao salto alto. Alguma mulhe
res sentem dor depois de trocar o
salto alto por um baixo."
Ele afirma que é necessário pelo
menos uma semana de treinamen
to de corrida em descidas para que
os riscos sejam minimizados.
"Mas isso também pode ser dito
ao contrário. Se não houver treina
mento após uma semana, a condi
ção do músculo regride." E, se a
pessoa parar de treinar descida e só
treinar subida, a reversão é ainda
mais rápida, afirma Morgan.
Mesmo desconhecendo o estudo
do australiano, correr em descidas
faz parte da rotina de treinos dos
principais competidores brasilei
ros que estarão na São Silvestre.
Segundo Ricardo D'Angelo, téc
nico do terceiro colocado em 1996,
Vanderlei Cordeiro de Lima, a pre
paração dos atletas de elite sempre
acaba incluindo a corrida em tre
chos inclinados.
Os corredores que em geral se
destacam na São Silvestre são ma
ratonistas, e os treinos para esse ti
po de prova levam em conta as
condições em que ela é disputada
-no caso, na rua.
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