São Paulo, terça-feira, 28 de dezembro de 2004

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Latinos reinam de novo, e latinas seguem zeradas

Enquanto os homens de países que falam a língua confirmam em 2004 sua superioridade no futebol, as mulheres continuam em segundo plano, sem grandes conquistas mundiais

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que a Fifa celebrou seu centenário, o futebol confirmou ser latino, no masculino.
Quase todas as principais disputas da modalidade mais popular do planeta tiveram vitoriosos latinos. As exceções, como sempre, foram os torneios femininos.
As competições da Fifa apresentam um domínio histórico incontestável dos latinos. Esses venceram, por exemplo, 13 das 17 Copas disputadas até hoje. Ganharam 78,5% dos Mundiais sub-10 e saíram com o título de todas as edições do Mundial de futsal, que neste ano teve em Taiwan sua quinta versão sob a tutela da Fifa.
Considerando todos os torneios oficiais da máxima entidade do futebol e todos os torneios olímpicos masculinos (só os mais recentes tiveram de fato a Fifa como incentivadora e co-organizadora), são mais de 60% de troféus para os países de línguas latinas.
Argentinos, brasileiros, espanhóis, franceses, italianos, mexicanos, portugueses e uruguaios reinam conjuntamente com suas taças e medalhas diante de todo o resto do planeta que joga bola.
Neste ano, Argentina e Paraguai disputaram o ouro em Atenas, fazendo a primeira final sul-americana dos Jogos desde 1928. Espanha e Itália decidiram o Mundial de futsal. No que se refere a clubes, tanto a Europa quanto o planeta se curvaram ao Porto.
Porém as mulheres latinas não repetem até agora o sucesso dos homens. Neste ano, mais uma vez a medalha de ouro olímpica ficou com as americanas, e as alemãs triunfaram sobre as chinesas na decisão do Mundial sub-19.
Já foram realizados um total de nove torneios para mulheres sob a tutela da Fifa desde 1991, incluindo aqui os Jogos Olímpicos. Todos os torneios foram vencidos por seleções que não eram latinas. Neste ano, aliás, pela primeira vez uma seleção latina disputou um título -o Brasil, sem adversários à altura na América do Sul, surpreendeu e foi à final em Atenas.
Em quase todos os países latinos, o futebol é bastante desenvolvido, mas o mesmo não se repete com as mulheres, que não encontram tantas barreiras para jogar nos países mais frios da Europa e da América do Norte.
Muitos entendem que os latinos têm uma característica machista. No Brasil e em outros países latinos, as praticantes do futebol são consideradas pouco femininas.
O Brasil, que vem começando a obter melhores resultados entre as mulheres (apesar de não ter ainda uma liga nacional regular), é o atual campeão da Copa, do Mundial sub-20 e do Mundial sub-17. As últimas três Copas foram vencidas por países latinos.
Desde o ouro de Camarões nos Jogos de 2000, todos os torneios para homens da Fifa acabam com um latino no lugar mais alto do pódio. A "fila" do resto do mundo nos outros torneios é grande. Desde 1995, uma equipe não-latina não vence Copa das Confederações e Mundial sub-17. Desde 1987, não vence Mundial sub-20.
Entre clubes, o único não-latino que conseguiu título mundial neste século foi o Bayern de Munique, que venceu o Mundial interclubes em 2001. A tradicional disputa que começou em 1960 e que teve sua última edição neste ano teve só oito vezes campeão de outra origem que não latina. O único Mundial de Clubes da Fifa foi decidido por times brasileiros.
A supremacia latina só não é maior porque em Olimpíadas, durante muitos anos, países do leste europeu priorizavam a competição e usavam profissionais.


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