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Para contemporâneos, fonte da juventude é o estilo de jogo
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Está no diário do ex-zagueiro
André Cruz na internet. "Voltamos a fazer uma boa apresentação. Pressionamos bem o adversário, e os gols vieram com naturalidade. Esperamos que agora a
equipe continue neste caminho."
O time, o Goiás, continuou. Ele
não. Sem o fôlego de outrora e
sem uma proposta interessante
para prosseguir, parou. Foi o último registro no diário. A data, 21
de setembro de 2003. Um dia antes, ele comemorou seus 35 anos.
"Resolvi apostar numa outra
carreira, de empresário de jogadores. Vou tentar juntar uma garotada de qualidade, com passaporte europeu, e mandar
para clubes de lá", afirmou
à Folha, do alto dos
seus, agora, 37 anos.
Pelos mesmos motivos pararam, antes dos
40, Bebeto, Jorginho,
Ademir, Taffarel, Aloísio, Geovani... Jogadores
unidos por um elo, o time que apresentou Romário ao mundo, a seleção dos Jogos de Seul.
Dos 21 jogadores medalha de prata em 88, só
um continua em atividade,
o aniversariante de hoje. Exceção que ganha mais ar de façanha com a seguinte constatação:
cinco integrantes daquele grupo
são mais novos que Romário.
De lá para cá, alguns dos candidatos a estrela emplacaram, outros caíram no ostracismo. E hoje
quase todos estão novamente
juntos, longe dos holofotes. A exceção, mais uma vez, o que mais
brilhou: o melhor jogador do
mundo em 94, segundo a Fifa.
Companheiros de um Romário
quase adolescente, eles têm as
mesmas opiniões para explicar o
Romário que entra nos 40.
"Talento puro. Isso explica tudo. A qualidade dele dentro da
área é absurda. Nunca joguei com
alguém parecido", diz o ex-lateral
Jorginho, que ontem enfrentou o
colega olímpico e da conquista do
tetra numa situação inusitada.
Técnico do América, tentou, em
vão, armar seu time para impedir
que Romário avançasse, em cima
deles, na sua busca pelo milésimo
gol. Ontem, ele somou 950.
O ex-zagueiro Aloísio, que se
aposentou em 2001, aos 38, viu o
surgimento do atacante de uma
posição privilegiada. "Dividi o
quarto com ele em Seul. O baixinho sempre foi talentoso e autoconfiante e acho que esses são os
motivos para ele continuar", afirmou, por telefone, de Portugal.
"Ele já não corre mais como antes, mudou o comportamento
dentro de campo, mas não esqueceu o que aprendeu quando era
moleque: fazer gols", declara o armador daquele time e parceiro de
Romário no início de carreira no
Vasco, Geovani, que também
pendurou as chuteiras aos 38.
Para o meia, a "falta de pernas"
foi determinante na hora de parar. "Eu já não achava agradável
jogar. A perna não acompanhava
a cabeça e ainda havia a dificuldade de jogar num lugar que não é
central para o futebol do país."
Nos últimos cinco anos de carreira, o atual deputado estadual
pelo PSDB atuou por clubes de
seu Estado natal, Espírito Santo.
Jorginho, que deixou os campos
em 2001, aos 37, não pretendia "ficar pingando de clube em clube
pequeno", enquanto Aloísio só
queria mesmo evitar "fazer feio".
Mas, além do talento e da mudança de postura em campo, há
outra razão "boleira" para Romário prosseguir. Foi confidenciada
a André Cruz, o mesmo do diário
interrompido, na última vez que
os dois se encontraram numa
área, no Maracanã, em 2002.
"Uma hora estávamos ali, só eu
e ele, tantos anos depois de Seul e
ele me disse: "Pô, André, esses caras de hoje são muito fracos. Vamos ter que continuar até os 40.'"
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