São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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FUTEBOL

Tudo contra o favoritismo

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O mundo considera a seleção brasileira favorita na Copa da Alemanha.
Não é para menos, tantos são os talentos extraordinários que o time reúne.
Fosse um torneio em pontos corridos e, sem dúvida, em condições normais, com todas as estrelas 100%, o hexacampeonato estaria no papo.
Mas não está. Ao contrário.
A Copa do Mundo de 2006 será uma pedreira quase intransponível para os brasileiros.
Terão de vencer em campo e fora dele e não contarão com a tradicional boa vontade das arbitragens, como aquela, por exemplo, que inexplicavelmente anulou um gol belga, na Copa de 2002, ou inverteu a falta que valeu a vitória diante da Holanda, em 1994.
Na Ásia, o árbitro era da Jamaica(!). Na América do Norte, da Costa Rica(!!).
Certamente, não os mais indicados para jogos tão importantes, já na fase dos mata-matas.
E não vai aqui nenhuma teoria conspiratória, como foi tachado comentário semelhante em meu blog no UOL.
Acontece, em primeiro lugar, que o próprio presidente da CBF já declarou um dia, numa festa, sem saber que perto dele estava o repórter Bob Fernandes, em Beverly Hills, durante a Copa de 1994, que não se é campeão mundial apenas dentro de campo.
Por acaso, falou logo depois da vitória diante da Holanda.
Ricardo Teixeira, lembremos, é vice-presidente da Comissão de Arbitragem da Fifa, e não por causa de seu conhecimento das 17 regras do futebol, que simplesmente inexiste.
Em segundo lugar, a sexta conquista nacional, segunda em gramado europeus (a primeira foi na Suécia, em 1958, meio assim de surpresa), com Teixeira em busca do posto de Joseph Blatter na Fifa, será considerada como ofensa e um risco político, além de pôr em perigo o próprio equilíbrio da competição.
Ainda mais se considerarmos que a Copa de 2010 será disputada em campo neutro, na África do Sul (como o Chile, em 1962, os Estados Unidos, em 1994, e a Ásia, em 2002), e a de 2014, talvez, no Brasil, onde ninguém acredita que a seleção possa perder outra vez, como em 1950.
Ou seja, o hexa terá tudo para ser prenúncio do hepta e do octa, sinônimos de monotonia para o negócio do futebol.
E nem se leve em consideração a idéia de que sempre que a seleção sai do Brasil como favorita acaba por perder. Até porque, em 1962, foi para o Chile como tal e voltou como autêntica bicampeã.
Mas estarão em ação muito mais que forças ocultas, porque, se ocultas fossem, as cabeças que comandam o futebol não se oporiam tão intransigentemente à modernização das arbitragens.
Basta ver o esforço que se fez na última Copa para levar o mais adiante possível os anfitriões japoneses e sul-coreanos.
É claro que o talento dos gênios brasileiros pode destruir qualquer esquema.
Mas eles terão de estar conscientes do tamanho do desafio, mesmo que não admitam publicamente a temida armação.

Metamorfose
Ex-sócio de Pelé, Hélio Viana, em seu longo depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da CBF-Nike, em 3 de abril de 2001, foi categórico ao dizer que sua sociedade com o Rei do Futebol se limitava à participação na Pelé Sports & Marketing, no Brasil. Nas outras empresas agia, no máximo, como procurador. Eis que agora ele pleiteia, na Justiça, nada menos do que 40% de todos os negócios do "Atleta do Século", esquecido do que disse na Câmara dos Deputados.

Globalização
Pelo nível da arbitragem na partida da quarta-feira passada entre o Palmeiras e o venezuelano Deportivo Táchira, com dois gols irregulares, dá para reafirmar o de sempre: o problema do apito é poliglota. Apita-se mal em todas as línguas.


@ - blogdojuca@uol.com.br


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