São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

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JUCA KFOURI

Terceira classe com preço VIP


O que acontece no Pan-2007 já estava anunciado. Mas nem por isso deixa de ser criminoso e deprimente


HÁ QUEM diga que os Jogos Pan-Americanos são um evento como os Jogos Abertos do Interior, mas falados em espanhol.
É maldade.
Mas, de fato, são um evento de terceira classe no mundo esportivo.
A tal ponto que os norte-americanos nunca mandam seus melhores atletas. Fazem alguma concessão, no máximo, quando eles é que são os anfitriões.
Basta dizer que em toda a história de 14 edições do Pan (o primeiro foi em 1951), apenas dez recordes mundiais foram quebrados em suas pistas, piscinas ou estandes.
Para que se tenha uma idéia, só na última Olimpíada, em Atenas, foram batidas nada menos que 21 marcas mundiais.
Mais: sem querer desmerecer nada nem ninguém, entre os recordes batidos em edições do Pan estão quatro obtidos sob os efeitos do ar rarefeito da Cidade do México, em 1955 e 1975, inclusive os dois do salto triplo de Ademar Ferreira da Silva e de João do Pulo.
Outros três foram obtidos pela máquina de nadar Mark Spitz, dos Estados Unidos, em 1967, no Canadá, América do Norte.
E desde 1979, em San Juan de Porto Rico, quase 30 anos em 2007, que não se bate um recorde mundial em Pan.
Jogos de terceira classe.
Mas nem por isso, diga-se, deixam de ter sua graça.
Vamos acompanhá-los de perto e será gostoso.
E os Jogos Pan-Americanos têm (tinham) tudo para fazer bem à cidade do Rio, nosso melhor e mais belo cartão de visita.
Está na cara, no entanto, que não só não farão bem como farão mal. Ao Rio e ao país.
Porque a gastança desenfreada que os jornais vêm denunciando é criminosa (as TVs, por conta de transmitirem os Jogos se fazem de sócias do empreendimento e esquecem de fazer jornalismo, com a exceção de praxe, a ESPN Brasil).
Esta Folha, o "Estadão", o "Globo", o diário "Lance!", não passam um dia sem mostrar irregularidades, excessos, desmandos, cinismo, com dinheiro, muito dinheiro público (R$ 1,5 bilhão) no meio e que envolvem autoridades do governo e do glorioso COB, que ainda pede mais, mais e mais, chantagem que era prevista diante do fato consumado e da necessidade de salvar a imagem do país.
Neste carnaval deprimente, Momo não poderia ficar de fora, e eis que o Ministério do Esporte destinou mais de R$ 2 milhões para a Portela divulgar o evento em seu enredo, conforme está no Diário Oficial da União do último dia 19.
Até o Diário Oficial!
É claro que não tem graça, porque é dinheiro que faz falta aos projetos, capengas, de inclusão social por meio do esporte etc e tal.
Enfim, já que receber a Olimpíada será mesmo impossível a curto prazo, o Brasil resolveu gastar no Pan como se fosse no evento maior. Compramos um Fusca e pagamos como se fosse um Jaguar.
Fim dos dinossauros?
Alberto Dualib levou uma surra nas urnas e Mustafá Contursi levou outra, mais grave.
Alguma coisa acontece nos Parques, além da avenida São João.
Que o mal perdeu no São Jorge é evidente, embora nada indique que o bem tenha ganho.
E, no Antarctica, é óbvia a chance que está dada para sacudir a poeira e entrar no século 21.
E que os dinossauros nos perdoem, assim como os generosos coveiros perdoaram.
Explico: Dualib resolveu processar esta Folha e o colunista por ter sido incluído entre os coveiros do Corinthians.
Já os coveiros não se manifestaram. O que faria sentido.

blogdojuca@uol.com.br


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