São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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XICO SÁ

O Peixe é a maior diversão


Com o retorno de Robinho, o Santos pode colar nas paredes da Vila Belmiro um letreiro com esse slogan


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o bravo Luiz Severiano Ribeiro pendurava, em todos os seus milhares de salas espalhadas pelo país, uma singela plaqueta na qual se lia um mágico slogan: "Cinema é a maior diversão". É sobre esse mantra da sétima arte que medito ao saber do regresso de Robinho ao Santos Futebol Clube. Seu Alvaro, sr. presidente, pode colar nas paredes do estádio um letreiro semelhante, quase o mesmo dístico, agora em homenagem aos novos e velhos meninos da Vila.
Sim, o futebol, de novo, nem que seja por alguns momentos, é o que deveria ser sempre: a maior diversão. Como já foi na noite de anteontem, sob efeito da chegada do filho pródigo, com Neymar, Ganso e companhia transformando o gramado em um Playcenter. Ih, ai lá vem o cricri, o tarado dos resultados, com essa de que é muita firula, muitos dribles espetaculares, muita poesia em campo. Ora bolas, tem coisa mais bonita? E o melhor: é isso que ganha jogo.
Uma pedalada certeira, um chapéu ou um toque de letra desequilibram, minam as forças morais do mais tosco defensor. Na dramaturgia da batalha, é o que leva ao triunfo. Nem carece obrigatoriamente ser em direção ao gol, como querem os neoliberais da pelota. Pode ser lá na frente da mesinha da súmula ou naquele deserto intermediário onde fazem ninho os quero-queros. E quer saber? Vale a beleza, arte pela arte, ainda mais em um clube que já ganhou tudo no mundo. Deixa os meninos brincarem, como disse o Jorge Ben, Mr. Ben Jor. Vamos passear no parque?, emendou o santista Mano Brown, dos Racionais. Sem essa de discutir agora até o caráter do Robinho, como fazem as mesas redondas de Macunaímas e caras-pálidas. O cara estava infeliz, e homem infeliz não joga o jogo. Os seus pedais congelaram na Inglaterra, e, quando Robson ensaiava um pagode, os colegas atravessavam o ritmo com canção de Blur ou Oasis. Sua volta só engrandece o Paulista, incentiva os travessos de todos os clubes a arriscarem mais nas artimanhas. Te solta, Dentinho! É um desafio também para os garotos que se firmam no Peixe. Vale quem faz melhor e mais bonito.
Ainda creio, pelos ensaios, que Neymar seja o nome do ano, mas a parceria pode ser mais incrível, que é o que interessa nessa vida entediante, do que a dupla Robinho/Diego. Claro que vai aparecer também quem diga que essa molecada é muito leve e não pode jogar junta. Gente que diante do espetáculo grita clamando pelos brucutus. Vade retro! Quer saber quem está certo? Pergunte a uma criança o que ela prefere em campo. E chega dessa lenga- -lenga careta chamada David Copperfield, como diria o velho amigo J.D. Salinger, um dos maiores escritores da terra, que ontem encantou- -se de vez nas brumas da eternidade.

Fuerza, hermano
Em nome de tantas alegrias que nos deu o atacante paraguaio Salvador Cabañas, carrasco-mor dos brasileiros na Libertadores, o corvo Edgar manda todas as suas energias -ele também pensa positivo, acredite!- para o México, local da tragédia. Que se recupere dos tiros e volte logo aos estádios. Secadores do mundo, uni-vos nesta prece.

xico.folha@uol.com.br


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