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FUTEBOL
O tempo é relativo
TOSTÃO
Para se formar um grande time,
é necessário planejamento, ousadia, seriedade, boa comissão técnica, tática adequada às características dos jogadores, bom conjunto, sorte e principalmente talento individual.
O leitor Raimundo dos Santos
me pergunta quanto tempo é preciso para que bons jogadores formem um bom conjunto. Não sei.
O tempo é relativo. Às vezes, ele
somente serve para aumentar os
erros e revelar as deficiências.
As grandes equipes da história
do futebol se descobriram de repente.
Cruyff escreveu que a excepcional seleção da Holanda nasceu
dias antes de sua estréia na Copa
do Mundo de 74. Por falta de entrosamento, resolveram inovar e
encantaram o mundo com um futebol revolucionário. Existem outras dezenas de exemplos.
Para se formar um bom conjunto, muito mais importante que o
tempo são as características dos
jogadores. A primeira vez que joguei com Dirceu Lopes, no Cruzeiro, nós dois com 17 anos, parecia
que atuávamos juntos há uma
eternidade.
As qualidades que me faltavam,
sobravam no Dirceu e vice-versa.
Antes da bola chegar, um adivinhava a futura posição do outro.
É a comunicação analógica, corporal, sem palavras, muito mais
rica que a digital e consciente.
Uma boa orquestra precisa de
bons e variados instrumentos. Cada um tem seu brilho.
Quando se afinam, nasce um espetáculo grandioso, independentemente do tempo.
Sou a favor dos campeonatos estaduais por causa da rivalidade
das equipes, da tradição, mas
penso que eles deveriam ser ainda
mais curtos. Eles também servem
para que os tradicionais dirigentes se perpetuem no poder.
A cada ano nota-se claramente
a queda de qualidade técnica dos
pequenos times, com poucas exceções. Os grandes do Rio, São Paulo
e Minas Gerais (Estados que tenho oportunidade de acompanhar o futebol de perto) aplicam
goleadas e precisam jogar muito
mal, principalmente em casa, para serem surpreendidos.
Alguns jogadores modestos se
destacam nos estaduais e iludem
treinadores e torcedores.
Outros, consagrados como Romário, aproveitam para manter o
prestígio e dar seu show com gols
maravilhosos. O Baixinho foi o
artilheiro dos últimos quatro estaduais, mas não repete a atuação
no Brasileiro, por falta de melhor
condição física, de sequência nos
jogos, pelas seguidas contusões e
qualidade dos adversários.
A fragilidade das pequenas
equipes nos campeonatos estaduais reafirma a suposição de que
esses clubes terão dificuldades de
sobreviver com a profissionalização e modernização do futebol,
que ainda não chegou ao Brasil.
Provavelmente os pequenos clubes terão que se associar para aumentar suas torcidas, conseguir
bons patrocinadores e formar
bons times.
O que vai valer para saber o
quanto a empresa vai investir será
o tamanho da torcida.
Após as goleadas contra os times
pequenos, o Flamengo se iludiu
que tinha uma grande equipe.
Joel explorou muito bem o fraco
lado direito do adversário. Maurinho fechava para o meio como
um terceiro zagueiro, e o habilidoso e rápido Misso aproveitava
esse espaço. Catê, apesar de veloz,
não conseguia marcá-lo. O ponta-direita do Flamengo já é fraco correndo para frente, pior ainda para trás.
Reinaldo, a jovem promessa do
Mengo, artilheiro do campeonato
ao lado do Edmundo, precisa jogar bem por mais tempo para ser
convocado para a seleção olímpica. O atacante Lucas, do Atlético-PR, brilha com mais intensidade
há mais tempo.
O Vasco segue vencendo, mas
ainda não enfrentou um dos
grandes. Se achar que está tudo
ótimo, cai do cavalo, como o Flamengo.
O companheiro José Geraldo
Couto lançou, brilhantemente,
uma dúvida em sua coluna: ""A
disputa entre Romário e Edmundo está tão deliciosa que me leva a
desconfiar: será que os dois não
estão de gozação com todo mundo, simulando uma rixa que não
existe (como a do Maluf e Pitta,
segundo Nicéa)?".
Se não for uma simulação, suponho que eles não só gostaram,
como, consciente ou inconscientemente, estão explorando a briga.
Seus empresários devem estar
gostando da audiência. Os dois jogadores não combinaram, mas
podem ter feito um pacto subliminar, sem palavras e documentos
assinados.
Se continuarem a fazer belíssimos gols, seremos todos, com prazer, testemunhas do contrato.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
Tostão escreve às quartas-feiras e aos domingos
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