São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Aos 86, morre Balestre, "inimigo público" do país durante os anos Senna

François Willemin - 31.out.89/France Presse
Jean-Marie Balestre em entrevista sobre a punição a Ayrton Senna na sede da FIA, em 89

DA REDAÇÃO

Se os protestos contra Julio Botelho no Maracanã antes da Copa de 58 tornaram-se célebres como "a maior vaia da história do Brasil", as cenas vividas em Interlagos antes do GP Brasil de 90 merecem o recorde de manifestação um tom acima. Ou abaixo, se levada em conta a qualidade do vocabulário: o de palavrões contra um só indivíduo.
No caso, Jean-Marie Balestre. Francês, então presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), envolvido numa pesada polêmica com Ayrton Senna. Um inimigo da pátria -outros tempos, em que piloto de F-1 era paixão nacional.
Sentimento que já havia provocado até manifestação, em janeiro daquele ano, diante do Consulado da França em São Paulo. E que explodiu em xingamentos, naquele 25 de março, quando o dirigente surgiu num Interlagos lotado.
A crise começara cinco meses antes, em outubro de 1989. Na 47ª das 53 voltas do GP do Japão, Alain Prost, na iminência de ser ultrapassado, jogou o carro contra o do brasileiro. Abandono dos dois daria o título ao francês.
Senna pediu ajuda aos fiscais, foi empurrado, conseguiu voltar à pista, trocar o bico, ultrapassar Alessandro Nanini e vencer. Para nada.
Sob ordem de Balestre, os comissários desclassificaram o brasileiro, com a alegação de que ele cortou uma chicane ao ser empurrado. A punição deu o título a Prost e gerou uma série de declarações de Senna contra o dirigente.
Declarações que culminaram com multa de US$ 100 mil e com a ameaça de cassação da sua superlicença.
O brasileiro precisou escrever uma burocrática carta de desculpas para correr -e vencer- o Mundial de 90.
Mas Balestre foi mais do que o desafeto de Senna.
Nascido em 1921 na Provença, começou a trabalhar ao 16, como jornalista esportivo. Na Segunda Guerra, atuou ao lado dos nazistas e foi preso quando as forças aliadas retomaram o país.
Solto, montou um jornal de automobilismo e, em 1952, ajudou a fundar a federação francesa. Tornou-se cartola e, em 1978, criou a Fisa, contra a FIA, a federação legalista, e em guerra contra a Foca, a associação de construtores. Disputa de poder e dinheiro.
O confronto com Bernie Ecclestone, líder da Foca, só terminou em 1982. E, quatro anos depois, Balestre assumiu também a FIA, cargo que manteve até 1991, quando foi substituído por Max Mosley, até hoje no poder. Nos últimos anos, virou "presidente honorário da FIA" e aparecia raramente em eventos.
Aos 86, Jean-Marie Balestre morreu na França, de causa não revelada. (FÁBIO SEIXAS)


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