São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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Scolari descarta seleção inglesa

Treinador condena assédio da mídia britânica na porta de sua casa em Portugal, afirma que não vai assumir English Team após a Copa da Alemanha e deixa cartolas desnorteados

Wolfgang Rattay/Reuters
Scolari participa de evento no hotel que abrigará Portugal na Copa


FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Luiz Felipe Scolari desnorteou a Inglaterra ao anunciar ontem que não será treinador da seleção de futebol do país. Sua contratação após a Copa, em substituição ao sueco Sven-Göran Eriksson, era tratada como certa pela mídia inglesa havia dois dias.
O próprio Scolari deu entrevista ontem de manhã em Lisboa confirmando as negociações e insinuando que poderia aceitar o convite para assumir o cargo ao final do Mundial da Alemanha, quando termina seu atual contrato, com a seleção portuguesa.
Mas, horas depois, em território alemão, durante um evento no hotel onde Portugal se hospedará durante a Copa, convocou os jornalistas e comunicou que estava fora do barco inglês.
Alegou que não suportaria conviver com o assédio da mídia britânica, do qual teve um aperitivo desde que foi "confirmado" no cargo pelos veículos locais.
"Em dois dias, a minha vida foi invadida, a minha privacidade foi cerceada. Ainda hoje [ontem] tem 20 repórteres na frente da minha casa. Isso não faz parte da minha vida e nunca vai fazer", declarou.
"Não sou, não fui e nem serei o técnico da Inglaterra. Fiquei feliz com a conversa e por eles terem lembrado de mim, mas quero colocar um ponto final nisso, encerrar esse assunto aqui."
O técnico, que conquistou o pentacampeonato com o Brasil em 2002, argumentou que, desde que a notícia veio à tona, recebeu pedidos emocionados de portugueses para que se dedique à seleção do país e ao Mundial. "Tive a noção de que ainda sou muito importante em Portugal. Vamos seguir juntos até a Copa, funcionar como uma grande família."
Atordoados, os ingleses especulavam o que poderia estar por trás da decisão. A rádio BBC Five informou que o real motivo foram ameaças de morte recebidas pela família de Scolari após a divulgação das negociações. De acordo com a emissora, as ameaças foram feitas em Portugal.
Na edição de ontem -portanto antes da desistência de Scolari-, o tablóide "The Sun" disse que o brasileiro queria 5 milhões de libras anuais, o dobro do que teria oferecido a FA (Football Association, a federação inglesa).
Boa parcela do ônus do fracasso pode ser creditada à própria FA. Ao divulgar que definiria o sucessor de Eriksson antes do início da Copa, para evitar que especulações atrapalhassem o time na competição, a entidade ainda não contava que o escolhido seria alguém com o gênio indomável de Scolari -para piorar, técnico de uma seleção que pode cruzar com a Inglaterra nas quartas-de-final do torneio na Alemanha.
Ou seja, a FA caiu na armadilha que tentou desarmar ao antecipar o processo de escolha. Ontem a federação emitiu uma nota afirmando que irá "refletir" sobre as declarações de Scolari antes de fazer outros comentários.
A decisão do técnico gaúcho evita assim uma situação que poderia ser insustentável para alguém que nutre ojeriza pelo interesse da imprensa em relação à sua vida particular e sempre foi refratário a críticas.
O mesmo Scolari que em 1998, quando treinava o Palmeiras, socou um repórter por se irritar com uma pergunta e sai do sério sempre que abordam sua família, começou a ter, ontem e anteontem, sua intimidade e seu passado devassados pela mídia londrina, que destacou, por exemplo, a fama de machão do técnico.
E é justo a vida privada das figuras públicas o que alimenta a poderosa e rentável máquina dos tablóides sensacionalistas locais.
Foi um desses tablóides, o "News of The World", que precipitou a saída de Eriksson, cujo contrato ia até 2008, mas foi abreviado após o caso do "falso xeque". Em janeiro, um repórter se fantasiou de magnata árabe e arrancou do sueco confissões que o comprometeram (disse que toparia trocar a seleção por um clube após a Copa) e embaraçaram craques como o meia David Beckham e o atacante Michael Owen.


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