São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2011

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XICO SÁ

Túmulo do futebol


Os clássicos em SP, sem bandeira e com apenas uma goela nas arquibancadas, perderam a graça


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, eis aqui esse classiquinho feito de uma torcida só, outros vão gritar em casa mas no campo uma só, esta outra é proibida de blasfêmia e de torcer, cronicamente inviável só me resta o maldizer...
Não me interessa saber o nome do gênio que inventou essa fórmula de clássico manco de apenas um time com camisa 12 no estádio, não vale um clique no Google nem um telefonema para o Vitor Birner, não vale, perdeu a graça, assim como esse tipo de jogo em São Paulo, como a peleja entre Palmeiras e Corinthians.
Futebol sem bandeira, sem batuque, sem charanga e ainda por cima com apenas uma goela nas arquibancadas. Só sendo de propósito, para fazer das novas gerações torcedores de sofá mesmo, todo mundo escravo da hegemonia televisiva e do seu pesque e pague para ver. Boa teoria conspiratória, caro Kurt Vonnegut, não acha?
O forte futebol paulistano merece mais festa e menos sisudez, túmulo do futiba uma ova, lutemos contra isso. Sem essa de reproduzir o conto tucano- -kassabista de tornar São Paulo uma cidade proibida. Já vimos, por todos os ângulos e tira-teimas, que não é esse tipo de veto que zera a violência.
Sejamos mais dionisíacos e menos apolíneos, para seguir uma lição que dá certo desde a Grécia Antiga.
O final de semana será festivo no Flamengo x Vasco do Rio, no Ba-Vi do Barradão, no Náutico x Sport, no Santa Cruz x Porto, no Galo x América (MG), no Gre-Nal...
Aqui em São Paulo só tem restado o cinza das arquibancadas e a tensão pré e pós jogo. Sei que a turma legalista baba nessa hora e vem amparada em tudo que é regulamento, estatuto, ofícios, portarias, a fria letra da lei etc. etc. Como se esse catatau de inutilidades não pudesse ser mexido, afinal de contas é feito por homens e não por deuses intocáveis.
Tudo bem, não podemos mexer até domingo, mas pelo menos vamos pensar na crítica e, quem sabe, velho Thoreau, em eventuais desobediências civis. Em alguns momentos, nada mais legítimo para sair do sufoco.
No mais, Senhor, livrai-nos das coisas chatas da vida, é cheiro de Santos x Corinthians na final paulista, Flamengo campeão carioca, Sport quebrando o monopólio do hexa em Pernambuco, Grêmio redimido do vexame na Libertadores... Galo nas Gerais e Guarani de Juazeiro, o Leão do Mercado, campeão cearense pela primeira vez, para a glória do Cariri, a Catalunha nordestina.

xico.folha@uol.com.br
@xicosa


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