São Paulo, sexta, 29 de maio de 1998

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FUTEBOL
Grupo está dividido entre os que querem cortar o atacante, lesionado, e os que preferem mantê-lo na seleção
Caso Romário detona crise na seleção

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Ronaldinho (à frente) e Zé Carlos (de amarelo) bocejam durante aquecimento da seleção, ontem


ALEXANDRE GIMENEZ
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCELO DAMATO
Ozoir-la-Ferrière

O futuro de Romário na seleção brasileira detonou uma crise dentro da comissão técnica. Uma facção defende uma decisão sobre o corte no máximo até a terça-feira, a outra quer mantê-lo a todo custo no grupo, mesmo se ele nem puder jogar na abertura da Copa do Mundo, no próximo dia 10.
O técnico Mario Zagallo, o chefe da comissão técnica, está no meio dessa disputa e não se definiu.
A data-chave para esse confronto é a próxima terça-feira, 2 de junho. Nesse dia, a Confederação Brasileira de Futebol tem que enviar a lista dos 22 jogadores que poderão disputar a Copa. Depois disso, só há mais uma chance de mudança, ainda assim arriscada.
Até o dia 10, qualquer seleção poderá pedir a substituição de algum jogador que se contundir, mas essa mudança terá que ser aprovada por uma comissão médica da Fifa.
Se Romário for incluído na lista do dia 2, será muito mais difícil cortá-lo depois.
A facção dominante até agora é a favorável à sua manutenção na equipe. O membro mais eloquente desse grupo é o médico Lídio Toledo. Para defender sua posição, ele vem tentando ocultar do conhecimento público a gravidade da contusão de Romário.
Nos últimos sete dias, Toledo repete a mesma frase: "É só uma dor, em três dias, ele deve voltar a treinar".
Mas, nesse período, os fatos desmascararam Toledo. O coletivo de terça foi cancelado porque Romário não poderia jogar. Nesse dia, anunciou-se que ele não enfrentaria o Athletic Bilbao, no domingo.
Na quarta, foi revelado que ele tem um edema na perna direita, evidenciando a mentira da versão da dor muscular.
E ontem Toledo teve que admitir que o jogador não vai enfrentar a seleção de Andorra e pode nem mesmo participar da estréia do Brasil na Copa, contra a Escócia.
Mas o médico não perdeu a pose: "Se não jogar contra a Escócia, ele vai enfrentar o Marrocos. Não tem problema nenhum nisso". Ele sustenta a história da dor, mesmo tendo usado oito vezes a palavra lesão para definir a situação do jogador.
Além disso, Toledo tem o apoio do supervisor Américo Faria e dos dois jogadores mais importantes da equipe, o volante Dunga, que também está machucado, e o atacante Ronaldinho.
Até ontem, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, estava a favor da manutenção do jogador. Em situações de impasse, como esse, ele costuma dar a palavra final.
Para reforçar sua posição, Toledo rompeu um acordo interno da comissão técnica e anunciou que houvera uma reunião após o almoço e que havia sido decidido que não haveria cortes.
"Romário e Dunga vão ficar até o fim da Copa. Essa decisão é final e todos os membros da comissão técnica estão de acordo com ela."
Mas a Folha apurou que a decisão final ainda não está tomada. Toda a comissão técnica está preocupada com a gravidade da lesão do jogador. Ele voltou a sentir dores depois que passou a treinar no campo e teve que voltar aos exercícios na bicicleta ergométrica. Romário não aguenta correr.
Com as declarações de ontem, Toledo tenta forçar a manutenção do jogador.
O técnico Zagallo, entretanto, não gostou da atitude do seu auxiliar e amigo de mais de 30 anos.
"O Lídio falou da reunião. Então vão perguntar a ele sobre ela."
O coordenador técnico Zico, o maior defensor de uma decisão rápida também se irritou com a atitude de Toledo: "Eu não vou comentar as coisas que eu digo em reuniões da comissão técnica. Não vou comentar o que o doutor Lídio disse."
Traumatizado pela sua própria experiência na Copa de 1986, quando foi mantido na equipe e só participou de duas partidas, ainda assim parcialmente, Zico não quer um jogador sem condições ideais.
Foi essa posição que o levou a pressionar Zagallo a renunciar à convocação do meia Juninho, na véspera da apresentação da lista de convocados, em 5 de maio.
Zico também defende agilidade nas decisões. Além disso, ele e Romário não têm boas relações desde 1995, quando o atacante rebateu com hostilidade críticas feitas pelo ex-jogador do Flamengo à diretoria do clube.
Zico também caiu em contradições sobre o caso. No final da semana passada, ele afirmou que a comissão tinha como hábito discutir problemas existentes e que poderia ocorrer cortes.
Disse até que já havia consenso sobre que jogador convocar no caso de corte de cada um dos 22 convocados.
Ontem, porém, disse: "Não existe nenhum nome definido para o caso do Romário ser cortado."
Mas foi desmentido na sequência por Zagallo que garantiu que ele existe, mas que só será anunciado no "momento oportuno".



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