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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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FUTEBOL

Gol de ouro

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A morte súbita ganhou muito espaço no futebol mundial nos últimos anos. De forma oficial, pois uma regra foi tristemente batizada com esse nome, e de forma não-oficial, na medida em que vários jogadores têm perdido a vida em campo pelo planeta.
O caso de Marc-Vivien Foe chocou a todos nos últimos dias. Milhões assistiram à morte do bom jogador camaronês ao vivo, em um torneio oficial da Fifa, na França, em uma semifinal...
Mas há dezenas de atletas profissionais que são vítimas fatais, mais especialmente de problemas cardíacos, que não aparecem na grande mídia. O jornal norte-americano ""The New York Times", além desta Folha, abriu espaço para uma interessante pesquisa feita por cardiologistas do Milan, da Itália, que apontou uma tendência a problemas cardíacos em jogadores africanos.
Futebol é uma atividade física que hoje, por várias razões, exige um alto rendimento. Os números de mortes na modalidade estão longe dos que são verificados no alpinismo ou no automobilismo, mas são consideráveis pelo grande número de praticantes.
Maratona de jogos, doping, partidas sob alta temperatura, estresse... Muitas teorias e muitas bobagens estão sendo ditas agora, quando "caiu a ficha" de que a morte ronda o futebol. Uma reunião do Comitê Executivo da Fifa que tinha na pauta o número de participantes da Copa do Mundo ficou pequena diante do ocorrido na quinta-feira, em Lyon, na Copa das Confederações.
Foi uma fatalidade sim. Lyon era uma segunda casa para Foe. Sua mulher, uma mamãe recente, estava no estádio. Os franceses sempre tiveram carinho por ele (seus companheiros de Lyon que entraram em campo pouco depois da tragédia nem se fala), mas um alerta, um sinal foi dado.
A Inter, despretensiosamente, descobriu uma disfunção cardíaca em Kanu. Havia investido bastante no atleta e apostava em seu sucesso até essa descoberta. Abriu mão do nigeriano, que teve que passar por uma cirurgia para saber se continuava com a carreira.
O homem que tirou com grande vigor físico e saúde, na morte súbita, a medalha de ouro olímpica do Brasil é quase tão vulnerável quanto se mostrou Foe. Jogador não é máquina, é humano.
Foe adorava tanto a Bíblia quanto as suas chuteiras da sorte. Era supersticioso e religioso -Lens e Lyon se unirão em missa para ele nas próximas horas.
Perdeu a chance de fazer a independência financeira de toda a sua família em 1998 quando quebrou a perna e, por isso, não assinou contrato com o Manchester United. A saúde também o traiu em 2000, quando contraiu malária e demorou a se recuperar.
Atletismo era o seu esporte favorito. E a razão pela qual ele escolheu o futebol não está clara, assim como a causa de sua morte.
A Fifa não é culpada pelo que ocorreu com Foe nem erra em seguir com a disputa, que verá uma final toda dedicada ao homem que pode dar vida à Copa das Confederações (com o nome dele, talvez essa ganhasse fôlego e razão). Mas viu que um homem é mais importante que um torneio.

Gol de prata
Neste fim de semana a nova regra para definir o vencedor quando há prorrogação será colocada bastante em prática. São 21 confrontos da Copa Intertoto (jogos de ida e volta) que poderão ser decididos no gol de prata (se um time termina em vantagem o primeiro tempo da prorrogação, não há segundo tempo). Na temporada 2003/04, a regra valerá em todo mata-mata da Copa da Uefa e da Copa dos Campeões. Na temporada que acabou há pouco, o regulamento só previa gol de prata na final, apesar de a coluna de 11 de maio ter incluído equivocadamente essa possibilidade nas quartas e nas semifinais.

Gol de lata
Quando a Fifa incumbiu a Conmebol de elaborar uma Copa decente com 36 times já tinha a decisão: o Mundial não incharia. Que mico!

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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