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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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FUTEBOL

Razão e emoção

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A seleção brasileira já está quase escalada para a estréia nas eliminatórias da Copa de 2006, com Dida, Cafu, Lúcio, Roque Júnior (Edmilson) e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Kléberson (Emerson) e Zé Roberto; Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo.
Como Kléberson não tem jogado bem, e o Parreira já disse várias vezes que gosta da equipe com dois volantes mais marcadores, para liberar o avanço dos laterais, é possível que Emerson entre no seu lugar. O Fernando Calazans vai adorar.
Ricardinho está com um futebol cada vez mais curto, miúdo, atuando numa faixa muito estreita. Zé Roberto tem mais mobilidade. Os dois e o Kléberson são bons, importantes para os seus clubes, mas têm pouco brilho para a seleção.
O Brasil tem cinco excepcionais meias ofensivos (Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Alex, Kaká e Diego) e nenhum craque, organizador, magnetizador (gostei dessa palavra utilizada pela Soninha) no meio-campo. Esse é um problema mundial. O francês Zidane é exceção. Ele faz bem as duas funções.
Isso acontece porque houve uma divisão no meio entre os armadores defensivos (volantes), que desarmam e tocam para o lado, e os ofensivos, que atuam na intermediária do outro time. Acabaram com os típicos jogadores de meio-campo.
Se o Parreira optar por dois volantes mais marcadores, ele deveria buscar outras alternativas, como tentar adaptar o Diego a uma nova função, no lugar do Zé Roberto. Alex não tem características para fazer isso.
Outro excelente armador, esquecido por todos os técnicos da seleção, é o Juninho Pernambucano. Ele não foi chamado para a Copa das Confederações por decisão técnica. Juninho ataca e defende bem. Ele é o único excelente meia-direita com essas características. Será que existe algum problema entre ele e a CBF?
A outra dúvida do Parreira é tática. O técnico pode jogar com uma linha de quatro no meio-campo (dois volantes e um meia de cada lado) ou com três e um jogador mais livre, entre o meio e o ataque. A principal vantagem de atuar com dois volantes é, em alguns momentos, recuar um deles para ser um terceiro zagueiro e liberar os laterais.
No esquema com dois volantes e um armador de cada lado, esses formam duplas com os laterais, na defesa e no ataque. Há mais jogadas pelos flancos e poucas pelo meio. Perdem-se as trocas de passes na entrada da área, um estilo mais encantador.
Todas essas opções táticas têm vantagens e desvantagens. Esse não é o problema, nem o toque de bola dos times dirigidos pelo Parreira. Quando a equipe vence, elogiam a troca de passes; quando perde, dizem que o time só jogou para o lado.
A troca de passes, sem afobação e pressa para chegar ao gol, é uma das principais virtudes do futebol brasileiro. Contra EUA e Camarões, não houve excesso, e sim falta de toque de bola.
O que discordo nas equipes treinadas pelo Parreira é a forma de marcar. Os seus times nunca marcam por pressão. Recuam e fecham os espaços na defesa. É preciso treinar as duas opções.
A melhor maneira de vencer uma forte marcação é tomar a bola no campo do outro time. Quando se pressiona um jogador sem habilidade, ele perde a bola. Aí, fica mais fácil chegar ao gol. Além disso, evita que o rival toque a bola e "goste do jogo".
O racional, científico e previsível Parreira deveria assimilar um pouco da improvisação, ousadia e emoção do Felipão. E vice-versa. Seria o técnico ideal.

Time e torcida nas mãos
O Boca Juniors ganhava do Santos por 1 a 0, seria importante para os argentinos fazerem o segundo gol, e o técnico Carlos Bianchi trocou um atacante por um volante. O Santos passou a pressionar, não porque jogava bem e o Boca estava com medo, e sim porque o técnico argentino quis atrair o rival e tentar mais gols no contra-ataque.
O Santos dominou no segundo tempo, mas criou poucas chances de gols, e o Boca não contra-atacou bem. As duas equipes jogaram menos do que se esperava.
Se um técnico brasileiro, jogando em casa, recuasse o time, seria criticado e chamado de burro pelos torcedores. Esses continuaram dançando, cantando e torcendo. Como se diz no jargão do futebol, Bianchi não tem somente o time nas mãos, mas também a torcida.

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