São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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JUCA KFOURI

Virada à Dunga


Uma aposta que tinha tudo para dar errado acabou dando certo. E, sem salto alto, dá para pensar no hexa


A APOSTA que tinha tudo para dar certo, em 1990, com Paulo Roberto Falcão como técnico da seleção, deu errado. E a aposta que tinha tudo para dar errado, com Dunga, deu certo. Mas por quê?
Porque ele é mais importante que os jogadores?
Certamente não.
Porque é um estrategista?
Também não.
Porque é um motivador raro?
Outra vez não.
Mas porque conseguiu fazer um time se comportar à sua imagem e semelhança, até feia, carrancuda, mal-humorada, mas séria, compenetrada e, sem dúvida, vitoriosa. Não fosse assim, aliás, e seu time não teria virado como virou o jogo de ontem em Johannesburgo, mesmo depois de um primeiro tempo em que foi pego de surpresa por dois gols incomuns para o sistema de defensivo que montou. Se, na Alemanha, o bi da Copa das Confederações significou um favoritismo desmedido para a conquista do hexa e que se travestiu em ambiente de festa permanente e de irresponsabilidade do comando e dos jogadores, eis aí um risco que o tri não trará para a busca da sexta estrela na África do Sul. Porque, se duvidar, no avião de volta ao Brasil, Dunga já discursou com sua frase favorita neste momento. Sim, porque até isso agora ele se dá ao luxo de fazer, fazer frases, para ciúmes de muitos: "O futebol não tem nem passado nem futuro. Só tem presente, e o presente é agora". Isso ele disse antes de decidir com os Estados Unidos e certamente já considera a decisão, vencida de maneira até dramática, como coisa do passado, porque o presente é o desafio em Rosario, diante da Argentina, em setembro, pelas eliminatórias, quando a seleção buscará a nona vitória seguida. Por mais que se force a imaginação não dá para imaginar os jogadores de Dunga na balada durante uma competição como a Copa do Mundo, nem Robinho, que, aliás, não foi bem, como não foram bem os laterais-esquerdos, nem os reservas do ataque, embora Nilmar tenha sido apenas um turista. A seleção que tem a cara de Dunga no banco tem a cara de Lúcio no campo, o suficiente para assustar os mais folgados. Ou a de Kaká, nada assustadora, ao contrário, mas mais que angelical. E, se a confusão entre futebol e religião incomoda, Dunga faz dela uma solução até ao ter Jorginho como seu anjo da guarda. Pois, quando um time que está perdendo de 2 a 0 volta do intervalo sem nenhuma mexida, é porque ouviu de seu comandante que confia na reviravolta com quem está lá, algo que os estrategistas hão de considerar inconcebível. Só que com Dunga está dando certo para a alegria de quem apostou nele, registre-se, Ricardo Teixeira. E, por que não, para a alegria de quem gosta de vitórias, com beleza ou arrancadas à força, mas vitórias. Vitórias como a de ontem, que teria sido épica se diante de alguma escola com mais tradição, mas que não deixou de ser até pela necessidade de ganhar também da arbitragem, que não validou um gol claro de Kaká. Ainda bem que não impediu os dois de Luis Fabiano e o do guerreiro capitão Lúcio. blogdojuca@uol.com.br


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