São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2011

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TOSTÃO

Saudades do que não vi


No passado, medíocre era medíocre. Não dava pra enganar. Agora, virou jogador tático


A MODA É DIZER que o futebol uruguaio renasceu. Não é bem assim. A estrutura profissional dos clubes é precária se comparada aos grandes times brasileiros. Na seleção uruguaia, não há um único jogador, nem na reserva, que atue no país.
Na Argentina, só tem um, o goleiro reserva Carrizo. Nas outras seleções sul-americanas, ocorre al- go próximo.
A seleção do Uruguai é boa porque possui um ótimo conjunto e, principalmente, por terem surgido, coincidentemente na mesma época, vários bons jogadores.
Por causa da valorização do real, do crescimento econômico e do marketing agressivo, às vezes irresponsável, já que continuam com enormes dívidas, os clubes brasileiros contratam jogadores caríssimos e possuem uma estrutura profissional de países ricos. Mesmo assim, fora o Santos, os outros foram eliminados da Libertadores.
O Santos é campeão, merecidamente, porque tem um bom técnico, um presidente visionário e ao mesmo tempo prático e, principalmente, por ter dois dos melhores jogadores da seleção principal.
Quando critico jogadores, técnicos e o estilo de se jogar no Brasil, alguns modernosos acham que, por ter sido atleta de uma época de grande qualidade e bastante glamourizada, sou saudosista, romântico, utópico.
Querem que eu goste de coisas boas, que valorizo e elogio, e também do futebol feio, com excesso de faltas, de jogadas aéreas e de chutões para a frente. Confundem emoção com qualidade técnica.
No passado, jogadores tinham mais espaço para brilhar e também para mostrar suas limitações.
Craque era craque. Medíocre era medíocre. Não dava para enganar. Hoje, medíocre virou jogador importante, tático.
Repito, pela milésima vez, que, no passado, havia grandes craques e times, mas havia também partidas e jogadores medíocres. O número de faltas era menor, porém, elas eram mais desleais.
Hoje, muitas coisas boas, técnicas e táticas foram incorporadas ao jogo. É assunto para outra coluna.
As pessoas costumam ter mais saudade de si mesmas que do passado. Talvez, por ter sido, antes e agora, mais crítico comigo que com os outros, sei separar as coisas boas e ruins do passado e do presente. O passado é um aprendizado para entender e analisar o presente.
Minha nostalgia é mais pelo que não vi nem vivi e que gostaria de ter vivido. Aliás, não perca o novo, gostoso, despretensioso e belo filme de Woody Allen, "Meia-Noite em Paris", sobre a nostalgia.


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