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FUTEBOL
Abram alas para Alex
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A vitória brasileira sobre a
Argentina pode não ter abalado a arrogância luxemburguesa, como mostrou reportagem de
ontem da Folha, mas deixou eufóricos jogadores e torcedores brasileiros.
Ganhar de nossos "vecinos"
ainda é a melhor receita para sair
do baixo astral.
O que nos alegrou a todos não
foi tanto o placar, mas a volta de
um futebol ofensivo, atrevido e seguro de si.
É como escrevi antes do jogo: os
brasileiros podem até não ser
mais os melhores do mundo, mas
sabem jogar esse troço chamado
futebol. Quarta-feira isso ficou
provado.
Agora que a poeira das comemorações começa a assentar, é
possível olhar a partida com certa
frieza e reconhecer que a seleção
brasileira esteve longe de ser perfeita.
Nossa zaga, por exemplo, voltou
a mostrar má colocação e nervosismo. Esse problema defensivo
crônico advém, a meu ver, de três
fatores:
1) uma safra pouco animadora
de zagueiros;
2) a rotatividade dos jogadores
escalados, o que dificulta o entrosamento entre eles;
3) a ausência (ou insuficiência)
de treinamento específico para o
setor, sobretudo quanto ao posicionamento.
Sempre haverá quem defenda
um meio-campo mais "pegador"
(eufemismo para trombador) como modo de policiar melhor a
nossa defesa.
Nessa linha de raciocínio, ganham força Emerson, César Sampaio, Flavio Conceição e jogadores similares.
Sou contra e explico o porquê:
com volantes como os citados, que
são pouco capazes de fazer a bola
chegar redonda ao campo de ataque, a tendência é fazer com que o
jogo se torne um bate-volta parecido com um pingue-pongue ou
um pebolim (que os cariocas chamam de "totó").
Ou seja: há, eventualmente, desarme, mas não há criação de jogadas, o que torna muito maior o
desgaste do meio-campo e da própria defesa, já que a iniciativa retorna a todo momento para o adversário.
Acho que a partida contra a Argentina demonstrou que é muito
mais negócio ter um volante com
mobilidade e ousadia, como
Vampeta, do que um burocrata
da destruição.
Só um defensivista empedernido censurará Vampeta por ter
"exposto a defesa" com seus
avanços.
Pois o que aconteceu foi o contrário: os argentinos é que tiveram um jogador a mais com
quem se preocupar.
É muito mais fácil treinar um
esquema de cobertura para volantes versáteis e ofensivos do que
fazer de um trombador uma opção válida de ataque.
É compreensível que uma Nova
Zelândia da vida se preocupe
mais em não tomar gol do que em
fazer.
Mas para o Brasil esse raciocínio é um retrocesso mais humilhante do que qualquer derrota
para o Paraguai.
Os argentinos devem estar pensando que o Brasil escondeu o jogo nas partidas anteriores, com o
objetivo de surpreendê-los.
Só isso explicaria o fato de Alex,
Vampeta e Ronaldinho terem ficado fora delas.
Quando entraram em campo,
aconteceu o que todo mundo viu:
jogaram muita bola e botaram os
"hermanos" na roda.
O fato de os destaques da seleção terem sido justamente atletas
que ainda estão no Brasil reforçou a tese de muita gente de que a
seleção deveria ser formada sem
"estrangeiros", que começam a
ser vistos como "mascarados" e
"pipoqueiros".
Roberto Carlos e Rivaldo são os
mais visados.
Há exagero e preconceito nisso,
claro. Mas, se houve alguém que
destoou, do meio para a frente, foi
justamente Rivaldo.
Rodando feito uma enceradeira, incapaz de uma jogada criativa, ele fez lembrar o Zinho da seleção de 1994.
A eleição de melhor do mundo
não fez bem a ele. Na verdade, hoje, Rivaldo não é nem o melhor do
Brasil. Quem é, então? Meu voto,
sem pestanejar, vai para Alex, senhor dos grandes e dos pequenos
espaços, modulador de ritmos,
geômetra e artista. E o seu?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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