São Paulo, sábado, 29 de julho de 2000


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FUTEBOL
Abram alas para Alex

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A vitória brasileira sobre a Argentina pode não ter abalado a arrogância luxemburguesa, como mostrou reportagem de ontem da Folha, mas deixou eufóricos jogadores e torcedores brasileiros.
Ganhar de nossos "vecinos" ainda é a melhor receita para sair do baixo astral.
O que nos alegrou a todos não foi tanto o placar, mas a volta de um futebol ofensivo, atrevido e seguro de si.
É como escrevi antes do jogo: os brasileiros podem até não ser mais os melhores do mundo, mas sabem jogar esse troço chamado futebol. Quarta-feira isso ficou provado.
Agora que a poeira das comemorações começa a assentar, é possível olhar a partida com certa frieza e reconhecer que a seleção brasileira esteve longe de ser perfeita.
Nossa zaga, por exemplo, voltou a mostrar má colocação e nervosismo. Esse problema defensivo crônico advém, a meu ver, de três fatores:
1) uma safra pouco animadora de zagueiros;
2) a rotatividade dos jogadores escalados, o que dificulta o entrosamento entre eles;
3) a ausência (ou insuficiência) de treinamento específico para o setor, sobretudo quanto ao posicionamento.
Sempre haverá quem defenda um meio-campo mais "pegador" (eufemismo para trombador) como modo de policiar melhor a nossa defesa.
Nessa linha de raciocínio, ganham força Emerson, César Sampaio, Flavio Conceição e jogadores similares.
Sou contra e explico o porquê: com volantes como os citados, que são pouco capazes de fazer a bola chegar redonda ao campo de ataque, a tendência é fazer com que o jogo se torne um bate-volta parecido com um pingue-pongue ou um pebolim (que os cariocas chamam de "totó").
Ou seja: há, eventualmente, desarme, mas não há criação de jogadas, o que torna muito maior o desgaste do meio-campo e da própria defesa, já que a iniciativa retorna a todo momento para o adversário.
Acho que a partida contra a Argentina demonstrou que é muito mais negócio ter um volante com mobilidade e ousadia, como Vampeta, do que um burocrata da destruição.
Só um defensivista empedernido censurará Vampeta por ter "exposto a defesa" com seus avanços.
Pois o que aconteceu foi o contrário: os argentinos é que tiveram um jogador a mais com quem se preocupar.
É muito mais fácil treinar um esquema de cobertura para volantes versáteis e ofensivos do que fazer de um trombador uma opção válida de ataque.
É compreensível que uma Nova Zelândia da vida se preocupe mais em não tomar gol do que em fazer.
Mas para o Brasil esse raciocínio é um retrocesso mais humilhante do que qualquer derrota para o Paraguai.
Os argentinos devem estar pensando que o Brasil escondeu o jogo nas partidas anteriores, com o objetivo de surpreendê-los.
Só isso explicaria o fato de Alex, Vampeta e Ronaldinho terem ficado fora delas.
Quando entraram em campo, aconteceu o que todo mundo viu: jogaram muita bola e botaram os "hermanos" na roda.
O fato de os destaques da seleção terem sido justamente atletas que ainda estão no Brasil reforçou a tese de muita gente de que a seleção deveria ser formada sem "estrangeiros", que começam a ser vistos como "mascarados" e "pipoqueiros".
Roberto Carlos e Rivaldo são os mais visados.
Há exagero e preconceito nisso, claro. Mas, se houve alguém que destoou, do meio para a frente, foi justamente Rivaldo.
Rodando feito uma enceradeira, incapaz de uma jogada criativa, ele fez lembrar o Zinho da seleção de 1994.
A eleição de melhor do mundo não fez bem a ele. Na verdade, hoje, Rivaldo não é nem o melhor do Brasil. Quem é, então? Meu voto, sem pestanejar, vai para Alex, senhor dos grandes e dos pequenos espaços, modulador de ritmos, geômetra e artista. E o seu?
E-mail jgcouto@uol.com.br


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