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FUTEBOL
Jogadores do Dinamo que venceram nazistas são tema de documentário
Time de Kiev inspira filme e livro sobre a 2ª Guerra
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Momentos antes da segunda
partida contra a equipe da Força
Aérea Alemã, o vestiário do FC
Start, time de Kiev formado por
ex-jogadores do Dinamo durante
a ocupação da Ucrânia pelos nazistas, recebe a visita do árbitro
que apitaria o confronto. E uma
ordem: ""Cumprimentem o adversário do nosso jeito".
Pelo ""nosso jeito", entenda-se a
saudação ""Heil Hitler", que atormentava os habitantes das terras
invadidas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Com a saída do árbitro, uma
discussão toma conta do vestiário. Alguns acham que o melhor a
fazer é simplesmente ignorar a ordem, entrar no gramado e jogar
futebol. Outros, não. Defendem
que a instrução deva ser seguida à
risca, evitando retaliações dos alemães após o jogo.
Há até quem vá mais longe, sugerindo que o melhor a fazer é entregar a partida para os rivais, como uma forma de saciar a ira das
tropas nazistas.
Quase 60 anos depois da discussão no vestiário, a história do Dinamo, equipe que ""sumiu" para
dar origem ao FC Start durante a
Segunda Guerra, volta à cena.
Além de ser tema de um filme,
que começará a ser rodado em setembro, chega às prateleiras das
principais livrarias européias com
a obra ""Dinamo -Defendendo a
Honra de Kiev", do escritor e jornalista britânico Andy Dougan.
Fruto de quase três anos de pesquisa, o trabalho de Dougan reconta o período em que Kiev ficou
nas mãos dos nazistas (1941-43) e
a história da resistência à ocupação do ponto de vista dos jogadores de futebol.
Foram eles, afinal, os responsáveis por dois momentos marcantes da resistência, quando enfrentaram e humilharam o Flakelf, o
time de futebol dos invasores.
Dois momentos marcantes não,
três. O crucial, segundo relato de
Makar Goncharenko, um dos jogadores do Start, a uma emissora
de rádio russa em 1992, foi quando ocorreu a saudação ao público.
Primeiro entrou em campo o time da Força Aérea Alemã. Ao
cumprimentar a torcida, o tradicional ""Heil Hitler".
Em seguida, a vez do Start. No
lugar do ""Heil Hitler", outro grito:
""FitzcultHura", uma mistura de
""fitzcultura" -culto ao corpo-
e urra, que queria dizer ""longa vida ao esporte" e era tradicional na
então União Soviética.
Os torcedores alemães, que ocupavam os melhores lugares do estádio em Kiev, foram pegos de
surpresa. Mais irritados ficariam
depois, quando o Start deixaria o
gramado com nova vitória.
Depois de enfiarem 5 a 1 nos nazistas no primeiro jogo, venceram
por 5 a 3 a revanche. Uma revanche, de acordo com Goncharenko, marcada só porque os alemães
não se conformavam com a primeira derrota, ocorrida três dias
antes, em 6 de agosto de 1942.
Para o segundo jogo, o time da
Força Aérea Alemã veio mais forte. De acordo com Vladimir Mayevsky, pesquisador que entrevistou torcedores presentes no ""Jogo
da Morte", como ficou conhecida
a revanche entre ucranianos e alemães, os nazistas se reforçaram
para conseguir a desforra.
No banco, contavam com sete
jogadores, que poderiam substituir os titulares em caso de contusão. O Start, pelo contrário, tinha
o banco vazio. Ou quase. Apenas
Grigory Osinyuk, o responsável
por dar as instruções aos jogadores, ocupava o espaço.
Mesmo assim, o time de Kiev jogou melhor e saiu vitorioso. Nas
arquibancadas, sua torcida foi
agredida pelas tropas alemãs, mas
os jogadores saíram ilesos. Pelo
menos naquele dia.
Depois do novo fracasso, a Gestapo, polícia de Adolf Hitler
(1889-1945), esperou um pouco
para tomar providências. Mas as
tomou, dias mais tarde. Invadiu a
""Padaria do Número Três", como
era chamada pelos ucranianos o
local onde moravam e trabalhavam os atletas do Start, e deteve
todos que conseguiu pegar.
Após três semanas de interrogatórios e torturas, os jogadores foram enviados a um campo de
concentração, onde oito deles seriam executados.
Mas o documentário sobre a
história do Start, uma forma de o
governo ucraniano homenagear o
Dinamo e a população de Kiev,
não deve parar por aí.
Ela passa pelos anos 50, quando
o Dinamo começa a se reerguer
da tragédia que quase o destruiu
durante a guerra, voltando a ser
uma potência no futebol, e termina em 1971, quando um monumento é colocado em seu estádio
para homenagear o time de 1942.
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