São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2000


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Ricardo Teixeira desdenha de problemas do técnico com Fisco e seleção
Só negociata tira Luxemburgo do cargo, avisa CBF

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Wanderley Luxemburgo, que está sendo investigado por sonegação fiscal, é escoltado por policiais na chegada a Teresópolis (RJ), onde a seleção se concentra para o jogo contra a Bolívia, domingo



Presidente da entidade só admite sacar o treinador se forem comprovadas as acusações de envolvimento na venda de jogadores


SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS

Depois do longo silêncio após a série de denúncias contra o técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, disse ontem que o treinador deixará o cargo se for comprovada uma negociata envolvendo jogadores.
Na semana passada, a empresária Renata Carla Alves, que disse ter trabalhado com o treinador até 1997, afirmou que Luxemburgo ganha comissões na compra e venda de atletas.
""Quando houver alguma prova concreta de falta de idoneidade do técnico da seleção envolvendo a compra de jogadores, a CBF tomará algum tipo de atitude. Mesmo assim, não acredito que aconteça", afirmou o dirigente.
Foi a primeira entrevista concedida por Teixeira depois das denúncias feitas pela empresária, que trabalhou como licitante judicial para o treinador durante cerca de cinco anos -Luxemburgo está sob investigação da Receita Federal pela quarta vez.
Atualmente, a empresária e o técnico da seleção estão sendo investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por suspeita de sonegação fiscal.
Antes, ele já foi autuado pelo fisco três vezes. No total, a Receita Federal exigiu que o treinador pagasse cerca de R$ 1,3 milhão, incluindo impostos sonegados, multas e atualização monetária.
Ele teria omitido, no mínimo, R$ 2 milhões de rendimentos nos últimos seis anos. Na semana passada, Luxemburgo, por meio de seus advogados, admitiu ter burlado o Fisco.
Segundo Teixeira, os problemas de Luxemburgo com a Receita Federal não vão tirá-lo da seleção. ""Eles são de âmbito privado. Vários jogadores já tiveram problemas como estes e não ficaram de fora por causa disso. O Ronaldo (da Inter de Milão) está envolvido em uma polêmica assim. Por isso, não vamos convocá-lo?"
""Eu mesmo já fui notificado. Depois, consegui vencer em todas as instâncias", acrescentou.
A Polícia Federal quer explicações sobre a compra de inúmeros bens feitos por Renata em nome do treinador de 1992 a 1996. Renata diz que comprou cerca de 40 imóveis e 80 carros a pedido de Luxemburgo.
Recentemente, o treinador teve o seu sigilo bancário quebrado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro a pedido do Ministério Público Federal. Nos próximos dias, a procuradora Lilian Gulhon Dore vai decidir se apresenta ou não denúncia contra o treinador.
Embora tenha cogitado demitir o técnico, Teixeira disse não crer nas denúncias da empresária.
""As denúncias são fora de propósito. Eu quero provas concretas. A CBF é na rua da Alfândega, número 70, onde estou aguardando as provas", disse o dirigente.
Teixeira tentou prestigiar o treinador no cargo. ""O Luxemburgo está garantido. Ele tem todo o nosso apoio", disse o dirigente, que mesmo assim criticou o trabalho do técnico.
""Eu não gostei da seleção contra o Paraguai e contra o Chile. A seleção está com muitos altos e baixos. Isso tem que ser corrigido."
Logo na chegada da equipe à Granja Comary, Teixeira se reuniu com todos os jogadores e integrantes da comissão técnica.
Ele exigiu a vitória na partida contra a Bolívia, domingo, no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002.
A seleção ocupa o quarto lugar no qualificatório sul-americano, com 11 pontos. ""O time vai ter que ganhar bem da Bolívia."
Neste mês, a seleção foi derrotada pelo Chile, por 3 a 0, em Santiago, a maior derrota da história da seleção na competição.
Ontem, Luxemburgo preferiu o silêncio, recusando-se a falar sobre seus problemas extracampo.


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