São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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O MARATONISTA

Aqui Atenas ferve

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Madrugada de sábado, o amigo Aristos Koroupoulis, 27, jovem empresário, convida para um city tour noturno pelas chamadas boates de verão: em Atenas, os clubes de inverno migram, de junho a outubro, do centro da cidade para uma avenida que corta as praias do sul e que se parece com a Sernambetiba, na Barra, Rio.
A porta da boate Messiah, em Glifada, lembra a vitrine de uma concessionária de automóveis da avenida Europa: há cinco Porsches enfileirados e oito Mercedes distribuídos no primeiro plano. Eles têm, como os paulistas, o hábito de atrair clientes com carrões -e esconder os Fusquinhas.
"O grego é deslumbrado, pede dinheiro emprestado no banco para comprar um carro de luxo, mas mora em um quarto-e-sala alugado", diz o economista Dimitris Papadopoulos, 31.
Passam de 2h, mas ninguém dança. Por quê? Descobre-se que mauricinhos locais acham pouco glamouroso dançar: preferem capitanear mesas com bebidas a rodo, baldes de gelo com champanhe, e conversar. Todos se conhecem como se fosse festa fechada.
Aristos aponta uma morena desmilingüida chamada Evelina Papantoniou, espécie de Gisele Bündchen local. "Ela é a modelo mais famosa da Grécia. Se quiser, te apresento, mas a conversa ali não evolui. O cérebro da Evelina tem a consistência de uma rocha", diz Aristos.
Evelina, 25, namora há quatro anos, mas está sozinha nesta noite. "Minha mãe vai sempre à Bahia, adora", diz, rindo demais, como se estivesse em uma sessão de fotos para um anúncio de pasta de dentes.
Nesse momento, o empresário Yorgos Bourtzos, 39, oferece-se para dar seu depoimento: "Já estive 25 vezes no Brasil. A primeira foi em 1992, para um baile de Carnaval no Copacabana Palace. Tenho amigos cariocas. Gosto muito da mulher brasileira [estava demorando]. Sabe qual a diferença para a grega? Elas sabem o que querem, não te deixam na mão no fim da noite. As gregas dão o telefone, convidam para ir na casa delas, mas isso não quer dizer nada. Outra diferença: o corpo. Aqui elas têm o traseiro muito grande e descuidado, acho que é excesso de mussaká [prato típico feito de camadas de berinjela, carne, creme bechamel e queijo]".
Por volta das 2h30, junta-se ao grupo a animada PhD em educação para crianças excepcionais (ela se apresenta assim) Elena Soucacou, 28: "Meu nome parece japonês, mas é bem grego. Nasci em uma região montanhosa do Peloponeso onde as mulheres são fortes, bigodudas, batalhadoras", explica a PhD um pouco alta, muito bronzeada, de minissaia, se apoiando no repórter para dar a resposta. Bebeu muito?
"Você quer um número preciso? Bem, algo entre uma e sete vodcas, mais para sete..."
São quase 4h, e a reportagem resolve ir para um lugar chamado Galea, onde acontece algo que Aristos e sua turma classificam de "popular": depois das 3h, o DJ põe música grega, e as meninas sobem em cima das mesas para dançar. Os rapazes, embaixo, interpretam abrindo a palma da mão com os braços esticados para os lados e dando socos no ar.
"Adoro dançar. É a hora em que a gente deve extravasar", afirma a estudante Heleni Sara, 24.
Na Romeo, a dois quilômetros dali, a música soa como o repertório da Banda Mel, só que em grego. As mais lentas parecem perfeitas para dança do ventre em ritmo acelerado. Em cima das mesas, as meninas abrem os braços e giram os pulsos na mesma rotação da barriga de fora. Grupos de homens e mulheres sobem no palco, onde o cantor some na bagunça. Bem que o leão-de-chácara Jannis Assimakopoulos tinha avisado. "Você não vai encontrar nada mais grego que isso."

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