São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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No Brasil mais feminino, mulheres não dão salto de qualidade

DO ENVIADO A ATENAS

E DA REPORTAGEM LOCAL

Pódio nas duas últimas Olimpíadas, as seleções femininas de basquete e vôlei deram ontem um passo para trás e deixaram Atenas sem medalha. Campeã mundial de solo, Daiane dos Santos foi quinta nos Jogos. Sensação do torneio de futebol, o Brasil de Marta e Cristiane não suportou o favoritismo dos EUA e ficou com a prata. Enredo parecido ao de Adriana Behar e Shelda, do vôlei de praia. Ana Paula e Sandra, a outra dupla brasileira da areia, tombaram antes das semifinais, diante das compatriotas.
Na madrugada de hoje, com Natália Silva disputando o taekwondo, as mulheres do país encerrariam sua participação em Atenas-04. Com um sabor amargo, um quê de melancolia. Natália lutaria contra uma australiana, bronze no último Mundial.
Dificilmente reverteria o quadro sombrio pintado em 16 dias: as atletas brasileiras deixarão Atenas sem nenhum ouro. E com menos medalhas do que em Sydney -eram duas pratas até ontem, contra uma prata e três bronzes ganhos há quatro anos.
Isso apesar de a presença feminina na delegação ter crescido 29,8%, contra 12,6% de aumento da masculina. Apesar de o país ter a 11ª maior equipe de mulheres em Atenas: 122. Apesar de a tendência mundial indicar o inverso.
A China só se tornou o maior fenômeno do quadro de medalhas de Atenas, grudada nos EUA, graças às suas mulheres. Dos 31 ouros da poderosa equipe chinesa, mais da metade, 18, saíram de competições femininas.
A Romênia estaria longe da 13ª posição no quadro se não fossem elas. Todos os seus oito ouros foram conquistados por mulheres.
Até em países que dificultam a participação de mulheres no esporte, elas ganharam destaque. Elas ganharam três das cinco medalhas da Coréia do Norte e uma das quatro da Indonésia, maior país muçulmano do mundo.
Países vizinhos também vêem suas mulheres ofuscar os homens. Três das seis medalhas que a Argentina lançou no quadro foram com elas. A Colômbia tem dois bronzes, ambos com mulheres.
Mas no Brasil, é diferente. Dos 15 ouros que o Brasil conquistou até hoje em Olimpíadas, só um foi ganho por mulheres: em Atlanta-96, quando Sandra e Jacqueline triunfaram no vôlei de praia.
Em Atenas, ainda no calor dos Jogos, é difícil encontrar uma explicação para o fracasso. A unanimidade, até agora, é que não houve tempo para assimilar o baque.
"Treinamos muito e não sabemos o que aconteceu. Nossa expectativa era ir para a final. Com um tempo de 3min27s, poderíamos chegar lá. Mas a nossa marca [3min28s43] não foi muito boa", lamentou Maria Laura Almirão, que caiu com a equipe do 4 x 400 m, do atletismo.
"Difícil explicar como ficamos sem esse ouro. Eu tinha convicção que nosso time era o melhor da competição. Mas, infelizmente, essas coisas acontecem em Olimpíadas", declarou Virna.
O mau desempenho das mulheres atrasou a vida do Brasil olímpico. Até ontem, o país era o 21º colocado no quadro de medalhas. Em um hipotético quadro masculino, ficaria entre os 20 primeiros. Na versão feminina, apareceria em uma modesta 38ª posição.(FÁBIO SEIXAS E PAULO COBOS)

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