São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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BASQUETE

Seleção cansa diante da Rússia e completa a pior campanha desde Barcelona-92

Brasileiras perdem a mão, sofrem no garrafão e deixam o pódio olímpico

ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A seleção feminina de basquete ficou fora do pódio olímpico pela primeira vez desde os Jogos de Barcelona-92. Ontem, a equipe do técnico Antonio Carlos Barbosa voltou a apresentar deficiência nos arremessos de quadra e perdeu para a Rússia por 71 a 62 na disputa da medalha de bronze.
Desde que conquistou a prata em Atlanta-96, a equipe nacional perdeu uma colocação a cada quatro anos. Em Sydney-00, o time havia ficado em terceiro.
A vitória sobre o Brasil serviu como vingança para a Rússia. Na última edição dos Jogos, uma cesta de Alessandra nos segundos finais definiu a vitória das brasileiras sobre as rivais nas quartas-de-final, retirando as russas da disputa por um lugar no pódio.
Na primeira fase, o Brasil também não se esforçou para ganhar da Austrália. O objetivo era evitar o duelo contra os EUA antes de uma possível final. A estratégia obrigou as russas a pegarem as norte-americanas na semifinal.
"Queríamos jogar contra elas só na disputa pelo ouro. Mas, como os resultados do grupo nos deixaram em segundo lugar, tivemos de enfrentá-las antes", alfinetou a armadora Ilona Korstin, referindo-se ao fato de o Brasil ter atuado com reservas em boa parte do jogo contra a Austrália, que pôs as russas na vice-liderança.
Ontem, a seleção nacional voltou a apresentar as mesmas deficiências da partida contra a Austrália, válida pela semifinal.
O time teve baixo aproveitamento nos tiros de quadra. Houve 26 acertos em 64 tentativas (41%). Os arremessos de três pontos, uma das armas do país na fase de classificação, voltaram a não cair -apenas 15% de acerto.
"Erramos muito e isso custou caro. Quando a Rússia conseguiu vantagem, não foi possível reagir", lamentou Janeth, 35, principal nome da equipe, que se despediu dos Jogos com 15 pontos.
As russas, por sua vez, erraram bastante. Desgastadas após perderem por quatro pontos para os EUA (66 a 62), as européias foram ainda piores, com índice de acerto de 34% nos arremessos.
As deficiências eram compensadas pelo bom trabalho no garrafão. Com o trunfo de contar com a jogadora mais alta da competição, a pivô Maria Stepanova, de 2,14 m, a equipe capturou 41 bolas embaixo da tabela. Mesmo com Alessandra, quarta maior reboteira da competição (8,9 por partida), o Brasil recuperou só 28.
"Não vim aqui para ser cestinha ou reboteira. Vim para ganhar medalha. Temos de agir como um grupo", disse a pivô.
O confronto foi equilibrado até o terceiro quarto, quando a Rússia obteve vantagem de um ponto (47 a 46). Com menor revezamento, as brasileiras se cansaram na etapa final. Janeth e Iziane atuaram por mais de 36 minutos. Barbosa colocou nove jogadoras em quadra. Já o técnico Vadim Kapranov usou suas 12 atletas.
Só Elena Baranova jogou mais de 30 minutos. Apesar da vitória, a ala demonstrou insatisfação.
"Não estou feliz. Queria o primeiro lugar. O resto não é nada. Não posso ficar satisfeita com o bronze. Só gosto de ver meu time como o campeão", reclamou Baranova, 32, ouro em Barcelona-92, atuando pela CEI, que reunia países que formavam a ex-URSS.
Os lamentos da estrela russa contrastavam com a cara de decepção das brasileiras. Adrianinha saiu da quadra em lágrimas.
"A tristeza é muito grande. É difícil avaliar o que faltou. Agora temos que levantar a cabeça e pensar que ficar entre as quatro melhores do mundo também é bom", argumentou a armadora.

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