São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marketing do futebol? Bingo ou campanha?

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

A empresa Traffic costuma ser apresentada como a mais importante agência de marketing esportivo brasileira.
Mas será mesmo?
Sua competência para abrir portas no mundo do futebol é simplesmente indiscutível, tantas e tão importantes são as relações que mantém com a cartolagem nacional.
Entre marketing e relacionamento, no entanto, existe uma diferença nada desprezível.
Analisemos, por exemplo, os dois torneios internacionais que têm a Traffic como associada, a Copa América e a tal Mercosul.
A Copa América primou por estádios e gramados abaixo da crítica e a afluência de público, principalmente depois que o Paraguai foi eliminado, ridícula. Pelo menos era o que se observava pela TV, estádios sempre vazios.
Mas que se dê um desconto. A América do Sul não é a Europa, e, exceção feita ao Brasil e à Argentina, a pobreza dos estádios é quase inevitável. E nem falemos da presença do Japão na Copa América, certamente um ""case" de marketing que será estudado pelo novo milênio afora.
Falemos, pois, apenas da tal Copa Mercosul.
Os estádios são melhores, os gramados também, e, em tese, a qualidade técnica das equipes é superior ao que se viu na Copa América -muito embora os argentinos venham jogando, em regra, sem seus titulares.
Ocorre que os jogos, pelo menos os que envolvem clubes brasileiros, começam sempre no terrível horário das 21h40, e os estádios, também por isso, vivem às moscas, aqui, no Chile, onde for...
Será que isso é marketing para o futebol, será que isso ajuda a vender o esporte, como a NBA faz com o basquete, tão bem resumido no ""I love this game"?
Certamente não.
Não interessa se os prêmios são os maiores jamais pagos para os vencedores, porque antes de mais nada é o futebol quem precisa vencer para manter acesa a chama da paixão. E não há nada menos apaixonante do que a tal Copa Mercosul.
Nem se discute se o torneio está bem vendido aos patrocinadores e até se as audiências da TV têm sido compensadoras. Porque um jogo de alta visibilidade e com as arquibancadas vazias faz muito mais mal que bem ao futebol.
Enfim, talvez seja hora de mudar a maneira de apresentar a Traffic. Deveríamos tratá-la não como a mais importante agência de marketing, e sim como mais influente empresa de relações públicas de nosso futebol.
O que não é pouco.
A concessão de autorização para o funcionamento de casas de bingo e a liberação de máquinas eletrônicas se transformaram no grande calcanhar-de-aquiles do Ministério do Esporte -porque são acusadas de estar angariando fundos para a futura campanha do ministro Rafael Greca com vistas ao governo do Paraná.
Já está instalada uma auditoria no setor, mas pouco se espera de seu resultado, até porque certas práticas, como se sabe, não costumam deixar rastros.
O fato é que o diretor de Administração e Finanças da área do Indesp, à qual os bingos estão subordinados, Luís Antônio Buffara, foi também o tesoureiro da campanha de Greca nas últimas eleições para deputado.
Tudo indica que cabeças inocentes serão sacrificadas apenas para que se dê satisfação à opinião pública.
E a festa dos bingos continua. Até quando?


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

Texto Anterior: Atlético-PR quer volta de velocidade
Próximo Texto: Futebol no mundo - Rodrigo Bueno: Realidade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.