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Marketing do futebol? Bingo ou campanha?
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
A empresa Traffic costuma ser
apresentada como a mais importante agência de marketing esportivo brasileira.
Mas será mesmo?
Sua competência para abrir
portas no mundo do futebol é simplesmente indiscutível, tantas e
tão importantes são as relações
que mantém com a cartolagem
nacional.
Entre marketing e relacionamento, no entanto, existe uma diferença nada desprezível.
Analisemos, por exemplo, os
dois torneios internacionais que
têm a Traffic como associada, a
Copa América e a tal Mercosul.
A Copa América primou por estádios e gramados abaixo da crítica e a afluência de público, principalmente depois que o Paraguai
foi eliminado, ridícula. Pelo menos era o que se observava pela
TV, estádios sempre vazios.
Mas que se dê um desconto. A
América do Sul não é a Europa, e,
exceção feita ao Brasil e à Argentina, a pobreza dos estádios é
quase inevitável. E nem falemos
da presença do Japão na Copa
América, certamente um ""case"
de marketing que será estudado
pelo novo milênio afora.
Falemos, pois, apenas da tal Copa Mercosul.
Os estádios são melhores, os
gramados também, e, em tese, a
qualidade técnica das equipes é
superior ao que se viu na Copa
América -muito embora os argentinos venham jogando, em regra, sem seus titulares.
Ocorre que os jogos, pelo menos
os que envolvem clubes brasileiros, começam sempre no terrível
horário das 21h40, e os estádios,
também por isso, vivem às moscas, aqui, no Chile, onde for...
Será que isso é marketing para o
futebol, será que isso ajuda a vender o esporte, como a NBA faz
com o basquete, tão bem resumido no ""I love this game"?
Certamente não.
Não interessa se os prêmios são
os maiores jamais pagos para os
vencedores, porque antes de mais
nada é o futebol quem precisa
vencer para manter acesa a chama da paixão. E não há nada menos apaixonante do que a tal Copa Mercosul.
Nem se discute se o torneio está
bem vendido aos patrocinadores
e até se as audiências da TV têm
sido compensadoras. Porque um
jogo de alta visibilidade e com as
arquibancadas vazias faz muito
mais mal que bem ao futebol.
Enfim, talvez seja hora de mudar a maneira de apresentar a
Traffic. Deveríamos tratá-la não
como a mais importante agência
de marketing, e sim como mais
influente empresa de relações públicas de nosso futebol.
O que não é pouco.
A concessão de autorização para o funcionamento de casas de
bingo e a liberação de máquinas
eletrônicas se transformaram no
grande calcanhar-de-aquiles do
Ministério do Esporte -porque
são acusadas de estar angariando
fundos para a futura campanha
do ministro Rafael Greca com vistas ao governo do Paraná.
Já está instalada uma auditoria
no setor, mas pouco se espera de
seu resultado, até porque certas
práticas, como se sabe, não costumam deixar rastros.
O fato é que o diretor de Administração e Finanças da área do
Indesp, à qual os bingos estão subordinados, Luís Antônio Buffara, foi também o tesoureiro da
campanha de Greca nas últimas
eleições para deputado.
Tudo indica que cabeças inocentes serão sacrificadas apenas
para que se dê satisfação à opinião pública.
E a festa dos bingos continua.
Até quando?
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças
e às sextas-feiras
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