São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Após derrota, crise interna é revelada por delegação


Jogadoras e treinador da seleção feminina detalham racha interno na comissão técnica que dirigiu a equipe ao quarto lugar na Olimpíada


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Bastou que o Brasil perdesse a medalha de bronze, ao ser derrotado por 2 a 0 pela Alemanha na madrugada de ontem, para vir à tona a crise que afetou a seleção feminina durante a Olimpíada.
Após o jogo, as atletas e o técnico José Duarte contaram que havia um conflito interno no grupo.
De um lado, estavam Duarte e a maioria das jogadoras; do outro, o auxiliar técnico Wilson Riça e uma minoria de atletas da "jovem guarda" do time -como revelou a Folha no último domingo.
Treinador da seleção no ano passado, Riça caiu por não ter a simpatia das jogadoras. Mas foi chamado pela CBF para ser assistente de Duarte, que retornou este ano ao comando do time (já fora o técnico de 1995 a 1998).
O auxiliar foi acusado de interferir demasiadamente no trabalho de Duarte, de perseguir jogadoras e de torcer contra o Brasil.
"Ele ficou sorrindo quando perdemos o primeiro jogo para a Alemanha. Quando ganhamos da Austrália, ele fechou a cara. Ele é a pior pessoa", disse a atacante Maicon, treinada por Riça na Lusa Sant'Anna.
A goleira Andréia acusou o auxiliar de ter ameaçado agredi-la, depois de ouvir um comentário de que a Lusa não pagava salários de jogadoras.
Andréia disse ainda que, após o episódio, Riça, que acumulava a função de preparador de goleiros, se recusou a fazer o aquecimento dela antes do jogo de ontem.
Duarte insinuou que não continua no cargo se Riça ficar.
"A comissão técnica tem que ser liderada pelo técnico. Treinador é treinador, auxiliar é auxiliar. Acho que eu e o Wilson temos que ser treinadores."
Ontem, Riça não passou pelo corredor onde as delegações são obrigadas a passar antes de deixar o estádio. A reportagem pediu ao chefe de equipe da seleção, Luiz Miguel de Oliveira, que chamasse o auxiliar no ônibus do time, numa área a que jornalistas não têm acesso. Oliveira voltou dizendo que não achou Riça, mas ele próprio saiu em defesa do auxiliar.
"Se essas coisas tivessem acontecido, eu o teria demitido e o mandado de volta para o Brasil. Esse grupo está há 50 dias junto. A convivência se desgastou, e acabou sobrando para o Wilsinho, mas ele não teve culpa. Se (o conflito) tivesse sido controlado, seria melhor para o Brasil, mas isso não interferiu no desempenho da equipe", disse Oliveira, diretor de categorias especiais da CBF.
Ele disse que o futuro da comissão técnica depende da CBF. "Tenho que conversar com o presidente (Ricardo Teixeira). Não sou absoluto em nada."
Depois do jogo, a Folha ligou várias vezes em busca de Riça para o celular da delegação brasileira, mas ninguém atendeu. Os três recados deixados na caixa postal não foram respondidos.


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