São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006 |
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JUCA KFOURI Segundo turno sem graça
DOIS AMIGOS se encontram nas imediações do Morumbi. O movimento é grande, mas calmo. Paulo Troncoso e Pedro Saulo Dias Bueno travam um tedioso diálogo -abaixo reproduzido o mais fielmente possível, identificando-os apenas pelas iniciais: PT - Você também está achando este segundo turno muito monótono, sem graça? PSDB - Estou, mas depende do ponto de vista. PT - De fato. Quem está na frente até gosta, né? PSDB - Pois é. Tudo é uma questão de perspectiva. Reclama mesmo quem está atrás. PT - E sem a menor chance de reverter o quadro, eu diria. PSDB - Já vi tanta coisa em minha vida que sei lá. Vai que acontece uma reviravolta. PT - Acho mais do que improvável. Só uma catástrofe muda. PSDB - Não nego. Mas quem diria, por exemplo, que o Zidane daria aquela cabeçada no Materazzi? PT - Aquilo foi sinal de desespero. Tanto que acabou por prejudicar quem ficou em minoria. PSDB - Mas foi um gesto que entrou para a história, mais até que o resultado final. PT - Visão romântica. O que vale é o resultado. Vergonhoso é perder. PSDB - Pois acho que esta é uma das desgraças brasileiras. Vale tudo para vencer, danem-se os meios. E vida que segue. PT - Pode ser. Mas responda: quem pode atirar a primeira pedra? Quando foi diferente por aqui? Concorda comigo? PSDB - Concordo. O que não me impede de continuar a sonhar com a idéia de ganhar limpo. PT - OK. O que é ganhar limpo? O bicho-homem é o bicho-homem. E ninguém é perfeito, erros acontecem sempre, aqui e em qualquer lugar, ontem, hoje e amanhã. Não seja ingênuo nem se auto-engane. PSDB - Longe disso, amigo. Também sei o que é ganhar, digamos, com métodos pouco ortodoxos. PT - Na verdade, nós nunca sabemos nada de nada. Quem diria que, depois de um primeiro turno tão equilibrado, o segundo seria assim. Vá entender... PSDB - O que eu lamento não é exatamente isso. Eu lamento que o virtual ganhador seja apenas o menos pior. O nível está baixo, companheiro, baixo demais. A conversa iria longe, repleta de platitudes, quando, para ajudar, ou atrapalhar, surge de cabelo molhado, recém-saída do banho, com o frescor das mulheres que se sabem belas, Vânia Novaes, provocadora: VN - Ora, ora, que caras são essas? Alguém morreu? Vocês parecem estar indo ou vindo de um velório... PT - que sempre teve uma não escondida queda por Vânia, se apressa em tentar desfazer a má impressão: - Nada disso. Estamos apenas constatando a pobre realidade que nos cerca, essa pouca emoção neste momento em que deveríamos estar inflamados e empurrando nossa gente à vitória final. Véspera de decisão e essa pasmaceira... VN - Ora, meninos. Vocês queriam o quê? Faz tempo que não me entusiasmo. É sempre essa mediocridade. Não dá mais para se iludir. Juro que não estou nem aí, nem com um nem com outro. Quero que se explodam, na boa! PSDB - Que é isso, companheira? Por mais que você não se identifique com nenhum dos lados, essa atitude é de pura alienação. VN - Uai! E quem disse que eu tenho de escolher um lado? Eu fico na minha. Quero que se matem. PSDB - Você é corintiana, né? VN - Não, depois que a seleção perdeu em 1982, eu nunca mais torci. E você, continua tricolor? PSDB - Nunca fui, sou colorado. Tricolor é o Paulo. E foram embora, cada um para um lado. blogdojuca@uol.com.br Texto Anterior: Em Valência, Rossi corre para coroar reação na MotoGP Próximo Texto: Herói esquecido não se arrepende de "soco vingador" Índice |
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