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Começa "guerra civil" pela Copa-2014
Michel Platini, francês que preside a Uefa, aprova Mundial no Brasil e aposta que país resolverá questão de segurança
Em Zurique, governadores de Estados brasileiros vão a jantar promovido pela CBF, em hotel cuja tradição é "receber realeza há 160 anos"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
O Brasil não precisou fazer
uma guerra com outros países
para ficar com a Copa de 2014.
"Pudera, concorreu sozinho",
ironiza Michel Platini, grande
craque do futebol francês, hoje
transformado em "cartola", como presidente da Uefa.
Mas, a partir de hoje, começa
uma verdadeira "guerra civil"
entre Estados brasileiros, seja
para ser uma das sedes do
Mundial, seja para fazer a partida de abertura ou de encerramento, cerejas do bolo de qualquer grande torneio.
O governador José Serra (SP)
chega hoje a Zurique, a sede da
Fifa, para o anúncio oficial,
amanhã, de que o Brasil organizará a Copa-2014, disposto a
defender que o jogo de abertura
seja no Morumbi.
Não se trata de uma escolha
pela honra, mas pelos negócios.
A tese do governador, segundo
Caio Luiz de Carvalho, que preside a comissão que prepara o
Estado para a Copa, é a de que
"a cidade que ganha é a que faz
a abertura, não a que faz o encerramento".
Por isso, Serra, malandramente, jogará o direito ao encerramento para o Maracanã,
usando a tradição e o fato de ter
sido o palco da final de 1950,
que não é exatamente uma
lembrança agradável para o
torcedor brasileiro (o famoso 2
a 1 para o Uruguai).
Platini, aliás, sem saber dos
argumentos de Serra, também
pensa em 1950 ao falar da escolha do Brasil. "Filosoficamente
falando, é formidável que o
Brasil tenha sido escolhido, por
toda a história de 1950. E também por tudo o que o país fez
pelo futebol."
Serra, no entanto, não pensa
em tradições, no que o Brasil
fez ou deixou de fazer pelo futebol, mas em recursos que entrariam no Estado, em qualquer circunstância, mas principalmente se for a sede do jogo
inaugural.
A partida de abertura atrai o
congresso mundial que a Fifa
sempre organiza nas vésperas
das Copas. Atrai também, em
princípio, o principal centro de
mídia, um colossal aparato para
jornais, rádios e televisões do
mundo inteiro.
De fato, Munique foi a sede
do jogo da abertura da Copa
mais recente, e nela ficou o
principal centro de mídia.
Além disso, "São Paulo é o
portão de entrada aéreo do Brasil", lembra Caio, o que torna
mais fácil escolher o Estado.
José Roberto Arruda (DF)
também quer a abertura. Tem
prometido um novo e monumental estádio e joga com o fato de a capital de um país-sede
de Copas ter sempre direito a
um lugar especial.
Já Eduardo Braga (AM) utiliza o que os economistas chama
de "vantagem comparativa": se
o Brasil quer organizar uma
"Copa verde", ambientalista,
nada como dar ao Amazonas
um papel relevante, dada sua
natural associação à floresta.
Falta agora combinar com
Ricardo Teixeira, o presidente
da CBF, que se tornou o mais
querido dos governadores,
mesmo daqueles que têm (ou
tinham) sérias restrições a ele.
Teixeira será, como é óbvio,
fundamental para definir que
cidades ficam com quais jogos,
se é que ficam com algum.
Por isso, os governadores que
já estavam em Zurique ontem à
noite foram ao jantar oferecido
pela CBF no restaurante do luxuoso hotel Baur au Lac, "mais
de 160 anos hospedando a realeza, celebridades e viajantes
internacionais", às margens do
lago de Zurique, conforme diz a
apresentação.
A diária mais barata do hotel
custa o equivalente a R$ 800.
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, um dos comensais de ontem, já cuida de
afastar qualquer eventual crítica a gastos públicos com a Copa
de 2014.
Jura que os estádios ficarão
por conta do setor privado e
que o poder público só entra
para fazer as infra-estruturas,
"que de todo modo teriam que
ser feitas", com ou sem Copa.
Platini, no entanto, lembra
que, na França (Copa de 1998),
o Estado é que arcou com a
maior parte das despesas.
Preocupado com a segurança
nas cidades brasileiras? "Até
2014, esse problema já deverá
estar resolvido. Sou um otimista", diz o ex-jogador.
Para ele, agora, o Brasil tem é
que se concentrar em construir
e/ou renovar seus estádios. "Se
se quer fazer [uma Copa], pode-se fazê-la", filosofa.
Para o que não há solução à
vista, é em relação ao êxodo formidável de jogadores brasileiros para a Europa (principalmente). "É uma questão de
mercado. Mesmo que os clubes
italianos, franceses ou espanhóis não quisessem jogadores
brasileiros, os jogadores brasileiros iriam querer jogar nesses
clubes, que pagam muito mais",
diz Platini, que sabe do que fala.
Ele também deixou a França,
que paga menos, para jogar na
Itália, que paga mais.
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