São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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FUTEBOL

Seleção sofre revés nos bastidores, não garante sede no Japão e corre risco de jogar a Copa em gramados coreanos

Brasil perde a primeira no Mundial-2002

DO ENVIADO ESPECIAL À CORÉIA DO SUL

Se no campo a seleção tem tido dificuldades para vencer, fora dele dá para dizer que o Brasil já começou perdendo a Copa de 2002. Na definição dos critérios do sorteio dos grupos do Mundial do Japão e da Coréia do Sul, o primeiro depois da era Havelange, o país sofreu sério revés nos bastidores.
A Confederação Brasileira de Futebol não conseguiu colocar a equipe no Grupo F, que joga o torneio todo, exceto a disputa pelo terceiro lugar, no Japão.
Com isso, a seleção corre o risco de disputar seus jogos em solo coreano, o que a CBF não via com bons olhos, dada à relação mais próxima que sempre teve com o futebol japonês.
Apesar de ter sido apontado como o principal cabeça-de-chave do Mundial, o Brasil só ficará sabendo no próximo sábado em que grupo jogará.
Se for sorteado para o B, disputará a Copa inteira na Coréia -só iria para o Japão se fosse para a final. No C, a situação tampouco agrada, pois teria que jogar a primeira fase em campos coreanos. Terá que torcer, assim, para cair nas chaves E, F (a desejada) ou G.
A França, como atual campeã mundial, encabeça o Grupo A, cuja primeira fase acontece na Coréia. Os sul-coreanos, por sua vez, atuam em casa, comandando o Grupo D. O Japão, no H, também joga em seus domínios.
Ao ser informado pela Folha da decisão da Fifa, o técnico Luiz Felipe Scolari lamentou a situação. ""Para o Brasil, o ideal era ficar no Japão. Nossos laços com o futebol japonês são muito fortes", comentou o treinador da seleção, que já trabalhou no país -dirigiu o Jubilo Iwata, em 1997.
""Agora é torcer para a bolinha [do sorteio" nos ajudar", afirmou Scolari.
A certeza de que a seleção brasileira não jogaria na Coréia era tanta que a CBF só se preocupou em reservar campos de treinamento no lado japonês.
Se cair na Coréia, o Brasil terá problemas. Os principais campos de treino do país já estão reservados. Seogwipo, por exemplo, a sede sul-coreana mais elogiada pela Fifa, abrigará a Inglaterra, caso os ingleses fiquem na chave B ou C.
Caso a Inglaterra jogue no Japão, Seogwipo ficará com a África do Sul. A Alemanha é a terceira seleção da lista.
Ao anunciar os novos cabeças-de-chave, fora os dois anfitriões e a atual campeã, Michel Zen-Ruffinen, secretário-geral da Fifa, disse que o desejo da CBF de ficar no Japão nem sequer foi discutido.

Ausência na reunião
Um dos motivos do revés brasileiro teria sido a ausência do país na reunião que definiu os critérios do sorteio -sem Ricardo Teixeira, com problemas de saúde e atualmente em Brasília, entendendo-se com a CPI do Futebol, o Brasil ficou de fora do encontro.
Quem defendeu os interesses do país na reunião do Comitê Executivo da Fifa foi Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol Argentino. ""Nós não nos importaríamos de jogar na Coréia do Sul, até acharíamos bom, mas, como não houve consenso, vamos ver o que manda o sorteio", comentou o dirigente.
Se a Argentina, também cabeça-de-chave da Copa-2002, cair num dos grupos da Coréia, o Brasil automaticamente fica no Japão. ""É para não descontentar coreanos nem japoneses", explicou Zen-Ruffinen, representando a Fifa.
Os últimos três cabeças-de-chave são europeus: Itália, Espanha e Alemanha. Diferentemente do Brasil, visitaram centros de treinamento e fizeram reservas para acomodações dos dois lados, tanto na Coréia quanto no Japão.
Se não tiver sorte e cair na Coréia do Sul, Scolari não sabe o que fará. ""Talvez visitemos algum lugar na semana que vem, ainda não sei direito. Estou esperando o Marco Antônio [Teixeira, secretário-geral da CBF] chegar."
O dirigente, acompanhado do coronel Castelo Branco, que cuida da segurança da seleção, deverá chegar hoje a Busan.
Os três, ao lado de um representante da Nike, formam a delegação mais enxuta do sorteio.
Se evitaram constrangimentos como os de sauditas e chineses, que desembarcaram com 63 e 48 representantes, respectivamente, para acompanhar o sorteio na Coréia do Sul, não deixaram de provocar alguns outros.
De acordo com os organizadores, o Brasil foi o único país a não responder se participará de seminário domingo sobre os procedimentos a serem adotados por cada seleção na Copa-2002. E foi o único ausente nos workshops sobre segurança e relacionamento com a mídia no Mundial, ambos promovidos pelo Jawoc, o Comitê Organizador do Japão, em Busan.
(JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)



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