São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2004

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FUTEBOL

Objetividade e poesia

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Não está morto quem peleia. O lema gaúcho foi revalidado ontem em Erechim. O Grêmio caiu para a Série B, mas caiu de pé, protagonizando uma das reações mais belas do campeonato, ao empatar com o líder depois de estar perdendo por 3 a 0.
O Atlético-PR estava "com a mão na taça" quando o gol de empate a tirou no último minuto do jogo. Os santistas devem ter vibrado mais até que os gremistas com o gol salvador, que manteve o time de Luxemburgo na luta.
Se o Atlético-PR for campeão, será o triunfo de um time lúcido, entrosado e objetivo, que faz do contra-ataque sua arma mais mortal _mais ou menos como o Furacão campeão de 2001.
O fato de o astro do time ser também seu artilheiro é significativo. Washington é raçudo, forte, lúcido _e solidário. Ontem serviu de pivô para os companheiros e deu uma assistência açucarada para Fernandinho fazer o segundo gol. Mas o artilheiro não teria o mesmo êxito se não contracenasse com jogadores rápidos, hábeis e inteligentes como Fernandinho, Jádson e Denis Marques.
Se o clube ratear na reta final e deixar o Santos passar à frente, Levir Culpi sofrerá novamente, e de modo injusto, a pecha de eterno vice.

Nélson Rodrigues dizia que "a poesia do futebol está no frango". Ontem no Parque Antarctica a máxima foi confirmada. O gol de empate do Palmeiras foi um frango clássico de Júlio César: bola fraca por entre as pernas.
Mas antes e depois disso o goleiro rubro-negro salvou seu time com várias defesas espetaculares e no fim do jogo foi carregado nos ombros pelos companheiros.
A dramaticidade do evento foi tanto maior pelo fato de a vitória ser fundamental para manter o Flamengo na elite, e também porque Júlio César foi um dos envolvidos naquela briga medonha com torcedores no aeroporto.
Quanto ao jogo em si, foi bastante disputado e movimentado, com os dois times buscando o gol com vontade. O Palmeiras teve mais posse de bola, atacou mais, mas não teve competência nas finalizações e foi inepto na defesa.
No segundo tempo, com a saída de Pedrinho, de um lado, e de Zinho, do outro, o jogo ficou mais corrido e desorganizado, quase uma pelada. Num contexto de bumba-meu-boi, o intuitivo Athirson se dá melhor que o cerebral Zinho.
Pelo menos foi o que ocorreu ontem no Parque Antarctica.

Muitos leitores santistas manifestaram durante a semana sua indignação contra o que eles consideram uma perseguição dos árbitros e do STJD ao clube da Vila Belmiro.
O músico Mauricio Tagliari listou pacientemente 18 erros de arbitragem contra o Santos, citando em cada um deles o nome do juiz e dos auxiliares.
Mas ontem o que prejudicou o Santos? O juiz que anulou o gol de Deivid ou o próprio jogador, que errou dois pênaltis?

Dois golaços
O de Alex Alves, do Botafogo, contra o Guarani: num espaço de dois metros, driblou dois zagueiros e deslocou o goleiro, como numa jogada de futebol de salão. E o de Grafite, do São Paulo, contra o Inter: meteu-se entre dois beques com uma esperteza de Eto'o e deixou-os para trás pelo alto com um instinto matador de Serginho Chulapa.

Salto alto?
Por falar em Eto'o, o Barcelona suou para vencer o Getafe. Assim como havia ocorrido no empate com o Celtic na Copa dos Campeões, Ronaldinho e seus companheiros mostraram facilidade de criar lances de gol, mas também de perdê-los. E a defesa do Barça é vulnerável. Mesmo assim, é o time europeu que mais dá gosto de ver.

E-mail: jgcouto@uol.com.br

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