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De abalar o coração
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Bem, se essas semifinais seguirem o mesmo padrão emocional da sessão anterior, haja
coração! E tudo indica que vão
mesmo seguir.
Lusa e Cruzeiro, por exemplo,
foram as duas equipes que, na
rodada decisiva da fase anterior, levaram essa questão ao
paroxismo. A Lusa perdeu a
classificação faltando sete minutos, o que bastou para recuperá-la. O Cruzeiro, por sua vez,
conseguiu, no último minuto,
transformar a ruidosa festa verde, em pleno Parque Antarctica,
num funéreo silêncio de despedida de milhares de palestrinos
perplexos.
Não sem antes, porém, ter permitido ao adversário celebrar a
certeza da classificação, na
mais cruel das situações: pior do
que não passar pela porta da esperança é ter de voltar por ela
no instante derradeiro.
Assim, quem se arrisca a dar
um palpite sobre a nova decisão
em três tempos que começa hoje, no lusco-fusco dos interesses
da televisão?
Claro que o Cruzeiro pratica
um futebol mais fluente e refinado do que a Lusa e ainda por
cima joga em casa. Mas joga
sem Valdo, que é o sábio e paciente artesão desse time
Em contrapartida, os rubro-
verdes vivem ainda a eterna
lua-de-mel com seu técnico
Candinho, e lá estão Evair, Simão, o menino Leandro, o veterano Aílton, Carlinhos, todos
jogadores de bom nível técnico
que se fundem num só rosto.
O negócio é esperar.
Santos e Corinthians, na Vila? Ai, ai, ai, ai, ai. No mínimo,
vai precisar de uns dez mil soldados da PM ao longo de toda a
estrada, pelas cercanias do estádio e lá dentro. Mesmo porque,
se o Corinthians é líder e chega
repleto de craques de seleção,
sem contar o técnico Luxemburgo, que, ainda por cima, deixou
na Vila fundos ressentimentos,
o Santos de Leão é um time de
pura vibração.
E tem o Viola que tanta falta
faz a esse Corinthians que o
projetou.
Se um estivesse na roda e o
outro chegasse, meses sem se verem, não havia nem oi, nem como vai. Era como se continuassem de onde pararam, minutos
antes. Um soltava os primeiros
versos do samba antigo: "Tens a
graça das abelhas/Um olhar, interrogação". E o outro completava: "Onde o til das sobrancelhas/ É o til da palavra não".
Essa era a senha para que desfilassem em seguida todo o repertório de sambas e valsas do
Caboclinho Querido, paixão
mútua. As outras? Futebol e
mulher bonita. Cavalinhos e
apostas, qualquer aposta, era
com ele. Um profissional, como
ia repetindo ao ouvido do amigo, enquanto se dirigiam para o
Cassino de Mar del Plata, numa
noite da Copa de 78.
Lá, é de lei não dar palpite. Isso é coisa de amador. E eu, calado, mesmo quando já diante da
roleta via crescerem as minhas
fichas. Foi quando o número 16
cintilou diante de mim, e comecei a empurrar todas as fichas,
lance cortado pelo seu grito ao
lado: "Não! Tá louco!". Jogo feito, 16.
Eu fiquei com as minhas fichas, que logo se evaporaram,
enquanto ele amargava a mais
profunda depressão. Isso perdoei na hora.
Só não perdôo o Ely Coimbra
por esse seu último lance: ir trocar versos com o próprio Sílvio
Caldas lá em cima. Mas uma
hora a gente se vê.
²
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras
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