São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

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Rua seduz atleta com dinheiro e status

Êxodo das pistas cresce e preocupa treinadores de atletismo; fenômeno fica mais visível com a chegada da São Silvestre

Até juvenis têm mudado para o asfalto à procura de sucesso rápido, que pode prejudicar evolução e até antecipar aposentadoria

Sérgio Lima/Folha Imagem
Lucélia Peres, destaque da São Silvestre e dos 5.000 m e 10.000 m do país, treina em Brasília


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marilson Gomes dos Santos é o principal nome brasileiro das provas de fundo disputadas em pistas. Seu maior feito, contudo, foi obtido sobre o asfalto.
O título da Maratona de Nova York neste ano encheu seu bolso -US$ 370 mil- e transformou o tímido corredor em celebridade internacional. Também expôs o lado vitorioso de um fenômeno do atletismo do país que nem sempre dá frutos e será visível em São Paulo, no domingo, na São Silvestre.
A cada ano aumenta o número de provas de rua no Brasil -em 2006, foram cerca de 250 apenas em São Paulo. E, atraídos pela vasta oferta, prêmios em dinheiro e facilidade para competir, mais e mais corredores deixam as pistas.
A maioria, no entanto, não chegará a ser um Marilson, nem pelos resultados nem pelos cuidados com a carreira.
"Quem começa mais cedo e faz muitas provas para ganhar dinheiro se aposenta antes da hora. A pista deixa o atleta mais veloz, dá mais noção de ritmo, é muito importante. É um caminho para a rua. Hoje alguns começam a correr direto no asfalto, até os mais jovens", diz o treinador Nelson Evêncio.
A confederação brasileira chegou a criar um circuito de fundo (a partir de 3.000 m), com premiação, para resgatar atletas e o prestígio das provas.
Marilson não migrou de vez para a rua. Esse tipo de competição, aliás, não é sua prioridade. Neste ano, ele correu só quatro vezes no asfalto. Ganhou todas. E conseguiu quebrar os recordes brasileiros dos 5.000 m e 10.000 m, provas que deseja disputar no Pan-07.
Para Adauto Domingues, seu técnico, o corredor é exemplo de que, bem orientado, o atleta pode se dedicar aos dois pisos.
"Quando você avalia alguém bom na pista, ele certamente vai ser sair bem na rua. O contrário não acontece", diz.
A facilidade para correr também é um atrativo. As provas de rua se espalham por diferentes cidades. Basta se inscrever.
Foi assim que começou a carreira de Sérgio Celestino da Silva, 22. Natural de Tupã (interior de São Paulo), ele decidiu correr há cinco anos para ver se conseguia ganhar uma medalha. Para a primeira prova, treinou meia hora por dia durante uma semana. Ficou em quarto.
O dinheiro o fez vislumbrar a chance de deixar a lavoura de café. No último ano, sob orientação do técnico do Pinheiros, porém, mudou-se para a pista.
"No começo, era o pior serviço do mundo. Você tem que manter a concentração o tempo todo, é monótono", afirma.
Silva começou a mudar de idéia com os resultados, ficou em terceiro nos 10.000 m do Troféu Brasil e venceu os Jogos da Lusofonia (entre países que usam a Língua Portuguesa).
As corridas de rua do Brasil não pagam tão bem quanto as do exterior. Mais tradicional delas, a São Silvestre, por exemplo, premia do primeiro ao décimo colocados. O valor para o campeão é o mesmo há três anos -R$ 21 mil. A visibilidade, no entanto, ajuda a incrementar esses valores.
"Várias provas passam na TV. Nas ruas, está cheio de gente, vencer dá mais status. Isso chama a atenção dos empresários", diz Lucélia Peres, 25, uma das favoritas ao ouro no dia 31.
Mas são poucos os que atingem níveis como o de Marilson.
"Eu via os caras correndo na TV e achava que eles estavam ficando ricos. Não fiquei. Mas agora sei o que tenho de fazer para estar entre os melhores", diz Gladson Barbosa, 27, que tem paixão por correr na rua, mas, antes, busca espaço nos 3.000 m com obstáculos -hoje é o quinto do ranking.








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