São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

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FUTEBOL

Documento mostra também que estado de conservação era precário

Laudo aponta superlotação em São Januário na decisão

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) confirmou que o estádio de São Januário estava superlotado e em precário estado de conservação na decisão da Copa João Havelange, entre Vasco e São Caetano, no dia 30 de dezembro de 2000.
O presidente do Vasco, Eurico Miranda -na ocasião vice-presidente de futebol-, e o então vice-presidente de patrimônio do clube, José Joaquim Lima, devem ser indiciados nesta semana como responsáveis pelo acidente que feriu 210 pessoas, após a queda de parte do alambrado.
A acusação será a de "lesão corporal culposa (sem intenção)", cuja pena varia de dois meses a um ano de detenção, podendo ser aumentada por ter afetado no mínimo 135 pessoas -que prestaram queixa à polícia. Dados da Defesa Civil do Rio indicam que houve 210 feridos.
Em depoimento à polícia, o então presidente vascaíno, Antonio Soares Calçada, apontou Eurico e Lima como responsáveis pela organização do jogo e pela manutenção do estádio, respectivamente. Questionado pela Folha se os dois seriam indiciados, o delegado José Renato Torres, que preside o inquérito, apenas sorriu.
"Por enquanto, não posso afirmar nada. Recebi o laudo do ICCE hoje e vou analisá-lo com calma", disse Torres.
De acordo com o laudo, havia pelo menos 5.231 pessoas a mais do que a capacidade máxima de público do estádio. O público oficial do jogo foi de 32.537 pessoas.
O documento estabelece duas estimativas para a lotação de São Januário, de acordo com critérios determinados pelo "Código de Segurança contra Incêndio e Pânico", da Defesa Civil do Rio:
1) 20.435 pessoas, tomando-se em conta que dois indivíduos ocupariam, sentados, um metro quadrado.
2) 27.306 pessoas, levando-se em consideração que três pessoas ficariam em pé em um metro quadrado.
Em ambos os casos, portanto, estaria constatada a superlotação.
A Fifa recomenda que o público em um estádio assista aos jogos sentado. Baseando-se nessa recomendação, portanto, havia pelo menos 12.102 pessoas a mais em São Januário na final da Copa JH.
A polícia suspeita, ainda, que o público presente em São Januário era superior ao oficial -32.537 pessoas. O Vasco estimava que a capacidade de São Januário fosse de cerca de 35 mil pessoas.
O estado de conservação do estádio era "precário", disse o diretor do ICCE, Sérgio Henriques, que dirigiu a perícia. Para ele, o grau de corrosão evidencia que não era feita uma manutenção eficaz havia pelo menos um ano.
"O estádio não é seguro. Havia corrosão em vários pontos da grade, infiltrações e completa irregularidade na construção da grade. Estava tudo errado."
De acordo com Henriques, "a grade funciona como uma armadilha", por ter trechos pontiagudos de cerca de 70 centímetros voltados para as arquibancadas, e não é de contenção. "Se for, rasgo o meu diploma", disse.
Em depoimento, Lima contou que havia manutenção periódica, disse o delegado Torres.
Torres disse que encaminhará o laudo à Defesa Civil, à prefeitura do Rio e à federação de futebol do Estado fluminense. Caberá a esses órgãos determinar se o estádio de São Januário pode voltar a ser interditado para partidas de futebol.
Logo após o acidente, a polícia interditou o estádio para a realização da perícia técnica. Posteriormente, o juiz Moisés Cohen, da 11ª Vara Cível do Rio, determinou a sua interdição judicial, decisão que acabou sendo revogada em segunda instância.
Liberado pela Justiça, o estádio tem sido usado pelo Vasco em jogos pelo Estadual do Rio.


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