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FUTEBOL
Documento mostra também que estado de conservação era precário
Laudo aponta superlotação
em São Januário na decisão
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) confirmou que o estádio de São Januário estava superlotado e em
precário estado de conservação
na decisão da Copa João Havelange, entre Vasco e São Caetano, no
dia 30 de dezembro de 2000.
O presidente do Vasco, Eurico
Miranda -na ocasião vice-presidente de futebol-, e o então vice-presidente de patrimônio do clube, José Joaquim Lima, devem ser
indiciados nesta semana como
responsáveis pelo acidente que feriu 210 pessoas, após a queda de
parte do alambrado.
A acusação será a de "lesão corporal culposa (sem intenção)",
cuja pena varia de dois meses a
um ano de detenção, podendo ser
aumentada por ter afetado no mínimo 135 pessoas -que prestaram queixa à polícia. Dados da
Defesa Civil do Rio indicam que
houve 210 feridos.
Em depoimento à polícia, o então presidente vascaíno, Antonio
Soares Calçada, apontou Eurico e
Lima como responsáveis pela organização do jogo e pela manutenção do estádio, respectivamente. Questionado pela Folha se
os dois seriam indiciados, o delegado José Renato Torres, que preside o inquérito, apenas sorriu.
"Por enquanto, não posso afirmar nada. Recebi o laudo do ICCE hoje e vou analisá-lo com calma", disse Torres.
De acordo com o laudo, havia
pelo menos 5.231 pessoas a mais
do que a capacidade máxima de
público do estádio. O público oficial do jogo foi de 32.537 pessoas.
O documento estabelece duas
estimativas para a lotação de São
Januário, de acordo com critérios
determinados pelo "Código de
Segurança contra Incêndio e Pânico", da Defesa Civil do Rio:
1) 20.435 pessoas, tomando-se
em conta que dois indivíduos
ocupariam, sentados, um metro
quadrado.
2) 27.306 pessoas, levando-se
em consideração que três pessoas
ficariam em pé em um metro quadrado.
Em ambos os casos, portanto,
estaria constatada a superlotação.
A Fifa recomenda que o público
em um estádio assista aos jogos
sentado. Baseando-se nessa recomendação, portanto, havia pelo
menos 12.102 pessoas a mais em
São Januário na final da Copa JH.
A polícia suspeita, ainda, que o
público presente em São Januário
era superior ao oficial -32.537
pessoas. O Vasco estimava que a
capacidade de São Januário fosse
de cerca de 35 mil pessoas.
O estado de conservação do estádio era "precário", disse o diretor do ICCE, Sérgio Henriques,
que dirigiu a perícia. Para ele, o
grau de corrosão evidencia que
não era feita uma manutenção eficaz havia pelo menos um ano.
"O estádio não é seguro. Havia
corrosão em vários pontos da grade, infiltrações e completa irregularidade na construção da grade.
Estava tudo errado."
De acordo com Henriques, "a
grade funciona como uma armadilha", por ter trechos pontiagudos de cerca de 70 centímetros
voltados para as arquibancadas, e
não é de contenção. "Se for, rasgo
o meu diploma", disse.
Em depoimento, Lima contou
que havia manutenção periódica,
disse o delegado Torres.
Torres disse que encaminhará o
laudo à Defesa Civil, à prefeitura
do Rio e à federação de futebol do
Estado fluminense. Caberá a esses
órgãos determinar se o estádio de
São Januário pode voltar a ser interditado para partidas de futebol.
Logo após o acidente, a polícia
interditou o estádio para a realização da perícia técnica. Posteriormente, o juiz Moisés Cohen, da
11ª Vara Cível do Rio, determinou
a sua interdição judicial, decisão
que acabou sendo revogada em
segunda instância.
Liberado pela Justiça, o estádio
tem sido usado pelo Vasco em jogos pelo Estadual do Rio.
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