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Poder público impulsiona ascensão histórica do ABC
Santo André e São Caetano se enfrentam na elite e têm temporada gorda graças a prefeituras
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi São Caetano x Santo André,
mas o primeiro clássico do Grande ABC paulista na história pela
primeira divisão do Estadual, anteontem à noite, bem que poderia
ter sido batizado de Prefeitura de
São Caetano x Prefeitura de Santo
André. Ou de PTB x PT.
Reflexo da evolução crescente
do futebol da região, um oásis em
meio à penúria do futebol paulista, o histórico confronto só foi
possível graças a um modelo de
gestão no qual é impossível distinguir o público do privado.
Oferecendo estrutura e poupando os clubes de custos, além de dividir com eles funcionários públicos graduados, as prefeituras de
Santo André (do PT) e São Caetano (PTB) vêem as equipes de suas
cidades em alta.
O Santo André está na primeira
divisão do Estadual, vai disputar a
Copa do Brasil pela primeira vez e
conseguiu o acesso à Série B do
Brasileiro em 2003. O São Caetano terá mais uma temporada de
grande, jogando a primeira divisão nacional e a Libertadores.
A receita do sucesso passa pelos
cofres públicos. Os times de sucesso do ABC jogam em estádios
municipais, cedidos gratuitamente. Na primeira divisão do Paulista, menos de um terço dos 21 inscritos têm o privilégio de não pagar aluguel nem investir na manutenção do campo próprio.
No clássico de anteontem, tanto
São Caetano quanto Santo André
tinham outros benefícios estatais.
Exigências do Estatuto do Torcedor são bancadas pelas prefeituras. A ambulância à serviço no estádio era do município de São
Caetano. Já a delegação de Santo
André chegou em um ônibus da
prefeitura da sua cidade.
As duas equipes têm suas sedes
sociais e treinam em terrenos cedidos pelos dois municípios.
"É claro que isso não é barato",
diz Celso Luiz Almeida, diretor de
esportes da Prefeitura de Santo
André, que em troca do apoio tem
o nome de projetos seus estampados na camisa do time.
O entrosamento entre clubes e
prefeituras no ABC é tanto que
chega ao ponto de os dirigentes
das equipes serem funcionários
graduados no poder público, situação que poderia causar escândalos em outras áreas.
Além de diretor de esportes da
Prefeitura de Santo André, Almeida é também vice-presidente de
futebol do time homônimo.
No São Caetano a simbiose se
dá em postos mais altos: o presidente Nairo Ferreira de Souza é
secretário de planejamento do
município, onde tem como chefe
o prefeito Luiz Tortorello, presidente de honra do clube.
Nenhum desses dirigentes vê
problemas em servir ao mesmo
tempo prefeituras e clubes.
Os patrocínios privados também têm o dedo público. O Santo
André leva na camisa o nome de
duas empresas que prestam serviços à prefeitura e foram envolvidas no recente escândalo de um
suposto esquema de propinas em
contratos públicos.
Mesmo as eleições municipais
de outubro, que podem mudar o
cenário político das cidades do
ABC, não ameaçam as parcerias.
"Isso não tem nada a ver com
partidos. O clube representa a cidade", diz Almeida, de Santo André, local em que o PT tem um largo predomínio na prefeitura.
Em São Caetano, até a oposição
ao prefeito Tortorello garante a
continuidade do projeto. "Se eleito, não muda nada", diz Anacleto
Campanella Jr., vereador que deve ser candidato do PFL à prefeitura. O político, filho do ex-prefeito que batiza o estádio da cidade,
não teme vantagens eleitorais para o grupo de Tortorello -o próprio Nairo pode ser candidato.
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