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BOXE
Luvas de pelica
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você usa brinco, é?", perguntou, em tom irônico,
Adilson "Maguila" Rodrigues.
A questão era dirigida a Emile
Griffith, ex-campeão mundial dos
meio-médios e médios, que acompanhava ao Brasil seu pupilo, James "Quebra-Ossos" Smith, para
enfrentar o brasileiro, em 1987.
Nativo das Ilhas Virgens, Griffith não se intimidou com o tamanho de Maguila e disparou:
"Sou bicampeão mundial, quem
é você para falar assim comigo?".
Sempre espirituoso, desta vez o
peso-pesado sergipano ficou sem
graça, conforme relatou seu ex e
futuro treinador Sidney Gomes.
Mesmo tendo passado vergonha naquela ocasião, Maguila
saiu no lucro. E muito (o motivo
vocês vão saber mais à frente).
Quanto à resposta de Griffith,
ela pareceu um pouco arrogante.
Mas a verdade é que Griffith foi
um dos maiores campeões de todos os tempos. Na mesma edição
especial da "The Ring" que lista
Eder Jofre como o 19º melhor boxeador dos últimos 80 anos (entre
todas as categorias de peso), Griffith fica com a 33ª colocação.
Durante a carreira que foi de
1958 a 1977, Griffith foi campeão
dos meio-médios (três vezes) e
médios (médios) e "Lutador do
ano" pela "The Ring", em 1964.
Foi considerado o melhor meio-médio do mundo em 61, 62, 63, 64,
65, e peso-médio, em 66 e 67.
Pendurou as luvas com cartel
de 85 vitórias, 24 derrotas e 2 empates e posteriormente foi incluído no Hall da Fama do boxe.
Mas voltando aos episódios recentes de Griffith, ou mais precisamente, àqueles relacionados à
sua visita ao Brasil, quando eu tinha 17 anos e ainda treinava,
achava não ser possível existirem
homossexuais no universo do pugilismo. (Naquela época nem
imaginava o quanto o boxe feminino se tornaria popular).
Até que um colega que o encontrou na academia de pugilismo
do Centro Olímpico em 1987 disse
ter certeza que Griffith era bichão
(não me perguntem como ele podia dizer isso com tal convicção).
Retruquei a meu amigo que em
uma modalidade como o boxe
não dava para ter homossexuais.
"Sim, o boxe é um esporte viril.
Mas não é por isso que não tem
gays nele", analisou meu colega.
Fiquei achando que a história
toda não passava de cascata.
Mas depois algumas pessoas reforçaram o que meu amigo havia
dito sobre Griffith. E até a "The
Ring" já confirmou que existiram
campeões gays (mas sem, convenientemente, nomear ninguém).
Uma das histórias mais famosas sobre Griffith que apontam
para essa direção é sobre sua terceira luta com Benny "Kid" Paret.
Durante eventos promocionais,
muito conturbados, o cubano
chamou Griffith de "maricón"
(homossexual, em castelhano).
Pagou um preço muito caro.
Tal foi a fúria do ataque de
Griffith durante o combate, que
matou Paret no 12º assalto.
O episódio abalou Griffith. Os
seus nocautes diminuíram drasticamente após a tragédia, o que
não impediu que seus feitos fossem reconhecidos por especialistas e, é claro, pelo Hall da Fama.
É confortado por esse conhecimento que Griffith completa 66
anos na próxima terça-feira.
Brasil 1
Popó já pensa em seu segundo título dos leves. O motivo oficial para
ele ir hoje para a Venezuela é uma homenagem da AMB. Mas aproveitará para conversar sobre o cinturão dos leves da entidade, vago.
Brasil 2
O meio-médio Denis de Barros pega amanhã Luiz Carlos dos Santos,
a partir das 20h, no Clube Internacional de Regatas, em Santos.
Brasil 3
Foi cancelada a luta na qual Reginaldo Martins desafiaria amanhã o
campeão dos moscas da OMB, o argentino Omar Narvaez, no Uruguai. Com sete vitórias e um empate, Martins é o 15º do ranking. Mas ele não é o principal mosca do país: é o segundo do ranking nacional.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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