São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

Entre Guevara e Pinochet


O futebol vive de verdades e de mentiras, que são desmentidas e trocadas por novas mentiras


NOS ESTADUAIS , não dá para elogiar as goleadas de grandes times em seus estádios contra tantos fraquíssimos adversários nem se decepcionar com alguns resultados ruins de grandes equipes de Minas e de São Paulo quando atuam fora de casa e em gramados ruins. Os grandes do Rio só jogam em seus campos. Cito apenas esses três Estados, pois não dá para ver bem os outros.
A rica Federação Paulista de Futebol, que se vangloria de ter o melhor Estadual do Brasil, não deveria fazer campeonato com 20 clubes, com fórmula e tabela tão ruins, nem permitir partidas em gramados como o do Ituano.
No fraco clássico paulista, o São Paulo se igualou ao Corinthians. A desculpa de todos os clubes brasileiros para as más atuações é o início de temporada, que vai terminar em datas diferentes para cada clube, de acordo com os resultados. Poucas vezes vi um time grande com uma dupla de atacantes tão inexpressiva como a do Corinthians.
Adriano tem sido tratado como um craque que passa por problemas particulares e que vai recuperar todo o talento no São Paulo. Será que seus problemas não são também técnicos? Será que suas atuações excepcionais na Copa América, na Copa das Confederações e no início na Itália não foram ilusórias? O seu verdadeiro futebol não seria a média de seus melhores e piores momentos?
Por ser alto e finalizar com grande precisão com os pés e com a cabeça, não há dúvida de que Adriano é um excelente atacante. Mas será tão bom como dizem?
O Flamengo merece aplausos pelas partidas que jogou no ano passado, e não pelas atuais goleadas, em casa, contra fraquíssimos adversários. Se quiser ganhar a Libertadores, o time não pode ser forte apenas no Maracanã.
Pelo mesmo motivo, ainda é cedo para dizer que o Botafogo é hoje mais organizado e solidário que o do ano passado. Individualmente, é, com certeza, pior.
Admiro o trabalho de Cuca.
Ele sai da mesmice. Em 2007, o Botafogo jogou bonito, foi quase campeão de tudo e não ganhou nada. Nem por isso Cuca desistiu de sonhar com um futebol ousado e eficiente. Isso é possível.
Sempre gostei mais de equipes ousadas e que dão espetáculo, mas reconheço e elogio as virtudes e a competência de times mais pragmáticos, como o São Paulo de 2007, a seleção brasileira de 1994 e outros. A verdade não está no de que gosto.
Muitos acham que Cuca é um técnico educado, terno e que treinador precisa ser autoritário e mais temido que amado pelos atletas.
Isso é ditadura. Tô fora!
Cuca deveria aprender com Felipão, o treinador de futebol que melhor uniu conhecimentos técnicos e táticos com a observação, a ousadia, a emoção, o afeto, o paternalismo e um comando firme e seguro.
Felipão, que já elogiou o ditador Pinochet, seguiu também as palavras de Che Guevara: "É preciso endurecer sem perder a ternura jamais".
Mas alguns historiadores dizem que o idealista e romântico Guevara, para lutar pelos nobres ideais da Revolução Cubana, teria mandado também matar muita gente, como fez o sanguinário Pinochet. É a contradição humana.


Texto Anterior: Tênis: Falando grosso
Próximo Texto: Estádios impróprios "jogam" em 2008
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.