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Pequim vive turbulência que cercou Seul em 88
Olimpíada sul-coreana teve
ameaça de boicote há 20 anos
DA REDAÇÃO
Protestos quase diários, com
repercussão externa. Ameaça
de boicote às vésperas dos Jogos. Litígio com vizinho. Pressão sobre o Comitê Olímpico
Internacional. Não se trata de
Pequim-2008, mas de Seul-88.
Duas décadas separam as
Olimpíadas. Cenários análogos
as aproximam. Quando foi escolhida sede dos Jogos, em setembro de 1981, Seul estava tecnicamente em guerra com a
Coréia do Norte. A península
foi dividida em Sul e Norte, em
1953, num cessar-fogo assinado
pelos dois lados, após três anos
de luta. Um acordo de paz, tecnicamente, nunca foi firmado.
Embora se afirmassem uma
democracia, os sul-coreanos
eram governados pelo ex-general Chun Doo-hwan, que chegou ao poder em 1979 após sucessão de golpes militares. Em
1981, eleição indireta lhe garantiu mandato de sete anos. Um
presidente escolhido pelo voto,
Kim Dae-jung, só seria empossado meses antes dos Jogos.
A falta de eleições livres e
uma lei marcial que suprimia o
ativismo político eram repudiados pelos demais países.
Tanto que a Coréia do Sul só
mantinha relações diplomáticas com cerca de 60 nações.
Em 1987, na véspera dos Jogos, a pressão sobre os organizadores era grande. Protestos
de estudantes tomaram as ruas
de Seul. Acusavam o governo de
violar os direitos humanos e
prender ativistas políticos.
A economia (11ª do mundo),
baseada no desenvolvimento
agressivo de indústria de alta
tecnologia e computadores, enfrentava dificuldades -o país
recorreu a empréstimo do Fundo Monetário Internacional.
Além dos protestos, a Vila
Olímpica ficava a apenas cerca
de 50 quilômetros da zona desmilitarizada, na fronteira das
Coréias. E a Coréia do Norte
passou a reclamar sistematicamente dos vizinhos. Queria dividir a sede dos Jogos, abrigando algumas competições.
Pressionado internamente
pelo suposto ambiente de insegurança, o então presidente dos
EUA, Ronald Reagan, ameaçou
não enviar a delegação americana a Seul. Os soviéticos replicaram. Ex-diretor de marketing do COI, Michael Payne
descreve em seu livro "A Virada
Olímpica" que um patrocinador dos Jogos chegou a sugerir
que a entidade enviasse "sacos
para cadáveres" a Seul, para o
"caso de alguém precisar voltar
no porão de cargas do avião".
As ameaças não passaram
disso. Entrou em cena uma força-tarefa do COI, que dava seus
primeiros passos para valorizar
a marca dos Jogos. Havia firmado acordos com diversos patrocinadores. Só em direitos de
TV, conseguira US$ 300 milhões com a NBC -valor estratosférico para a época. O governo sul-coreano tratou de reforçar sua imagem. Revogou as
leis marciais, acelerou o calendário de obras olímpicas, promoveu eleições livres.
O COI foi irredutível e não
aceitou dividir os Jogos com a
Coréia do Norte, que, insatisfeita, propôs um amplo boicote,
a ser liderado pela União Soviética. No final, conseguiu o apoio
apenas de Cuba, Nicarágua,
Etiópia, Albânia e Seychelles.
Uma situação diferente das
restrições vividas por Moscou-80 (americanos não participaram) e Los Angeles-84 (países
alinhados ao comunismo não
foram). No final, 159 países participaram dos Jogos de Seul.
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