São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Pequim vive turbulência que cercou Seul em 88

Olimpíada sul-coreana teve ameaça de boicote há 20 anos

DA REDAÇÃO

Protestos quase diários, com repercussão externa. Ameaça de boicote às vésperas dos Jogos. Litígio com vizinho. Pressão sobre o Comitê Olímpico Internacional. Não se trata de Pequim-2008, mas de Seul-88.
Duas décadas separam as Olimpíadas. Cenários análogos as aproximam. Quando foi escolhida sede dos Jogos, em setembro de 1981, Seul estava tecnicamente em guerra com a Coréia do Norte. A península foi dividida em Sul e Norte, em 1953, num cessar-fogo assinado pelos dois lados, após três anos de luta. Um acordo de paz, tecnicamente, nunca foi firmado.
Embora se afirmassem uma democracia, os sul-coreanos eram governados pelo ex-general Chun Doo-hwan, que chegou ao poder em 1979 após sucessão de golpes militares. Em 1981, eleição indireta lhe garantiu mandato de sete anos. Um presidente escolhido pelo voto, Kim Dae-jung, só seria empossado meses antes dos Jogos.
A falta de eleições livres e uma lei marcial que suprimia o ativismo político eram repudiados pelos demais países. Tanto que a Coréia do Sul só mantinha relações diplomáticas com cerca de 60 nações.
Em 1987, na véspera dos Jogos, a pressão sobre os organizadores era grande. Protestos de estudantes tomaram as ruas de Seul. Acusavam o governo de violar os direitos humanos e prender ativistas políticos.
A economia (11ª do mundo), baseada no desenvolvimento agressivo de indústria de alta tecnologia e computadores, enfrentava dificuldades -o país recorreu a empréstimo do Fundo Monetário Internacional.
Além dos protestos, a Vila Olímpica ficava a apenas cerca de 50 quilômetros da zona desmilitarizada, na fronteira das Coréias. E a Coréia do Norte passou a reclamar sistematicamente dos vizinhos. Queria dividir a sede dos Jogos, abrigando algumas competições.
Pressionado internamente pelo suposto ambiente de insegurança, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, ameaçou não enviar a delegação americana a Seul. Os soviéticos replicaram. Ex-diretor de marketing do COI, Michael Payne descreve em seu livro "A Virada Olímpica" que um patrocinador dos Jogos chegou a sugerir que a entidade enviasse "sacos para cadáveres" a Seul, para o "caso de alguém precisar voltar no porão de cargas do avião".
As ameaças não passaram disso. Entrou em cena uma força-tarefa do COI, que dava seus primeiros passos para valorizar a marca dos Jogos. Havia firmado acordos com diversos patrocinadores. Só em direitos de TV, conseguira US$ 300 milhões com a NBC -valor estratosférico para a época. O governo sul-coreano tratou de reforçar sua imagem. Revogou as leis marciais, acelerou o calendário de obras olímpicas, promoveu eleições livres.
O COI foi irredutível e não aceitou dividir os Jogos com a Coréia do Norte, que, insatisfeita, propôs um amplo boicote, a ser liderado pela União Soviética. No final, conseguiu o apoio apenas de Cuba, Nicarágua, Etiópia, Albânia e Seychelles.
Uma situação diferente das restrições vividas por Moscou-80 (americanos não participaram) e Los Angeles-84 (países alinhados ao comunismo não foram). No final, 159 países participaram dos Jogos de Seul.


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