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FUTEBOL
Dois verdes em perigo
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
Justamente o time que desperta menos oposição entre os
cinco brasileiros que estão nas oitavas-de-final da Taça Libertadores da América, o Goiás, é o que
corre mais risco de não seguir
adiante na competição.
Tudo porque acovardou-se em
Quilmes diante do Estudiantes,
ao jogar pelo empate e renunciar
ao ataque.
Parece que os técnicos não
aprendem, e Geninho é reincidente, porque o Goiás perdeu por
2 a 0 depois de ser submetido a
tanta pressão que dois de seus comandados não suportaram e foram corretamente expulsos.
Cozinhar o dono da casa é coisa
para poucos, para o inglês Arsenal, por exemplo.
Que, mesmo assim, só agüentou
o Villarreal, na semifinal da Copa
dos Campeões da Europa, porque
teve sorte em três lances agudos
de gol e na perda do pênalti batido por Riquelme no minuto final.
Como o Goiás não é o Arsenal,
levou o castigo que merecia e dificilmente reverterá o resultado.
Não é muito melhor a perspectiva do Palmeiras, embora por outras razões.
Certamente o São Paulo não o
enfrentará no Morumbi pensando no 0 a 0 que lhe serve.
Porque o time tricolor é melhor
e sabe do esforço que o adversário
fez para sair com a honra mantida do Palestra Itália no meio de
semana. E tem o sentimento de
quem foi injustiçado pela arbitragem de Carlos Eugênio Simon.
Ao Palmeiras restará ser eliminado de cabeça erguida.
O Corinthians por muito pouco
não está na mesma situação, mas,
também, por outros motivos.
O gol salvador de Xavier na derrota diante do River Plate deu todas as condições para o time ir
adiante. Por um triz.
Porque não escondeu as deficiências do alvinegro, embora
prejudicado por uma arbitragem
suspeita de outro Carlos, o paraguaio Amarilla, que, ao que parece, nem mesmo o Grondoninha,
filho do presidente da Associação
Argentina de Futebol e funcionário da MSI, consegue evitar.
Simon e Amarilla estarão na
Copa do Mundo, por incrível que
possa parecer.
E, finalmente, para a tristeza
dos gremistas, o Inter está numa
situação confortável para o jogo
de volta diante do Nacional, no
Beira-Rio. Dos brasileiros, o clube
gaúcho é o que está mais perto da
próxima fase, seguido pelo São
Paulo e, depois, pelo Corinthians.
Únicos, por sinal, invictos dos
nossos times na Libertadores e a
vencer na primeira rodada das
oitavas-de-final, além de ter feito,
com o colombiano Rentería, o gol
mais bonito do torneio até aqui, o
da vitória em Montevidéu.
Se um brasileiro está assegurado na fase seguinte, se o Inter só
não estará se ocorrer um desastre
e se o Corinthians tem tudo para
ser o terceiro, nada disso significa
que estejamos vendo bom futebol
na Libertadores. Ao contrário.
A idéia, que tem aceitação quase geral, de que Libertadores é isso, ganha-se mais com o coração
do que com o futebol, precisa ser
revista.
Porque cada vez que a comparamos com sua irmã européia o
sentimento que bate é apenas o de
uma baita inveja.
Justiça
Independentemente dos efeitos que venha a provocar na vida do
Corinthians, a recente decisão judicial que determina que os sócios
possuem o direito de eleger os conselheiros do clube, se for confirmada em instâncias superiores, mudará o sistema de poder vigente
em nosso futebol. Porque não é só no Parque São Jorge que o coronelismo prevalece para que se dê a perpetuação aos que estão aboletados no poder. Trata-se de um quadro generalizado e que precisa ser
modificado. Como é preciso também que o torcedor modifique sua
atitude passiva e utilize os direitos que o seu estatuto garante sempre
que for tratado como gado. Porque a resignação equivale a aceitar o
tratamento, a exemplo do boi que vai para o corte. Ou seremos mesmo uma nação bovina? Por favor, poupe a minha caixa-postal com a
resposta óbvia.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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