São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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FUTEBOL

Dois verdes em perigo

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Justamente o time que desperta menos oposição entre os cinco brasileiros que estão nas oitavas-de-final da Taça Libertadores da América, o Goiás, é o que corre mais risco de não seguir adiante na competição.
Tudo porque acovardou-se em Quilmes diante do Estudiantes, ao jogar pelo empate e renunciar ao ataque.
Parece que os técnicos não aprendem, e Geninho é reincidente, porque o Goiás perdeu por 2 a 0 depois de ser submetido a tanta pressão que dois de seus comandados não suportaram e foram corretamente expulsos.
Cozinhar o dono da casa é coisa para poucos, para o inglês Arsenal, por exemplo.
Que, mesmo assim, só agüentou o Villarreal, na semifinal da Copa dos Campeões da Europa, porque teve sorte em três lances agudos de gol e na perda do pênalti batido por Riquelme no minuto final.
Como o Goiás não é o Arsenal, levou o castigo que merecia e dificilmente reverterá o resultado.
Não é muito melhor a perspectiva do Palmeiras, embora por outras razões.
Certamente o São Paulo não o enfrentará no Morumbi pensando no 0 a 0 que lhe serve.
Porque o time tricolor é melhor e sabe do esforço que o adversário fez para sair com a honra mantida do Palestra Itália no meio de semana. E tem o sentimento de quem foi injustiçado pela arbitragem de Carlos Eugênio Simon.
Ao Palmeiras restará ser eliminado de cabeça erguida.
O Corinthians por muito pouco não está na mesma situação, mas, também, por outros motivos.
O gol salvador de Xavier na derrota diante do River Plate deu todas as condições para o time ir adiante. Por um triz.
Porque não escondeu as deficiências do alvinegro, embora prejudicado por uma arbitragem suspeita de outro Carlos, o paraguaio Amarilla, que, ao que parece, nem mesmo o Grondoninha, filho do presidente da Associação Argentina de Futebol e funcionário da MSI, consegue evitar.
Simon e Amarilla estarão na Copa do Mundo, por incrível que possa parecer.
E, finalmente, para a tristeza dos gremistas, o Inter está numa situação confortável para o jogo de volta diante do Nacional, no Beira-Rio. Dos brasileiros, o clube gaúcho é o que está mais perto da próxima fase, seguido pelo São Paulo e, depois, pelo Corinthians.
Únicos, por sinal, invictos dos nossos times na Libertadores e a vencer na primeira rodada das oitavas-de-final, além de ter feito, com o colombiano Rentería, o gol mais bonito do torneio até aqui, o da vitória em Montevidéu.
Se um brasileiro está assegurado na fase seguinte, se o Inter só não estará se ocorrer um desastre e se o Corinthians tem tudo para ser o terceiro, nada disso significa que estejamos vendo bom futebol na Libertadores. Ao contrário.
A idéia, que tem aceitação quase geral, de que Libertadores é isso, ganha-se mais com o coração do que com o futebol, precisa ser revista.
Porque cada vez que a comparamos com sua irmã européia o sentimento que bate é apenas o de uma baita inveja.

Justiça
Independentemente dos efeitos que venha a provocar na vida do Corinthians, a recente decisão judicial que determina que os sócios possuem o direito de eleger os conselheiros do clube, se for confirmada em instâncias superiores, mudará o sistema de poder vigente em nosso futebol. Porque não é só no Parque São Jorge que o coronelismo prevalece para que se dê a perpetuação aos que estão aboletados no poder. Trata-se de um quadro generalizado e que precisa ser modificado. Como é preciso também que o torcedor modifique sua atitude passiva e utilize os direitos que o seu estatuto garante sempre que for tratado como gado. Porque a resignação equivale a aceitar o tratamento, a exemplo do boi que vai para o corte. Ou seremos mesmo uma nação bovina? Por favor, poupe a minha caixa-postal com a resposta óbvia.

@ - blogdojuca@uol.com.br


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